Tudo o que precisa de saber sobre o que está a acontecer em Portugal e no mundo.
Enviada de segunda a domingo às 10h30
A esperança que tenho é que, mais do que acusações, exista autorreflexão e um sentido de responsabilidade dos partidos democráticos sobre o caminho a percorrer daqui para a frente.
Já deve estar tão saturado quanto eu de ler sobre possíveis cenários de (in)governabilidade, atribuição de culpas e responsabilidades. Este texto não será sobre nada disso, mas sobre a mensagem e o projeto político que eu gostava que a esquerda construísse daqui para a frente.
Daniel Oliveira, no Expresso, escreveu que, em textos curtos, tentativas de explicar as últimas eleições são sempre incompletas e procuram interpretar o voto de "protesto" à luz do que cada um acha ser a razão para o descontentamento das pessoas. Por outras palavras, é um exercício destinado ao fracasso. Inevitavelmente, a direita culpará o Partido Socialista (PS) pela eleição dos 48 deputados de extrema-direita, enquanto a esquerda (inclusive o PS) apontará o PSD como o principal responsável por André Ventura e as consequências da política de austeridade como a origem do descontentamento. A esquerda à esquerda do PS também apontará o dedo às políticas da maioria absoluta. A esperança que tenho é que, mais do que acusações, exista autorreflexão e um sentido de responsabilidade dos partidos democráticos sobre o caminho a percorrer daqui para a frente.
Para essa reflexão, voltei ao livro da economista Clara E. Mattei, publicado no final de 2022 e intitulado "The Capital Order: How Economists Invented Austerity and Paved the Way to Fascism". A tese fundamental de Mattei é que, historicamente, a ascensão da extrema-direita surge como consequência de crises do capitalismo. Há ainda outra tese que me parece fundamental neste livro e é sobre ela que quero falar hoje. É a ideia de que o fascismo não surge apenas em momentos de desespero ou descrença nas instituições. O fascismo surge e ganha força também quando há uma necessidade de reequilibrar a relação de poder entre trabalho e capital.
Quem tem interesse no crescimento da extrema direita é também quem tem interesse nesta manutenção de poder. Vimos isto acontecer nos Estados Unidos, Argentina, França, Hungria e um pouco por toda a Europa, onde temos projetos políticos de extrema-direita financiados por milionários e grandes grupos económicos. O mesmo acontece em Portugal, com o Chega a ser financiado pelas famílias mais poderosas, como é o caso das famílias Mello e Champalimaud.
Para combater a extrema-direita, é crucial saber quem a financia. No entanto, desde 2021, o Chega não entrega a lista completa de doadores à entidade responsável pela fiscalização das contas partidárias. Esta omissão é ilegal quando os valores doados ultrapassam 25 vezes o Indexante dos Apoios Sociais (12.731 € em 2024) e requer investigação. Em democracia, a transparência na relação entre o poder político e económico não é apenas um detalhe, é fundamental para a preservação das instituições.
Essa preservação cabe também aos partidos democráticos. À esquerda, a prioridade deve ser a reorganização e o diálogo. Sabemos que os tempos que se aproximam serão difíceis, mas são também cruciais para a democracia e para os valores de Abril. É obrigação da esquerda defender esses valores, mas não sozinha. A luta pela democracia, liberdade e igualdade é uma responsabilidade de todos os democratas. A esquerda tem o dever de estar unida, dialogar e negociar com a direita democrática para garantir que não haja retrocessos nos direitos conquistados e no Estado Social.
Fala-se muito dos 1.1 milhões de eleitores que votaram na extrema-direita, mas pouco nos 5 milhões que votaram na democracia. Aqueles que tentam enfraquecer os direitos conquistados no pós 25 de Abril, fazem-no sabendo que quanto mais divididos estivermos, mais difícil será resistir. Assim, quando se sentirem sozinhos, com medo ou sem esperança, lembrem-se de que somos a grande maioria e juntos continuaremos a lutar pelo que já conquistámos e pelo que ainda falta conquistar.
Ouça o episódio desta semana do podcast Mão Visivel:
Se queremos deixar de ter armas de destruição matemática e passar a ter instrumentos de salvação da humanidade, está na hora de perceber o poder da ciência de dados e da inteligência artificial e não deixar o feitiço virar-se contra o feiticeiro.
Ao longo do tempo que vou estudando economia e acompanhando a vida pública, cada vez mais concluo que o bem-estar económico e material da população determina vivamente os resultados eleitorais.
Segundo o Relatório sobre a Evasão Fiscal Global 2024, os países da União Europeia são os que mais perdem com o desvio de dinheiro para paraísos fiscais. Aproveitando a concorrência fiscal entre países, esta é uma forma relativamente simples e rápida de atrair capital estrangeiro e aumentar a receita fiscal de um país.
A violação do segredo de justiça alimenta uma constante mediatização, que leva a julgamentos populares e ao sentimento que "na política são todos uns gatunos". Pior que este sentimento é a sua normal e perigosa conclusão "de que o era preciso era alguém que limpasse isto tudo".
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
A escola é um espaço seguro, natural e cientificamente fundamentado para um diálogo sobre a sexualidade, a par de outros temas. E isto é especialmente essencial para milhares de jovens, para quem a escola é o sítio onde encontram a única oportunidade para abordarem múltiplos temas de forma construtiva.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.