Ao mesmo tempo que as luzes de Natal começam a iluminar as ruas, as montras das lojas enchem-se de descontos para assinalar a Black Friday, aquele que é considerado um dos dias de maior consumo do ano.

Este fenómeno, importado dos Estados Unidos, filho da globalização e da economia de descarte, serve para incentivar ao consumismo caraterístico das compras que marcam o início da época natalícia. É feito com uma elevada dose de marketing, usando a estratégia da escassez artificial que desperta nos consumidores o sentido de urgência, fazendo-os acreditar que estão a aproveitar os melhores descontos do ano. Esta técnica consiste em limitar a disponibilidade de um produto ou serviço para aumentar a procura, sendo que no caso da Black Friday, limita-se o preço do produto a um determinado período de tempo.

Apesar de parecer altamente vantajoso para o consumidor comprar produtos neste dia, nomeadamente numa altura em que o custo de vida tem aumentado significativamente, muitos dos descontos que encontramos na Black Friday são descidas de preço fictícias, que apenas servem para estimular a impulsividade e o consumo desenfreado.

E como uma técnica de marketing nunca vem só, esta data passou a ser assinalada por muitas marcas durante uma semana inteira, apelidando-a de Black Week. Posteriormente, foi também criada a Cyber Monday, para incentivar a compra de produtos online na segunda-feira seguinte à Black Friday e assim os cidadãos continuarem a ter incentivos para não pararem de consumir irrefletidamente.

Para além da perversão de todas estas técnicas, que apenas visam o consumo desenfreado, a acumulação de produtos por parte dos consumidores e o aumento dos lucros das empresas, os impactos ambientais destas datas são particularmente alarmantes. Muitos dos produtos adquiridos durante estes dias são descartados rapidamente, quer por serem itens de baixa qualidade, quer por não atenderem às necessidades reais dos consumidores, o que leva a um aumento significativo dos resíduos. Ao mesmo tempo, o número de emissões de gases com efeito de estufa dispara devido às entregas feitas em casa e ao transporte de mercadorias para abastecer as lojas durante estes dias. Em 2022, estima-se que cerca de 1,2 milhões de toneladas de CO2 foram emitidas devido ao transporte de mercadorias por camiões na Europa durante a Black Friday, sendo este valor 94% superior à média de emissões de transporte de camiões durante uma semana.

No fim do dia, percebemos que este fenómeno apenas serve interesses dos accionistas das grandes empresas. O preço da Black Friday, no entanto, é pago pelos consumidores e pelo planeta, e essa é a verdadeira vitória do consumismo.