Eu sou um dos derrotados do 25 de novembro. E não tenho vergonha disso (Parte I)
António Ramalho Eanes, general e Presidente da República, com a sua assinalável sabedoria e enorme bom-senso, disse que essa é uma data que deve ser assinalada e recordada, mas não comemorada.
O 25 de novembro a que me refiro é, obviamente, o de 1975.
E sim, nessa altura, eu estava no lado que perdeu esse confronto. E, insisto, não tenho vergonha desse facto, que é inelutável.
Tal como não tenho vergonha de ter vivido o PREC, mas disso cuidarei na próxima crónica, a parte II deste texto.
Voltando ao 25 de novembro de 1975, curiosamente, ao contrário do actual governo PSD/CDS, presidido por Luís Montenegro, o comandante operacional das forças militares do lado dos vencedores, António Ramalho Eanes, general e Presidente da República, com a sua assinalável sabedoria e enorme bom-senso, disse que essa é uma data que deve ser assinalada e recordada, mas não comemorada.
As pessoas sérias são assim.
Já agora, clarifico que, apesar de toda a minha assumida anglofilia, sou adepto de um costume francês que não sei se ainda persiste naquele igualmente conturbado país, e que consiste em continuar a atribuir às pessoas que ocuparam elevados cargos de Estado a designação desse cargo.
E é por essa razão, e pelo enorme respeito, admiração e carinho que nutro por ele (e pela Dra. Manuela Eanes), que, apesar de ele não gostar muito que eu o faça, continuo a chamar Presidente a António Ramalho Eanes.
E, o que também é curioso, Mário Soares também não achou graça à designação quando, já após ele ter cessado de exercer essa função, pela primeira vez assim me dirigi a ele. Valeu-me na ocasião a intervenção cheia de bonomia da Dra. Maria Barroso, outra mulher extraordinária a quem Portugal deve muito (e cujos méritos bem deviam ser mais destacados), conhecedora dos costumes franceses.
E o “incidente” terminou com umas boas gargalhadas.
Repito, as pessoas com grandeza verdadeira e que não precisam de se colocar “em bicos de pés” são assim. Quão longe estamos desses tempos e de pessoas dessa envergadura e dessa qualidade. Que lástima.
Ao invés dessas figuras realmente grandes da História de Portugal, os filhos e netos (e sobrinhos, como é o caso do actual ministro da Defesa – que, à moda de Trump, bem gostaria de ser o ministro da Guerra) dos derrotados do 25 de Abril e do 28 de setembro de 1974 e do 11 de março de 1975 – e que, embora dele tenham beneficiado (e de que maneira), não participaram no 25 de novembro de que tanto se reclamam -, querem agora reescrever a História.
Felizmente ainda há pessoas que não perderam as suas memórias e que velam pela Memória.
E é por isso que, pela sua relevância e oportunidade, aqui destaco um seminário organizado pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, tão competentemente presidida pela historiadora e professora universitária Maria Inácia Rezola, ao qual foi dado o título “25 de Novembro 50 anos depois”, e que se irá realizar no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, nos próximos dias 24 e 25 de novembro.
Para que os factos não sejam desvirtuados e distorcidos.
E porque existe mesmo uma verdade objectiva que não podemos deixar que seja obliterada pelas sempre subjectivas percepções.
Claro que podem existir lapsos involuntários. Mas é imperioso que também essas alterações não intencionais sejam corrigidas.
E é isso que agora irei fazer antes de prosseguir, ou seja, quero corrigir um meu involuntário lapso de escrita. Trata-se de um pormenor, mas como reza o ditado, o diabo está nos pormenores.
No meu texto da semana passada consta a indicação de que o incêndio do Reichstag alemão ocorreu no dia 7 de fevereiro de 1933. E o mesmo está escrito na crónica intitulada “O “REICHSTAG MOMENT” NOS EUA”, que foi publicada no passado dia 28 de setembro.
Ora acontece que esse incêndio eclodiu, isso sim, no dia 27 de fevereiro de 1933, uma segunda-feira (de acordo com a Wikipédia, o alarme soou no posto dos bombeiros de Berlim às 21:25 horas desse dia), quando não havia ainda decorrido um mês sobre a data em que Adolf Hitler foi nomeado chefe do governo (Chanceler, ou mais exactamente Reichskanzler) da Alemanha - em 30 de janeiro de 1933.
E o “Decreto do Fogo do Reichstag”, a que também aludo nessas duas crónicas, foi assinado pelo Presidente da República Paul von Hindenburg logo no dia 28 de fevereiro de 1933.
Foram rápidos, os nazis, a dar início ao processo de destruição da pouca democracia que nessa altura ainda restava na República de Weimar. E, se os deixarmos, os fascistas também o serão em Portugal.
Voltando ao meu lapso, pelo qual, naturalmente, me penitencio e peço as maiores desculpas, seja-me permitido esclarecer a que se deveu o mesmo.
E é, de facto, só um lapso porque a falha aconteceu quando estava a escrever a crónica publicada no passado dia 28 de setembro (se eu acreditasse em bruxas e maus olhados, poderia até pensar que se tratou de uma praga rogada por algum ou alguns dos tais familiares dos derrotados no 28 de setembro de 1974), e que foi replicado a 9 de novembro porque, por preguiça, usei na elaboração desse segundo texto o procedimento copiar/colar a partir dessa crónica acerca do “REICHSTAG MOMENT” nos EUA.
Continuando o meu relato justificativo e em síntese, a verdade é que os meus textos eram até aqui escritos na noite que antecede o dia da sua respectiva publicação. Alta noite, acrescento.
Criei esse hábito para poder, se for caso disso, inserir no escrito algum acontecimento ou situação de última hora. Nunca se sabe quando algo importante pode acontecer.
O lado negativo desse meu hábito é que, quando acabava de escrever, estava cansado demais para rever o que havia escrito e o texto era enviado para publicação tal como havia ficado. Neste caso, o 2 ficou não no tinteiro, mas no teclado. Como já aconteceu em outras ocasiões, não terei carregado na tecla com força suficiente (o meu computador já é um bocado antigo e, tenho muita pena, mas não será com a idade que tenho que me irei dar ao trabalho de comprar um novo).
Até agora não me tinha dado mal com essa rotina. Mas agora dei-me e este será o primeiro dos textos que irei rever antes de o remeter para as dedicadas editoras e o dedicado editor que me acompanham neste empreendimento, e cujo trabalho agora publicamente agradeço. Como elas e ele bem merecem.
E, encerrado este esclarecimento, voltemos, então, à tentativa de reescrita da História que está a ser realizada e ao processo de destruição da Democracia que está a ser levado a cabo no nosso país pelos agora confessos saudosista do fascismo do Estado Novo, com a certeza de que há outros que, sendo-o, ainda não o confessaram pública e abertamente essa filiação ideológica como fizeram o André Ventura e os seus e as suas capangas do Chega.
Já foi muitas vezes referido que a História se repete.
Uma dessas pessoas, Karl Marx, afirmou até que, da primeira vez, os acontecimentos assumiriam a natureza de uma tragédia, e na segunda a de uma farsa.
Só se for uma farsa trágica, que também as há.
E o que está a acontecer por todo o Mundo (por exemplo, entre outros que poderiam ser citados, em Gaza e por todo o Médio Oriente, na Ucrânia e na Federação Russa – é que, não obstante ser o invasor, também se morre no território deste último Estado -, e em vários lugares na esquecida África) é bem a demonstração de que o que se passou nas décadas de 1920 e 1930 está-se a voltar a passar nestes desgraçados tempos que correm e nos quais nos foi dado viver.
E só resta a esperança de que será possível evitar a repetição de tudo o que aconteceu entre 1939 e 1945, com a certeza de que é isso que irá suceder se não for invertida esta marcha cega para o abismo que está a ser percorrida sob a batuta de loucos que estão convencidos que é possível sobreviver a uma guerra nuclear generalizada.
Ou mais exactamente, estão convencidos que só “os outros” irão morrer e que os estragos e a destruição provocados à natureza serão coisas passageiras e facilmente reversíveis e revertidas.
São loucos varridos, sem dúvida, mas alguns deles foram eleitos através de procedimentos regularmente estabelecidos nos sistemas democráticos que ainda sobrevivem neste planeta.
O que significa que há muita gente - demasiada - que não consegue perceber essa loucura e que, de forma igualmente suicidária, elege e sustenta esses amantes da guerra e do caos nos órgãos de poder dos Estados.
Ou das Uniões de Estados, como é o caso da União Europeia, cujos dirigentes não directamente eleitos pelos povos europeus se comportam de uma maneira cada vez mais ignóbil, desprezando de uma maneira ostensiva e já criminosa (porque complacente e activamente colaborante - e já não meramente cúmplice - com notórios genocidas e criminosos de guerra, como é o caso dos membros do governo presidido por Benjamin Netanyahu) todos Valores Éticos e Morais que constituem o núcleo fundamental da verdadeira Civilização Ocidental.
Porque, efectivamente, são as lideranças europeias e os xenófobos, racistas, intolerantes e fascistas europeus que estão a destruir a Democracia e o Estado de Direito e, tal como fazem os ditadores de todos os matizes, e muito particularmente aqueles que hipocritamente invocam que estão a agir em nome de Deus, estão a tornar impossível o pleno exercício dos direitos humanos universais por parte daqueles que são os efectivos destinatários desses direitos.
E isso tem não apenas de ser denunciado como também de ser tenazmente combatido.
A luta pela Paz, mas por uma verdadeira paz, assente na concretização no quotidiano das pessoas comuns das regras estabelecidas no Direito Internacional e dos direitos humanos universais, e não uma mera fachada destinada a dar cobertura a miseráveis e perversas negociatas, é, na verdade, a luta pela sobrevivência da Democracia, do Estado de Direito e dos Valores Éticos e Morais que constituem o núcleo fundamental da verdadeira Civilização Ocidental.
E é também a luta pela sobrevivência dos povos, porque uma nova guerra mundial - que é o que aqueles loucos que lideram cegos estão a preparar - terá consequências catastróficas, se não mesmo definitivas para todos os seres humanos. Para todos e não apenas para “os outros”.
A luta continua. A luta é contínua.
Eu sou um dos derrotados do 25 de novembro. E não tenho vergonha disso (Parte I)
António Ramalho Eanes, general e Presidente da República, com a sua assinalável sabedoria e enorme bom-senso, disse que essa é uma data que deve ser assinalada e recordada, mas não comemorada.
Dia internacional contra o fascismo e o anti-semitismo
Os actuais charlatões, que agora até já se atrevem a afirmar que Portugal precisa de “três Salazares”, têm antecessores e antecedentes muito antigos.
Sim, Ventura e o Chega têm mesmo de cumprir a lei porque Portugal não é uma Chegolândia
Ora acontece que, infelizmente, as instituições do Estado, ao seu mais alto nível, são as primeiras a prevaricar.
Eis que eles, impantes de soberba, já confessam o que realmente querem (parte II)
André Ventura disse finalmente aquilo que há tanto tempo ansiava: “Não era preciso um Salazar, eram precisos três para pôr o país em ordem”. Resta saber se esse salazarista conhece a fábula da rã que queria ser grande como um boi.
Eis que eles, impantes de soberba, já confessam o que realmente querem (parte I)
E essa gente está carregada de ódio, rancor e desejos de vingança, e não esquecem nem perdoam o medo e a humilhação que aqueles seus familiares (e, em alguns casos, eles próprios, apesar de serem, nessa altura, ainda muito jovens).
Edições do Dia
Boas leituras!