Proteção parental excessiva desprotege o desenvolvimento das crianças
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Para ultrapassar as situações de excesso de proteção por existência de "medo" e "perigos", os adultos deverão educar-se pela tomada de consciência dos seus comportamentos demasiadamente intrusivos e dar liberdade de as crianças poderem, por direito próprio, ter acesso a desafios e situações de risco em espaços diversos.
Somos animais que no seu desenvolvimento necessitam de grande proteção parental, especialmente nas primeiras idades. A proximidade garante segurança nas primeiras aquisições psicomotoras, linguísticas, afetivas, emocionais e interativas. A imaturidade do ser humano no seu nascimento, apresenta muitas vantagens no desenvolvimento humano a curto, médio e longo prazo. Uma infância longa para obter a maturidade necessária para alcançar idade adulta, é uma condição fundamental para se obter as competências necessárias para se ter capacidade de iniciativa, adaptação, independência, resolução de problemas, socialização e realização pessoal e profissional.
A relação entre proximidade (segurança) e distância (autonomia) no desenvolvimento humano, implica a existência da família com um comportamento equilibrado, estável e com a capacidade de uma vinculação afetiva e saúde relacional ao longo das diversas fases de desenvolvimento da criança. Todos os pais querem tudo de bom para os seus filhos. No entanto, as circunstâncias de vida familiar, escolar e laboral têm vindo a alterar-se de uma forma substancial nas últimas décadas, através de vários constrangimentos relacionados com a ausência de mobilidade autónoma, falta de contacto com a natureza, tempo de brincar livre, dependência digital, diminuição de conhecimento e exploração do espaço público, aumento de sedentarismo e obesidade, confronto com situações de risco (etc.), que impedem as crianças de viverem experiências formais e informais que permitam, em muitos casos, de ter uma evolução equilibrada em termos de sucesso escolar e saúde física, emocional, mental e social.
O "medo" apoderou-se do comportamento dos pais de uma forma muito preocupante nos últimos anos, tornando-se em muitas circunstâncias, modos patológicos e obcecados na proteção excessiva dos filhos em que pretendem ter um controlo em todos os aspetos da sua vida (pais helicóptero, superproteção, vigilância e supervisão ansiosa, etc.). Estes "medos" desenvolvido nas culturas parentais têm várias origens, mas muito centrados na perda das suas "memórias de infância" (apagão das experiências de liberdade nas suas infâncias), influência das informações dos meios de comunicação social (por vezes são um massacre visual e escrito) e perceção inadequada dos perigos existentes na realidade física e social (acidentes, roubos, pedofilia, insegurança, etc.). É necessário dizer, que estudos científicos têm confirmado que Portugal é um dos países mais seguros do mundo, dos mais visitados (turismo elevado) e que as três principais alterações depois dos anos 80, se situam em três grandes áreas: aumento da circulação e velocidade automóvel com maior ocupação das ruas, passeios, praças e bairros onde as crianças costumavam brincar de forma regular e em segurança (1); desenvolvimento de um planeamento urbano pouco amigo dos cidadãos que diminuiu substancialmente a possibilidade de uso do espaço público (2) e eliminação de corredores verdes (espaços naturais) perto das habitações e projetos imobiliários (3). Estas perceções dos perigos por parte dos pais em relação aos filhos, estendeu-se também aos comportamentos das crianças no contexto escolar e comunitário, criando progressivamente uma "doença crónica" que limita profundamente a saúde metal de pais e filhos. Esta preocupação excessiva dos pais na proteção dos seus filhos, pode ter graves consequências no seu desenvolvimento como a diminuição da autoestima, autoconfiança, vulnerabilidades na saúde física, mental e social. Principalmente estes comportamentos que pretendem facilitar e dar tudo pronto na hora aos filhos, assim como eliminar o tédio e a frustração, eliminam a possibilidade de aquisição de habilidades fundamentais de autonomia, responsabilidade, aprendizagem vivida de experiências muito úteis a aquisições mais complexas posteriores, conhecimento mais assertivo entre o mundo real e virtual, maiores competências físicas-motoras e sociais e mais capacidade de controlo de situações arriscadas, adversas e de aventura.
Necessitamos com urgência de um comportamento parental saudável e responsável, em que o equilíbrio entre dar autonomia (liberdade de ação) e proteção (segurança) se realize sem exceder limites de controlo e manipulação de comportamentos por insegurança ou medo do que deveriam ser "Bons Pais" (Pedro Strech, 2024). Podemos observar estilos de vida parental de muito permissivos ou demasiados autoritários, mas deve-se evitar que diversas tarefas que deviam estar atribuídas às crianças, não sejam substituídas pelos pais: deixar que o erro possa existir; não serem "treinadores dos filhos" facilitando a execução de tarefas domésticas ou lúdicas (ex: substituir os filhos em fases evoluídas na alimentação, vestir a roupa, tomar banho, etc., em ações de caráter lúdico como ajudar a escorregar ou baloiçar as crianças nos aparelhos do espaço de jogo, etc.), fazer os trabalhos de casa, intervir de forma apressada quando se apercebem que podem estar numa situação de risco físico, etc. As crianças gostam da presença dos pais em situações da vida real ou em situações de vida lúdica ou de divertimento e aventura. A mesma situação acontece no espaço escolar (interior ou exterior) com os educadores ou auxiliares da ação educativa. Para ultrapassar estas situações de excesso de proteção por existência de "medo" e "perigos", os adultos deverão educar-se pela tomada de consciência dos seus comportamentos demasiadamente intrusivos (controlo emocional) e dar liberdade de as crianças poderem, por direito próprio, ter acesso a desafios e situações de risco em espaços diversos (habitação, escola e comunidade).
Importa que os pais possam assegurar modelos de supervisão que promovam a liberdade de ação, num modelo de proteção dos filhos de forma adequada às suas caraterísticas individuais, idade, contexto e expetativas de superação:
1-Suavizar sempre que possível a tendência para comportamentos demasiadamente protetores sobre as experiências realizadas pelos seus filhos. Eles gostam da presença dos adultos nos espaços de ação, mas mantendo uma atitude de serenidade, confiança, linguagem apropriada, saber esperar, apreciar quando estão experimentando situações arriscadas ou poder participar quando são solicitados;
2-Saber observar e intervir de forma moderada (não em pânico) em situações de comportamentos considerados inapropriados ou que possam tornar-se negativos para o seu desenvolvimento;
3-Não proibir através de gritos, por regras ditatoriais ou formas de linguagem verbal ou não verbal muito penalizadoras, as experiencias de jogos, brincadeiras ou tarefas quotidianas das crianças em casa ou na escola e que estão vivenciando no espaço, com objetos ou em relação com os seus pares ou mesmo irmãos. Deve sempre que possível, serem capazes de adquirir uma linguagem positiva;
4-Aprender a controlar o medo, ter contenção emocional, saber encorajar, deixar descobrir, explorar, deixar sujar-se (o corpo e a roupa adequada são 100% laváveis), e incentivar as iniciativas realizadas sem as interromper abruptamente e sem critério.
Apesar dos comportamentos parentais deverem ser espontâneos, autênticos, positivos e promotores da segurança dos seus filhos durante o seu desenvolvimento, entende-se que é fundamental estar atento a uma capacidade de autocrítica permanente sobre o bom senso que deve existir entre um estilo de educação parental excessivamente protetor e um estilo promotor de liberdade, responsabilidade, participação e conquista de autonomia. As crianças necessitam de pais que compreendam que o mundo mudou e que necessitamos de assegurar a preparação em novos moldes desta geração de crianças, que vão enfrentar no futuro imensos desafios novos e desconhecidos. Será fundamental que tenhamos todos consciência das consequências sobre os efeitos negativos de uma superproteção parental na vida das crianças.
Proteção parental excessiva desprotege o desenvolvimento das crianças
Para ultrapassar as situações de excesso de proteção por existência de "medo" e "perigos", os adultos deverão educar-se pela tomada de consciência dos seus comportamentos demasiadamente intrusivos e dar liberdade de as crianças poderem, por direito próprio, ter acesso a desafios e situações de risco em espaços diversos.
A gestão e apreciação do tempo, tornou-se uma das maiores dificuldades na nossa vida quotidiana em família, no trabalho, na escola e na comunidade. Esta escravização do tempo está a provocar um enorme sedentarismo corporal, mental e relacional.
O brincar não se institucionaliza. O brincar não é e nem deve constituir-se como uma disciplina curricular nem deve estar sujeita a avaliação. Brincar não é possível escolarizar no desenvolvimento da criança.
Brincar às escondidas é uma forma de civilizar o corpo, ganhar consciência da diversidade humana, obter uma consciência de cultura universal, respeito pelos outros independente da sua condição e resolução de problemas e conflitos com os amigos.
A necessidade de irrequietude na vida das crianças, fundamental no seu desenvolvimento, exige que os adultos tenham maturidade, autoridade e empatia suficiente, para permitir ter a necessária compreensão de espera, para que cada uma delas possa progredir sem pressas e sobressaltos.
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