Sábado – Pense por si

Carlos Neto
Carlos Neto Professor Catedrático (Aposentado e Jubilado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa - FMH-UL)
26 de julho de 2024 às 07:00

Brincar não é uma disciplina curricular na escola

O brincar não se institucionaliza. O brincar não é e nem deve constituir-se como uma disciplina curricular nem deve estar sujeita a avaliação. Brincar não é possível escolarizar no desenvolvimento da criança.

A área da educação tem vindo a ser motivo de grandes reflexões e debates nacionais e internacionais quanto a novas abordagens, estratégias e metodologias que devem ser consideradas na intervenção pedagógica nas primeiras idades. Grandes especialistas na área das ciências sociais e da educação, assim como instituições internacionais (UNESCO, OCDE, UNICEF, OMS, etc.), têm vindo a apresentar fundamentação científica, pedagógica, técnica e filosófica, quanto a alterações e diferentes cenários, (por vezes divergentes e contraditórios), na emergência de um novo paradigma para a escola do futuro. Esta situação é devida a uma vertiginosa transição digital, ecológica (climática, energética, ambiental, etc.), de saúde física e mental e diminuição de qualidade de vida e bem-estar de crianças e jovens. Esta nova realidade, exige a necessidade de regeneração de novas politicas sustentáveis, verdes, solidárias, criação de um "Novo Contrato Social para a Educação do Futuro – UNESCO, 2022)" e segundo uma lógica de se trabalhar em rede, juntos com uma governança coletiva. Especialmente em relação aos primeiros níveis de escolaridade (creche, Ensino Pré-Escolar, 1º e 2º Ciclo), temos assistido ao aparecimento de novas perspetivas pedagógicas centradas em abordagens alternativas de conceber o processo de aprendizagem das crianças, através da valorização de formas mais cooperativas e democráticas na sua participação e concebendo o contexto escolar de forma mais aberta à inovação, inclusão, pedagogia ativa, imersão em novos temas e colocando os alunos como protagonistas em função da sua capacidade de curiosidade e entusiasmo em aprenderem a pensar de forma crítica os fenómenos que as rodeiam. Temos já experiências pedagógicas muito interessantes no território educativo em Portugal, incluindo projetos em escolas públicas. Estou a referir-me a experiências pedagógicas que colocam como prioridade uma visão não tradicional e conservadora do ensino e assumem as ruturas necessárias para a criação de uma escola viva e ativa em que os alunos são convidados a se conectarem com novos saberes, experiências, projetos e numa dinâmica de expandir a sala de aula para o espaço exterior (escola ao ar livre) e descobrir, explorar, observar e recolher dados sobre o conhecimento que pode ser investigado em contato com as caraterísticas do património físico, cultural e artístico da comunidade. Será fundamental que se passe a valorizar como objetivo prioritário da escola, o trabalho de qualidade das aprendizagens dos alunos. Alterar substancialmente o prazer das crianças aprenderem e gostar de estar e deslocar-se para a escola, implica uma mudança de atitude em promover experiências mais ativas e colaborativas, mais consciência dos problemas ambientais, reconhecimento das diferenças individuais, integração cultural, mais relação com a natureza, aumento da mobilidade escolar e urbana autónoma, ultrapassagem de preconceitos relacionados com o risco e maior conciliação entre o tempo familiar, escolar, laboral e de lazer. Nestes níveis de escolaridade, o "motor inteligente" que permite alcançar um ambiente escolar com entusiasmo e participação, reside na existência de uma "atitude e ambiente lúdico" em todo o processo de vida escolar. Aprender através do brincar é uma estratégia muito séria e não pode ser desvalorizada pela comunidade educativa como um mero passatempo ou tempo inútil. O brincar promove intrinsecamente em cada criança uma predisposição motivacional favorável para estar disponível para aprender. Se existir empatia (vinculação afetiva) do adulto e um contexto sedutor de propostas e tarefas, a aprendizagem torna-se mais profunda e melhor assimilada a curto, médio e longo prazo.

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