É caso para dizer que a igualdade aqui não tem lugar, e que os Polícias só têm de aguentar a chacina de uma horda sedenta de sangue que, sem pejo, ousa vestir a túnica do juiz e o traje do carrasco, condenando à fogueira sem direito a defesa, sem direito a contraditório, sem direito a justiça.
Nesta semana testemunhámos, mais uma vez, como é fácil trucidar um pilar fundamental do Estado de Direito e, em concreto, do sistema de Justiça, lançando para trás das costas um princípio constitucional bastas vezes reivindicado, proclamado e hasteado, por entes de magnânima previdência que alegadamente, ao fazê-lo, procuram evitar um julgamento precoce ou um linchamento liminar fundado na atribuição sôfrega de culpa a um qualquer suspeito de crime. E, até aqui, está tudo bem, não fosse o cataventismo que, entretanto, redireciona alguns desses mesmos entes, quem sabe vítreos na análise, e certamente torpes na memória, para não hesitar em vestir de culpa toda a atuação de dois Polícias, concluindo, à saciedade, que estes atuaram em clara dissonância com a lei que juraram proteger, fazendo-o malevolamente dado os seus instintos racistas. É impressionante como de uma assentada só, se esventra a Constituição, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e, para não ir muito mais lá atrás, um dos pilares fundamentais da revolução francesa.
Como é que podemos dizer que defendemos a democracia quando optamos por seguir caminhos típicos de um Estado inquisitorial que pune sem investigar, que julga sem averiguar, que delapida sem questionar. São estes os arautos da democraticidade? Que pugnam por usar o escudo da presunção de inocência, mas apenas quando dá jeito? É caso para dizer que a igualdade aqui não tem lugar, e que os Polícias só têm de aguentar a chacina de uma horda sedenta de sangue que, sem pejo, ousa vestir a túnica do juiz e o traje do carrasco, condenando à fogueira sem direito a defesa, sem direito a contraditório, sem direito a justiça. É esta a justiça [medieval] que propugnamos? É esta a dúvida que queremos lançar? Não só sobre estes dois Polícias, mas sobre todos os demais que têm o nobre encargo de zelar pela nossa segurança, todos os dias, fazendo-o, ouvia hoje dizer, mais de 2 milhões de vezes ao ano, acorrendo, sem hesitar, a pedidos da mais diversa ordem, muitos deles de elevada gravidade e risco. É assim que mostram respeito, querendo arrastar as pessoas para as arengas da ocasião, procurando gerar o caos, sedimentar a dúvida e cultivar o descrédito numa instituição que serve Portugal e as suas pessoas há mais de 157 anos? Pobres os que a atacam, miseráveis os que a usam, ambos pervertidos pelas luzes, ambos seduzidos pela conveniência da espuma, tudo em abono do caos, não da verdade. Aqui impõe-se lembrar o intemporal Voltaire, certamente pouco conhecido nesses meandros, que dizia que "é melhor correr o risco de salvar um homem culpado do que condenar um inocente".
A Polícia é, será, e deverá continuar a ser uma das instituições mais escrutinadas do Estado pois, como o Senhor Diretor Nacional da PSP dizia esta semana, ninguém está acima da lei, mas também ninguém está abaixo dela para que se ponha em crise a instituição que em Portugal, segundo um inquérito da OCDE , mereceu [como já antes tinha merecido] o primeiro lugar como instituição em quem as pessoas depositam mais confiança. Sobressai daqui um laivo de esperança, a de que os nossos concidadãos não são assim tão esquecidos quanto outros, e pouco permeáveis a quem semeia ventos de injustiça, lembrando uns, esquecendo outros, outros Tiagos que infelizmente são apanhados pelo furacão da contestação criminal que curiosamente é normalizada pela hipérbole dos casos, pela incoerência dos indícios, pelo abuso do excesso.
A Polícia de Segurança Pública é a Nossa Polícia, não uma Polícia de alguns, mas uma Polícia de todos.
Em 2022, de cerca de 3 milhões e 600 mil euros foram executados pouco mais de 600 mil euros, representando assim uma miserável taxa de execução de 18%.
Não podemos continuar a almejar uma Polícia forte e respeitada, quando somos os primeiros a não respeitá-la, não respeitando os tremendos profissionais que nela trabalham, ajeitando as carreiras de uns, enjeitando as carreiras de outros, gerando assim uma incompreendida iniquidade.
Não há dúvidas que o documento merece um aplauso pelo esforço compilatório, e que os pontos que identifica são, em grande medida cruciais para a resposta securitária que queremos dar.
É caso para dizer que a igualdade aqui não tem lugar, e que os Polícias só têm de aguentar a chacina de uma horda sedenta de sangue que, sem pejo, ousa vestir a túnica do juiz e o traje do carrasco, condenando à fogueira sem direito a defesa, sem direito a contraditório, sem direito a justiça.
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O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.