Vem aí o Milton, o furacão que já quebrou vários recordes
Irá atingir a Flórida e o México e já alimenta teorias da conspiração. Mais de um milhão de pessoas foram aconselhadas a saírem das suas casas, num estado em que o governador não atende o telefone a Kamala Harris.
Vem aí um furacão que já quebrou vários recordes. Prevê-se que o Milton atinja a península de Yucatán, no México, esta terça-feira e chegue à Flórida, nos EUA, no dia seguinte. Traz ventos de 250 km/h, uma subida do nível das águas entre 2,4 e 3,6 metros em Tampa Bay (casa de três milhões de pessoas) e forte precipitação.
A velocidade dos seus ventos torna-o um dos poucos furacões a conseguir rivalizar com o Allen, que em 1980, registou rajadas com 306 km/h junto à fronteira entre os EUA e México, aponta o The New York Times.
Mais de um milhão de pessoas foi aconselhada a sair e Kamala Harris, a vice-presidente dos EUA, apelou a que a população respeitasse as ordens de evacuação devido à força prevista para este furacão, que chega à Flórida duas semanas depois de a zona ter sido atingida pelo Helene. Cerca de 230 pessoas morreram.
O Milton já atingiu o nível máximo na escala de Saffir-Simpson, 5, mas diminuiu na manhã de terça-feira para nível 4. O governador Ron DeSantis – cujo assessor disse que não estavam a atender o telemóvel à vice-presidente Kamala Harris – disse aos jornalistas que o furacão era muito mais forte que o previsto há dias. Afinal, é a terceira tempestade de sempre no Oceano Atlântico que mais rapidamente se intensificou de tempestade tropical para furacão categoria 5. Foi em menos de 24 horas.
Se normalmente um furacão tem intensificação rápida caso atinja mais 30 nós em 24 horas, o Milton superou esse valor no dobro, na segunda-feira, 7.
De acordo com as autoridades, são esperadas flutuações na intensidade do Milton, mas os danos catastróficos são inescapáveis: as falhas de energia resultantes deverão durar dias. A sua movimentação de oeste para este também é invulgar, porque tipicamente os furacões no Golfo formam-se no mar das Caraíbas e chegam à terra depois de se dirigirem para oeste e se virarem para norte. Esta mudança tem consequências na sua força.
Alterações climáticas intensificam furacões
Chris Landsea, analista chefe do Centro Nacional de Furacões dos EUA, explica à agência Associated Press que um furacão completamente desenvolvido liberta energia térmica equivalente a uma bomba nuclear de 10 megatoneladas a cada 20 minutos: trata-se de mais do que toda a energia usada em qualquer momento pela Humanidade.
Agora, as alterações climáticas podem piorar os furacões. O aquecimento dos oceanos confere-lhes mais energia e transporta mais água para a atmosfera que acaba por regressar à terra em forma de chuva, alerta Chris Field, diretor do Instituto do Ambiente de Stanford Woods.
Ao longo da História, não faltam tentativas de controlar os furacões. Também à Associated Press, Jim Fleming do Colby College descreveu que em 1947, a empresa General Electric e o exército norte-americano estudou o lançamento de gelo seco para enfraquecer um furacão, mas não funcionou.
Nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado, o governo dos EUA também apostou no Project STORMFURY, cuja ideia era alterar o olho do furacão – uma zona calma no centro da tempestade – de forma a torná-lo maior, mas mais fraco. Contudo, os testes provaram-se inconclusivos e que mostraram que mais pessoas podiam ficar em perigo.
Veja aqui o olho do furacão Milton, neste vídeo dos "Caçadores de Furacões" da Associação Nacional do Mar e da Atmosfera, a bordo do avião Miss Piggy.
E lançar uma bomba nuclear a um furacão? As agências de furacões e meteorologia dos EUA foram questionadas, mas não há bombas fortes o suficiente e criar-se-iam problemas relacionados com a radioatividade.
Furacão Milton até alimenta teorias da conspiração
Depois do Helene e em período pré-eleições presidenciais dos EUA, na Internet há quem alimente teorias como a de o governo ter direcionado o furacão para eleitores predominantemente republicanos, como os do Sudoeste norte-americano.
"Se os meteorologistas pudessem travar os furacões, fá-lo-iam", sublinha Kirsten Corbosiero, professora de ciências ambientais e atmosféricas na Universidade de Albany. "Se pudéssemos controlar o tempo, não quereríamos o tipo de morte e destruição que já aconteceu."
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