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Será que o Irão conseguiu salvar o seu urânio enriquecido?

Diogo Barreto 27 de junho de 2025 às 16:42

Trump assegura que programa nuclear do Irão foi obliterado, mas várias agências referem que urânio enriquecido pode ter sobrevivido e estar agora escondido.

Donald Trump afirmou que aoperação Martelo da Meia-Noitetinha sido um sucesso retumbante e que tinha obliterado o programa nuclear do Irão, outras figuras americanas e europeias avisam que talvez os bombardeamentos não tenham sido assim tão eficazes. A agência da ONU que monitoriza a existência de armas nucleares, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), acredita mesmo que oIrãopossa ter retirado o urânio enriquecido das centrais nucleares e o tenha escondido em parte incerta.

Planet Labs PBC

Nos últimos anos o Irão conseguiu acumular 408 quilos de urânio enriquecido a 60%, nível próximo do limiar de 90% necessário para a conceção de uma bomba atómica. Foi precisamente esta aproximação ao nível de bomba que terá levado os Estados Unidos a atacar o Irão, mesmo que este país pudesse não ter decidido transformar o urânio enriquecido numa arma nuclear. O ataque contra as centrais de Fordow, Natanz e Isfahan foram classificados por Trump como um sucesso tremendo."Durante dezenas de anos, prometi-vos que o Irão não teria armas nucleares e, de facto... levámos o programa nuclear do Irão à ruína", disse Netanyahu, reivindicando "uma vitória histórica".

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do regime de Teerão, assumiu que as instalações nucleares do Irão foram "muito danificadas" pelos bombardeamentos levados a cabo pelas forças dos Estados Unidos e Israel, mas não detalhou os estragos.

Mas ainda no domingo, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, assumiu que as autoridades norte-americanas iam continuar a tentar conversar com as autoridades iranianas a propósito das reservas de urânio, mas esta quinta-feira a administração de Trump reforçou que o Irão não moveu o urânio enriquecido que tinha.

Desde o ataque de domingo, peritos levantaram a possibilidade de o Irão se ter preparado, retirando os cerca de 400 quilogramas de urânio enriquecido a 60% que estavam nas centrais. A Agência Internacional de Energia Atómica, com a qual o parlamento iraniano pretende suspender a cooperação, "perdeu este material de vista a partir do momento em que as hostilidades começaram", afirmou o diretor-geral, Rafael Grossi, à televisão francesa.

Donald Trump, criticou os meios de comunicação norte-americanos que divulgaram um documento confidencial do Pentágono que levantava dúvidas sobre a eficácia dos bombardeamentos dos EUA realizados no domingo. O diretor da agência de informações norte-americana CIA, John Ratcliffe, também confirmou, em comunicado, que, de acordo com "informações credíveis", o programa nuclear de Teerão foi "gravemente danificado pelos recentes ataques direcionados". O relatório, produzido pela Defense Intelligence Agency e citado pelo The Guardian e pela CNN Internacional, refere que os componentes-chave do programa nuclear poderão ser reiniciados em poucos meses uma vez que grande parte do stock iraniano de urânio enriquecido que pode ser utilizado para fazer uma bomba nuclear pode ter sido transferido para outras instalações nucleares secretas mantidas pelo Irão.  

"Isso inclui novas informações provenientes de uma fonte/método historicamente fiável e exato, segundo as quais várias infraestruturas nucleares importantes do Irão foram destruídas e a sua reconstrução deverá levar vários anos", acrescentou a agência de inteligência norte-americana.

A Casa Branca contestou as conclusões da avaliação dos serviços de informação referindo, em comunicado, que "a fuga de informação desta alegada avaliação é uma clara tentativa de menosprezar o presidente Trump e de desacreditar os bravos pilotos que conduziram uma missão perfeitamente executada para destruir o programa nuclear do Irão". 

"Posso dizer-vos que os Estados Unidos não tiveram qualquer indício de que urânio altamente enriquecido tenha sido removido antes dos ataques, como também vi ser erroneamente relatado", disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, à emissora norte-americana Fox News. "Quanto ao que existe no terreno neste momento, está enterrado sob quilómetros e quilómetros de escombros devido ao sucesso dos ataques", acrescentou.

O ataque de domingo foi lançado contra três instalações nucleares iranianas durante a madrugada e envolveu 125 aeronaves norte-americanas, incluindo sete bombardeiros furtivos B-2 Spirit que transportaram 14 bombas GBU-57 e foram ainda disparados 24 mísseis de cruzeiro Tomahawk a partir de um submarino. As bombas GBU-57 são utilizadas para destruir alvos montados no subsolo, como era o caso das infraestruturas nucleares de Fordow e de Natanz. Já o complexo nuclear de Isfahan foi atingido pelos mísseis Tomahawk.

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