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Rússia enfrenta "desafio à estabilidade" depois de motim falhado de Prigozhin

Débora Calheiros Lourenço 26 de junho de 2023 às 13:43

O primeiro-ministro russo pede que o país reaja com unidade: "Precisamos de agir juntos, como uma só equipa, e manter a união de todas as forças reunidas em torno do presidente".

A Rússia está a enfrentar "um desafio à sua estabilidade" mas é importante que permaneça unida e ao lado do presidente Vladimir Putin. Este foi o apelo feito pelo primeiro-ministro esta segunda-feira como resposta aos recentes incidentes com o grupo Wagner.

Kremlin.ru/Handout via REUTERS

Durante o fim de semana o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, iniciou um motim que levou os mercenários a ocuparem um centro de comando estratégico e a dirigirem-se para Moscovo. No entanto, o protesto demonstrou-se breve e o seu fim parece ter chegado sem castigos para os responsáveis.

Apesar de breve, a Rússia ainda está a tomar medidas, esta segunda-feira, para regressar ao normal. O primeiro-ministro Mikhail Mishustin reconheceu, numa reunião do governo transmitida na televisão estatal, que a Rússia enfrentou "um desafio à estabilidade" e defendeu uma forma de reagir: "Precisamos de agir juntos, como uma só equipa, e manter a união de todas as forças reunidas em torno do presidente".

O Comité Nacional Antiterrorista considerou, também hoje, que a situação do país já se encontra estável, o que levou o presidente da Câmara de Moscovo a retirar as medidas de proteção antiterrorista implementadas na cidade durante o fim de semana.

Um grupo de mercenários do grupo Wagner que se encontravam na Ucrâniainiciaram uma marcha em direção a Moscovono sábado mas interromperam-na a 200 km da capital e acabaram por regressar para as suas bases durante a noite.

Yevgeny Prigozhin, líder do grupo paramilitar, que tinha exigido que o ministro da Defesa e o chefe de estado-maior-general do exército fossem demitidos e pedissem desculpa por alegados ataques ao grupo Wagner, acabou autorizado a exilar-se na Bielorrússia depois de negociações mediadas pelo presidente Alexander Lukashenko. O líder do grupo Wagner acusou os dois homens de incompetência e corrupção e garantiu ainda que iria "restaurar a justiça". Porém, desde sábado à noite que o seu paradeiro é desconhecido.

As reações internacionais


A China, importante aliada da Rússia, já demonstrou o seu apoio para com o regime de Putin defendendo a importância da manutenção da estabilidade nacional. Já a Ucrânia e outros estados ocidentais têm apontado as divergências entre Putin e Prigozhin como uma demonstração da turbulência interna russa.

Josep Borrell, representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, defendeu que "o sistema político russo está a mostrar fragilidades e o poderio militar está a rachar", ainda assim a Rússia é o país com um maior arsenal de armas nucleares.

A NATO considerou que este acontecimento demonstra que foi um erro estratégico do Kremlin invadir a Ucrânia e garantiu que a aliança vai continuar a apoiar a Ucrânia durante o tempo que for necessário.

Ainda no sábado, Putin referiu que a rebelião colocou a própria existência da Rússia sob ameaça e prometeu punir os responsáveis, desde então não fez mais comentários públicos ao sucedido. O Kremilin também já garantiu que as mudanças no executivo dependem exclusivamente do presidente e que será muito improvável que Prigozhin consiga qualquer tipo de apoio.

Yevgeny Prigozhin tem 62 anos e é um ex-aliado de Putinresponsável pelo grupo de mercenários Wagner que tem travado as batalhas mais sangrentas da guerra na Ucrânia. No início deste mês recusou colocar as suas tropas sob o comando do Ministério da Defesa e na sexta-feira iniciou uma rebelião após alegar que militares russos mataram alguns dos seus homens através de um ataque aéreo, o que o Ministério da Defesa russo negou.

Foi visto pela última vez no sábado, a afastar-se de Rostov-sobre-o-Don num carro enquanto os populares aplaudiam e os seus militares eram saudados.

Contraofensiva ucraniana 

A Ucrânia afirma que as suas forças já recuperaram cerca de 130 quilómetros quadrados ao longo da linha de frente sul durante a sua contraofensiva, que se iniciou no início deste mês. A vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, disse à televisão estatal esta segunda-feira que existiram poucas mudanças significativas durante a semana passada.

A Rússia continua a negar relatos ucranianos de avanços em torno da cidade de Bakhmut, que se revelou um dos mais importantes e tensos campos de batalha dos últimos meses e que foi conquistada pelos russos precisamente pelo grupo Wagner, que agora se insurgiu.

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