Secções
Entrar

Português investigado por auxílio à imigração ilegal em Itália angariou 55 mil euros

12 de julho de 2019 às 18:43

O pontapé de partida foi dado a 7 de junho com uma campanha de 'crowdfunding' para apoiar a defesa de Miguel Duarte. Os donativos vieram de 2959 cidadãos para quem "salvar vidas não é crime".

Em pouco mais de um mês,Miguel Duarte, o português investigado em Itália por alegado auxílio à imigração ilegal, conseguiu mobilizar milhares de pessoas e impor o tema da criminalização da solidariedade na agenda mediática e política.

O pontapé de partida foi dado a 7 de junho com acampanha de 'crowdfunding' lançada pela plataforma HuBB -- Humans Before Borderspara apoiar a defesa do estudante português, que chegou hoje ao fim às 18:00, com 54.732 euros angariado, cinco vezes mais do que o valor inicialmente pedido. Os donativos vieram de 2959 cidadãos para quem "salvar vidas não é crime".

Em declarações à Lusa, Miguel Duarte agradeceu a solidariedade e sublinhou quePortugalé "único na Europa" apontando o apoio político dado pelo primeiro ministro, António Costa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e vários líderes partidários que se mostraram solidários com o jovem de 26 anos.

"É espetacular, é muito inesperado para nós o apoio que temos tido, ao nível institucional e de pessoas individuais. Tivemos milhares de pessoas que decidiram manifestar o seu apoio não só com contribuições para a campanha, mas também com declarações públicas de apoio à nossa causa", disse o voluntário da organização não-governamental alemã Jugend Rettet.

Considerou ainda "absolutamente decisivo, num caso que é político, antes de ser judicial" poder contar com o apoio da sociedade civil: "Diria que é único na Europa ter a opinião pública tão consensual no apoio a esta causa"

Para Miguel Duarte, o "apoio inequívoco" das mais altas figuras do Estado português "é extremamente importante e, de alguma forma, inesperado" tendo em conta a situação política atual da União Europeia.

Embora o apoio àajuda humanitáriaseja "o mínimo que se espera de um estado democrático", Miguel Duarte acredita que a política europeia face aos refugiados não vai ter alterações significativas com a entrada em funções dos novos líderes.

"Não penso que os resultados tenham sido muito favoráveis nesse aspeto, no entanto acho que conseguimos alterar o rumo das coisas se a sociedade civil se manifestar e indignar. É possível, se nos juntarmos e se nos indignarmos em conjunto, mudar o rumo das coisas", desejou.

Miguel Duarte é um dos dez elementos do Iuventa, um navio pertencente à organização não-governamental (ONG) alemã de resgate humanitário no Mediterrâneo, Jugend Rettet, que está a ser investigado em Itália por alegado auxílio à imigração ilegal, um crime que prevê até 20 anos de prisão.

Em Portugal, o jovem conta com o apoio jurídico 'pro bono' da sociedade Carlos Pinto de Abreu e associados e está a ser acompanhado por uma equipa legal transeuropeu liderada em Itália pelo advogado Nicola Canestrini.

O dinheiro angariado pelo "crowdfunding" vai ser usado para financiar os custos relacionados com este processo legal, desde as custas judiciais ao pagamento de viagens para fazer contactos institucionais e discutir questões legais com os restantes intervenientes, que são de cinco países.

Os tripulantes do Iuventa já foram constituídos arguidos, mas ainda não sabem se o caso irá a julgamento.

"Fomos constituídos arguidos há cerca de um ano e estamos à espera que saia uma acusação formal ou que o caso seja arquivado", adiantou.

O caso de Miguel Duarte não é único. Um estudo da ReSOMA (Plataforma Social de Investigação sobre Migração e Asilo), datado de junho, revelou que pelo menos 158 pessoas foram investigadas ou formalmente acusadas por auxílio humanitário em 11 países europeus, entre 2015 e 2018, sobretudo em Itália, Grécia e França.

"O nosso caso não é único, há muita gente numa situação semelhante à nossa e não é só Itália que está a fazer este tipo de acusações. Já houve pessoas presas na Grécia durante meses com acusações absurdas", lamentou.

Aluno de doutoramento em Matemática do Instituto Superior Técnico, o português começou a colaborar com a ONG alemã em 2016 e participou em quatro missões (cada uma com uma duração de três semanas), além de ter estado cerca um mês e meio a ajudar nas reparações do navio num estaleiro de Veneza, Itália.

Miguel Duarte espera ser absolvido e garante que "voltava já amanhã" a uma nova missão se pudesse, embora tenha de aguardar o desfecho do processo.

"A minha participação em projetos de ajuda humanitária vai depender do resultado deste processo legal. É preciso esperar para ver o que vai acontecer. No entanto, no dia em que formos absolvidos vamos pensar seriamente em voltar ao mar. Era esse o nosso trabalho, é isso que sabemos e queremos fazer. Se pudesse voltava amanhã", garantiu à Lusa.

A HUBB vai assinalar o fim da campanha com um novo vídeo para agradecer os donativos.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela