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Porta-voz portuguesa de von der Leyen sob fogo por falta de transparência

Diogo Barreto 14 de janeiro de 2025 às 16:30

A presidente da Comissão Europeia esteve internada no hospital devido a uma pneumonia. Tentativa de encobrimento por parte de Paula Pinho levanta questões sobre a transparência.

Paula Pinho, a porta-voz da presidente da Comissão Europeia, escondeu que Ursula von der Leyen tinha sido hospitalizada devido a uma pneumonia, gerando críticas por falta de transparência no topo de uma instituição que defende o aumento da transparência a todos os Estados-membros. Especialistas em comunicação ouvidos pela SÁBADO concordam que ter mentido vai prejudicar a credibilidade tanto da porta-voz como da própria presidente da Comissão, apesar de reconhecerem que lidar com doenças de clientes é sempre um grande desafio para os profissionais de comunicação.

REUTERS/Johanna Geron

A 3 de janeiro, Paula Pinho disse à Lusa que a presidente da Comissão Europeia "cancelou todos os compromissos externos para as primeiras duas semanas de janeiro" por motivos de saúde, informando que se tratava de uma penumonia. Mas não explicou a gravidade da situação e disse mesmo "não ter informações" quando confrontada com perguntas sobre um alegado internamento hospitalar da presidente, na quarta-feira, dia 8 de janeiro. Ursula von der Leyen foi hospitalizada devido a uma pneumonia durante uma semana a partir de 2 de janeiro, tendo dirigido os trabalhos a partir do hospital. "Esteve em contacto com a sua equipa na Comissão (...) e nunca esteve nos cuidados intensivos", revelou a porta-voz da Comissão Arianna Podestà, em declarações ao jornal online Politico.

A 10 de janeiro, von der Leyen publicou uma fotografia no seu Instagram onde surgia frente a um computador e onde se podia ler: "Casa querida... casa-escritório".

O internamento de von der Leyen durou cerca de uma semana e fez com que tivesse de ser adiada uma viagem à Polónia que marcou o arranque da presidência da União Europeia por este país. Atrasou também a apresentação da sua estratégia económica que estava marcada para dia 15.

Esta segunda-feira, os jornalistas questionaram a porta-voz da presidente, Paula Pinho, sobre a falta de transparência e sobre o que motivou a Comissão a mentir sobre o estado de saúde da sua presidente, depois de confrontada com perguntas diretas sobre o tema. Confrontada, Pinho respondeu: "Demo-vos a informação essencial sobre a saúde da presidente, informando-vos sobre que doença é que a afetava e quão séria era". Este foi o primeiro teste de fogo para Pinho e os jornalistas que acompanham a política europeia já colocam em causa o seu compromisso para com a verdade.

João Gomes de Almeida, especialista em comunicação política, explica à SÁBADO que lidar com a doença de um cliente é sempre um grande desafio para os profissionais encarregues de fazer a sua comunicação. "Este faz-me lembrar o caso de Kate Middleton, a princesa do Reino Unido. A Casa Real britânica tentou esconder a sua doença o que motivou muitos rumores e os jornais até acabaram por pedir desculpa pela forma como lidaram com o seu afastamento da vida pública", recorda Gomes de Almeida. "Mas uma coisa que nunca pode acontecer é mentir. Omitir, tentar desviar a atenção sim, mas mentir é uma linha vermelha que não se pode ultrapassar porque arriscamo-nos a perder a confiança", continua o especialista.

Outros dois especialistas em comunicação confirmam à SÁBADO que mentir sobre o internamento foi uma das piores opções, até porque a maior parte das pessoas tem empatia por doenças de líderes, porque percebem que eles também são humanos.  

Gomes de Almeida acredita, no entanto, que não será a porta-voz a principal prejudicada por esta decisão de mentir. "É sempre mais fácil matar o mensageiro, mas os jornalistas sabem que a ordem veio de cima e a senhora von der Leyen é que fica com o problema da credibilidade afetada nas mãos", conclui. 

Paula Pinho foi escolhida pela presidente da Comissão Europeia para liderar o serviço de porta-vozes do executivo comunitário para 2025. A portuguesa está na Comissão Europeia desde 2000, tendo trabalhado com vários comissários e chegou a ser diretora para a Transição Justa, Consumidores, Eficiência e Inovação na direção-geral da Energia.

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