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Polónia deixa de dar armas à Ucrânia. O que se passa entre os vizinhos?

Diogo Barreto 21 de setembro de 2023 às 13:04

Varsóvia diz que vai concentrar-se na defesa do seu próprio território. Queixa judicial de Kiev contra a proibição da compra de cereais ucranianos estará na base da decisão.

A Polónia vai deixar de fornecer armas à Ucrânia, para se concentrar no "desenvolvimento de arsenal" destinado à proteção do seu próprio território. A notícia foi avançada pelo primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, num momento de particular tensão entre ambos os países, depois da Polónia ter proibido a importação de cereais vindos da Ucrânia, desafiando as diretivas europeias e desencadeando um processo judicial por parte de Kiev. 

REUTERS/Kacper Pempel

"Já não estamos a transferir armas para a Ucrânia, porque estamos agora a equipar a Polónia com armas mais modernas", informou Mateusz Morawiecki, na quinta-feira. "Fomos os primeiros a fazer muito pela Ucrânia e é por isso que esperamos que eles compreendam os nossos interesses", explicou Morawiecki ao canal noticioso polaco Polsat News.

Desde o início da guerra que a Polónia tem sido um dos maiores aliados da Ucrânia na defesa contra a Rússia, tendo também sido um dos países que recebeu mais refugiados, tendo acolhido mais de um milhão de pessoas. 
Segundo o chefe de governo polaco, Varsóvia vai começar a focar-se na sua própria defesa, não podendo dispensar apoio à nação vizinha. 

As tensões entre os dois vizinhos, desencadeadas pela proibição da Polónia às importações de cereais ucranianos para proteger os interesses dos seus agricultores, intensificaram-se nos últimos dias. Em maio, a União Europeia (UE) concordou em restringir as importações de cereais ucranianos para a Bulgária, Hungria, Polónia, Roménia e Eslováquia, procurando proteger os agricultores desses países que culpavam as importações pela queda dos preços nos mercados locais.

Mas na sexta-feira, a Comissão Europeia disse que iria acabar com essa proibição, argumentando que "as distorções do mercado nos cinco Estados-membros que fazem fronteira com a Ucrânia desapareceram". A Polónia, bem como a Eslováquia e a Hungria, anunciaram que não iam aceitar a imposição e que continuariam a recusar que cereais ucranianos fossem vendidos nos seus mercados.

"É claro que respeitamos todos os problemas da Ucrânia, mas para nós os interesses dos nossos agricultores estão à frente", destacou Morawiecki.

Kiev respondeu a esta ameaça anunciando que iria apresentar uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC).

A escalada verbal intensificou-se com o discurso, na terça-feira, do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante a reunião da Assembleia-Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, na qual insinuou que esta decisão abria o caminho à entrada de "agentes de Moscovo" na Polónia.

O chefe do executivo polaco publicou um vídeo nas suas redes sociais em que recordou que o seu país "foi o primeiro a fazer muito pela Ucrânia" e por isso espera que os seus interesses sejam compreendidos e promete defendê-los "com toda a determinação".

Mais tarde, o presidente polaco Andrzej Duda respondeu a estas declarações, dizendo à imprensa que "qualquer pessoa que já tenha participado no resgate de uma pessoa que se afoga sabe que é extremamente perigoso e pode arrastá-la até às profundezas".

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