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Políticas educativas abusivas dos talibãs prejudicam tanto rapazes como raparigas

Lusa 06 de dezembro de 2023 às 07:37

"Os talibãs despediram todas as professoras das escolas masculinas, deixando muitos rapazes a ser ensinados por professores não qualificados ou mesmo a sentar-se em salas de aula sem qualquer professor", denuncia a Human Rights Watch.

As políticas educativas "abusivas" dos talibãs estão a prejudicar tanto os rapazes como as raparigas no Afeganistão, de acordo com um relatório da organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) hoje publicado.

REUTERS/Naseer Ahmed

No relatório documentam-se as políticas e práticas dos talibãs, desde que tomaram o país em agosto de 2021, que estão a comprometer a educação dos rapazes afegãos: "Isso inclui a demissão de professoras, o aumento do uso de castigos corporais e mudanças regressivas no currículo".

"Os talibãs estão a causar danos irreversíveis ao sistema educativo afegão, tanto para os rapazes como para as raparigas", disse a investigadora assistente dos direitos das mulheres na Human Rights Watch e autora do relatório, Sahar Fetrat.

"Ao prejudicar todo o sistema escolar do país, correm o risco de criar uma geração perdida, privada de uma educação de qualidade", acrescentou, citada num documento no qual se sublinha que, "embora os talibãs não tenham proibido a educação dos rapazes depois do sexto ano, como fizeram com as raparigas e as mulheres, as suas ações prejudicam o acesso à educação de todas as crianças e jovens adultos".

Para elaborar o documento, a ONG entrevistou à distância 22 rapazes do 8.º ao 12.º ano, bem como cinco pais de alunos do mesmo ano, nas províncias de Cabul, Balkh, Herat, Farah, Parwan, Bamiyan, Nangarhar e Daikundi, entre junho e agosto de 2022 e março e abril de 2023.

"Os talibãs despediram todas as professoras das escolas masculinas, deixando muitos rapazes a ser ensinados por professores não qualificados ou mesmo a sentar-se em salas de aula sem qualquer professor", denuncia-se.

"Os rapazes e os pais descreveram um aumento preocupante da utilização de castigos corporais, incluindo funcionários que batem nos rapazes perante toda a escola por infrações relacionadas com o corte de cabelo ou o vestuário ou por terem um telemóvel", ao mesmo tempo que "eliminaram disciplinas como artes, desporto, inglês e educação cívica, provocando um declínio na qualidade do ensino", segundo a HRW.

Por outro lado, no relatório salienta-se que "a discriminação sistemática (…) contra as mulheres e as raparigas - da qual a proibição de as raparigas e as mulheres estudarem é apenas um aspeto - está também a ter efeitos nocivos nos rapazes, nomeadamente ensinando-lhes normas de género nocivas e exercendo uma maior pressão para que sejam os únicos provedores financeiros das suas famílias".

"O agravamento da crise humanitária e económica no país tem exigido cada vez mais que os rapazes trabalhem para sustentar as suas famílias, obrigando muitos a abandonar a escola. Os rapazes debatem-se cada vez mais com ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental, num contexto em que os serviços de saúde mental são escassos", acusaram os autores do documento.

A ONG defendeu ainda que "o uso da violência para punir crianças causa dor e sofrimento desnecessários, é degradante e prejudica o desenvolvimento, o sucesso escolar e a saúde mental das crianças".

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