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Mulher violada por mais de 80 homens com ajuda do marido diz que quis morrer quando soube

Débora Calheiros Lourenço 05 de setembro de 2024 às 21:41

Gisèle Pélicot afirmou que mal se reconheceu nas imagens e que estava completamente imóvel, recordando: "Eles olhavam para mim como uma boneca de pano, como um saco de lixo".  

Gisèle Pélicot tem hoje 72 anos e durante uma década foi violada por mais de 80 homens que eram convidados pelo seu marido. O julgamento está agora a decorrer em França e a vítima afirmou que foi "sacrificada" e tratada "como uma boneca de pano", uma vez que era mantida drogada para que ocorressem as violações. 

REUTERS/Manon Cruz

A francesa considerou que a polícia lhe salvou a vida quando começou a investigar o computador do seu marido, Dominique Pélicot, em novembro de 2020, depois de um segurança de um supermercado o ter visto a tentar filmar duas jovens por baixo das saias.  

Durante a investigação a polícia encontrou um arquivo denominado como "abusos" que continha mais de vinte mil imagens e vídeos de Gisèle a ser violada.  

O caso está agora a ser julgado e esta quinta-feira, 05, foi o dia da vítima depor. Gisèle relatou o momento, em novembro de 2020, em que a polícia lhe mostrou pela primeira vez as imagens: "O meu mundo desabou. Para mim, tudo estava desabando, tudo o que tinha construído ao longo de 50 anos". A francesa afirmou que nesse momento teve vontade de morrer. 

A mulher afirmou que mal se reconheceu nas imagens e que estava completamente imóvel, recordando: "Eles olhavam para mim como uma boneca de pano, como um saco de lixo".  

"Quando se olha para aquela mulher drogada, maltratada, como uma pessoa completamente morte numa cama. É claro que o corpo não está frio, está quente, mas é como se eu estivesse morta", relembrou afirmando ainda que violação não era uma palavra suficientemente forte para o que se tinha sucedido. 

Gisèle partilhou com o painel de cinco juízes que só teve coragem de assistir às filmagens daquelas "cenas de horror" em maio deste ano. A mulher não sabia que estava a ser drogada, mas relatou que tinha dificuldades em lembrar-se das coisas e de se concentrar, além de ter perdido bastante peso, o que a fez questionar se estaria a ter os primeiros sinais de Alzheimer.  

A vítima renunciou ao seu direito ao anonimato para que o julgamento fosse realizado à porta aberta, algo que afirma estra a fazer "por todas as mulheres" que foram agredidas e drogas e para tentar que "nenhuma mulher sofra isto".  

Esta semana Dominique Pélicot assumiu ser culpado de drogar e atacar a mulher: "Eu adormecia-a, ofereci-a e filmei".  

Segundo a polícia francesa, entre 2011 e 2020 Dominique Pélicot misturou comprimidos para dormir e ansiolíticos ao jantar da sua mulher ou ao seu copo de vinho e convidou homens para abusar de Gisèle na casa do casal em Mazan, na Provença. O contacto com os outros homens era feito através de um fórum online chamado "Sem ela saber", onde os seus membros descreviam a sua preferência por relações não consentidas. 

Durante a sessão no tribunal Gisèle recordou que se casou com Dominique quando ambos tinham 21 e que tiveram três filhos e sete netos. Durante todo o relacionamento eram muito próximos: "Não éramos ricos, mas éramos felizes. Até os nossos amigos diziam que éramos o casal ideal".  

Questionada pelos juízes se os abusos lhe tinham causada problemas ginecológicos, Gisèle disse que sim e que durante a investigação teve de fazer vários exames médicos que revelaram que estava infetada com várias doenças sexualmente transmissíveis. 

Sobre a sua situação atual Gisèle afirmou: "Deixei de ter uma identidade...não sei se algum da me vou reconstruir".  

Os advogados elogiaram a francesa pela sua calma e força demonstrada durante todo o julgamento apesar de considerarem que se encontra "em ruínas".  

Em julgamento, além de Dominique Pélicot, encontram-se cinquenta homens de vários campos da sociedade como um vereador local, enfermeiros, um jornalista, em antigo polícia, um guarda prisional ou um bombeiro, com idades entre os 26 e os 73 anos. Ficaram ainda por identificar mais de 30 homens que também se encontravam nas gravações. 

Muitos dos suspeitos negaram as acusações, afirmando que não sabiam que não estavam a ter uma relação consentida e acusando Dominique de os enganar.   

O julgamento deve ter uma duração de cerca de quatro meses e todos os réus enfrentam uma pena de até vinte anos de prisão se forem condenados por violação agravada.  

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