Papa Francisco sepultado em Santa Maria Maior. 400 mil pessoas estiveram no funeral
As cerimónias começaram às 9h na Basílica de São Pedro, onde se juntaram 400 mil pessoas. Depois, o caixão do jesuíta argentino seguiu num cortejo até à Basílica de Santa Maria Maior, a bordo do papamóvel. O percurso de seis quilómetros foi feito em meia hora, sob um banho de multidão.
A Praça de São Pedro, que acolheu este sábado as exéquias do Papa, começou a encher-se de fiéis quatro horas antes, com muitos a passarem a noite em claro e a lamentar o facto de não existir procissão por Roma. Segundo assessoria de imprensa do Vaticano cerca de 400 mil pessoas acorrerem à Praça, que atingiu o seu limite. Mas muitos mais milhares estiveram nas ruas da cidade no percurso percorrido pelo cortejo fúnebre entre São Pedro e Santa Maria Maior.
A cerimónia fúnebre foi presidida por Giovanni Battista Re, de 91 anos, que é o decano do colégio cardinalício. Será ele também a coordenar o Conclave que deve ser marcado depois de cumpridos os nove dias de luto por Francisco. No funeral estiveram ainda cerca de 5.000 religiosos, entre cardeais, bispos e sacerdotes. Só cardeais estão 220 na Praça de São Pedro.
No início da homilia, Battista Re começou por sublinhar a presença em grande número dos fiéis ao longo dos últimos dias. No velório, mais de 400 mil prestaram homenagem a Francisco - "isto mostra o quão intenso o pontificado do Papa Francisco tocou as mentes e os corações". Lembrou ainda como o Papa mesmo fragilizado fez questão de aparecer no domingo passado na Praça para abençoar os peregrinos na Páscoa. "Apesar da sua fragilidade e sofrimento, o Papa Francisco escolheu percorrer este caminho de entrega até ao último dia da sua vida terrena. Seguiu as pegadas do seu Senhor, o bom Pastor, que amou as suas ovelhas ao ponto de dar a sua própria vida por elas." Depois, lembrou que ele "foi um Papa no meio do povo e atento ao que era novo". Mais uma vez foi exaltada a atenção de Francisco com os excluídos e muitas vezes negligenciados da sociedade.
Isso mesmo voltou a estar vincado no momento da sua sepultura. Francisco pediu para que assistissem à última parte do funeral - o enterro que será privado no interior da Basílica de Santa Maria Maior - alguns dos mais marginalizados da sociedade. São cinco os reclusos que vão estar presentes, bem como um grupo de imigrantes.
Os controlos policiais - onde estão envolvidos cerca de 11 mil elementos das várias forças - começaram dias antes e, durante a manhã, as autoridades italianas intensificaram a vistoria dos peregrinos, mas houve quem tenha passado a noite já dentro do perímetro, como é o caso da portuguesa Joana Santos, que veio do Porto.
"Chegámos ontem, já de noite, e viemos para cá. Ainda não fomos ao hotel, porque não conseguimos ver o Papa na Basílica (onde a urna esteve exposta entre quarta-feira e sexta-feira) e não podemos falhar hoje", afirmou a mulher de 44 anos. "Ele era tudo, ele era a nossa Igreja", desabafou, emocionada e com sinais de cansaço de uma noite sem dormir.
Ao lado, Francesca queixou-se das autoridades do seu país. "Isto está tudo demasiado preso, demasiado organizado. Não faz sentido não haver uma procissão para que nós, os romanos e as pessoas do mundo, se possam despedir finalmente dele".
Após as cerimónias, que começaram às 10h locais (9h em Lisboa), o caixão do jesuíta argentino seguiu num cortejo até à Basílica de Santa Maria Maior. O percurso de seis quilómetros será feito em meia hora, segundo a Santa Sé, e passou em vários locais emblemáticos da cidade: o Coliseu, o Foro Imperial, Corso Vittorio Emanuelle, entre outros.
Vai ser percorrido demasiado rápido para que as pessoas o possam seguir a pé, algo que Francesca lamenta. "Seria bonito, seria um imenso sinal de fé, se pudéssemos segui-lo, mesmo de longe. Imagine essa imagem de milhões a seguirem o Papa até à sua última morada. Seria magia", disse. Francesca esteve por duas ocasiões na Basílica de São Pedro para prestar homenagem a Francisco e já foi a Santa Maria Maior para ver o local de sepultamento, mas estava tudo vedado.
O Papa que cativou as pessoas e “abriu portas”
Cerca de 50 chefes de Estado e de uma dezena de monarcas, bem como líderes de organizações internacionais, num total de 170 delegações internacionais, estiveram presentes na cerimónia, que exigiu medidas reforçadas de segurança na região da capital italiana, Roma. Entre os dignitários presentes, incluem-se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu antecessor Joe Biden, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ou os Reis de Espanha, Felipe VI e Letizia.
O chefe de Estado russo, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, foram dos poucos líderes internacionais ausentes.
Portugal esteve representado pelas três mais altas figuras do Estado - o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro -, bem como pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Na cerimónia na Praça de São Pedro, os líderes mundiais ficaram sentados por ordem alfabética, com os lugares da frente reservados para as autoridades italianas, nomeadamente o Presidente, Sergio Mattarella, e a primeira-ministra, Giorgia Meloni, bem como para Javier Milei, chefe de Estado da Argentina, país natal do Papa.
O ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, falou em "números como nunca se registaram" de pessoas nas ruas da cidade de Roma, adiantando, no final do funeral ainda ser cedo para dar números concretos. Embora as estimativas iniciais apontassem para 200 mil e o Vaticano tenha referido 250 mil só na Praça de São de Pedro.
Nascido como Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e o primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica. A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano.
Notícia atualizada às 16h27.
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