Credit Suisse manteve dinheiro de clientes condenados e suspeitos de crimes
Entidade reguladora dos bancos na Suíça está atenta ao caso. Mais de 100 portugueses figuram na lista de clientes divulgada após uma fuga de informação.
O banco suíço Credit Suisse abriu contas a empresários alvo de sanções, criminosos e acusados de violar os Direitos Humanos. As revelações foram divulgadas após uma fuga de documentos semelhante às dos Panamá Papers, e cujos dados foram publicados em vários meios de comunicação, como o semanárioExpresso, o jornal alemãoSueddeutsche Zeitungou o britânicoThe Guardian. Os documentos contêm informações sobre milhares de contas bancárias e abrangem várias décadas, de 1940 a 2010.
Ao todo, as contas continham 100 mil milhões de dólares (88 mil milhões de euros).
Devido às revelações lideradas pelo consórcio de jornalistas de investigaçãoOrganized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), o banco com sede em Zurique está a ser investigado pela entidade que regula os mercados financeiros na Suíça por suspeitas de infringir as regras relativas ao impedimento de lavagem de dinheiro. Uma das suspeitas que recai sobre o banco é a de ter ajudado elementos da máfia búlgara a lavar dinheiro oriundo do comércio de cocaína, o que negou.
Nos nomes portugueses da lista, contam figuras como os luso-angolanos Álvaro Sobrinho, ex-presidente do Banco Espírito Santo Angola e Hélder Bataglia, ex-administrador da Escom, empresa do grupo Espírito Santo. Os dois partilharam três contas no banco suíço. A lista do Credit Suisse integra mais de 100 nomes portugueses.
O ex-presidente da bolsa de valores de Hong Kong, Ronald Li Fook-shiu, que foi condenado em 1990 por ter aceitado subornos, abriu uma conta no Credit Suisse em 2010. Chegou a ter 59 milhões de francos suíços (cerca de 31 milhões de euros).
Um condenado por aceitar subornos enquanto trabalhou na gigante alemã Siemens, o empresário Eduard Seidel, também tinha contas no Credit Suisse: a condenação ocorreu em 2008 e Seidel manteve as contas abertas até pelo menos à década de 2010.
Stefan Sederholm foi condenado por tráfico humano e também manteve uma conta aberta no Credit Suisse durante dois anos e meio.
O antigo vice-ministro da Energia venezuelano, Nervis Villalobos, os filhos do antigo presidente egípcio deposto Hosni Mubarak, Alaa e Gamal Mubarak, e o rei Abdullah II da Jordânia também estão incluídos na lista de clientes multimilionários. O rei da Jordânia tinha seis contas mas garante que são todas respeitantes à sua fortuna pessoal, e alega que o dinheiro é usado para ajudar a população do seu país. Os filhos de Mubarak afirmam que a riqueza advém das atividades profissionais de sucesso. Quanto a Villalobos, apesar de o Credit Suisse ter sido informado em 2008 das alegações de corrupção que sobre ele pendiam, abriu-lhe uma conta em 2011. Seria encerrada em 2013 e chegou a ter 10 milhões de dólares (8,8 milhões de euros).
Esta segunda-feira, após as revelações da imprensa, o valor das ações do Credit Suisse caiu 3,09%, para um preço unitário de 8,03 francos suíços. É o valor mais baixo registado desde finais de maio de 2020. Em janeiro, o banco já tinha enfrentado uma polémica que levou à demissão do presidente do Credit Suisse Group, o português António Horta-Osório, por ter infringido as medidas restritivas que vigoravam na Suíça contra a covid-19. A demissão, nove meses após Horta-Osório ter assumido o cargo, causou a pior semana do banco na bolsa em 11 meses, à data.
As leis bancárias do Credit Suisse, que são conhecidas por figurar entre as mais secretas do mundo, atraíram durante vários anos muitos multimilionários estrangeiros, o que representa 50% do total dos ativos do banco (cerca de 7,9 trilhões de francos suíços).
O banco reagiu e sublinha que "aproximadamente 90% das contas analisadas estão hoje encerradas ou estavam em processo de encerramento antes da recepção dos pedidos de informação dos jornalistas, e entre elas mais de 60% foram encerradas antes de 2015".
"O Credit Suisse rejeita veementemente as alegações e insinuações sobre as supostas práticas de negócios do banco", disse o banco num primeiro comunicado. "Das contas ativas restantes, estamos confiantes de que as devidas diligências, revisões e outras medidas relacionadas com o controlo foram tomadas de acordo com a nossa estrutura atual. Continuaremos a analisar os assuntos e tomaremos medidas adicionais, se necessário."
O Credit Suisse frisa ainda que as rígidas leis de sigilo bancário da Suíça impedem comentários relacionadas com clientes individuais.
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