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A operação policial mais letal na história do Rio de Janeiro parou a cidade

Diogo Barreto 29 de outubro de 2025 às 12:19

Pelo menos 60 pessoas morreram e mais de 80 foram detidas. Comando Vermelho bloqueou várias vias para travar avanços da polícia.

É a operação mais mortífera de sempre no Rio de Janeiro: pelo menos 60 pessoas morreram, entre as quais quatro polícias, numa operação policial contra o grupo Comando Vermelho. Pelo menos três civis morreram, além de vários membros dos Comandos Vermelhos. Oitenta e uma pessoas foram detidas.
Rio de Janeiro: operação policial resulta em mortes e detenções EPA/ANTONIO LACERDA
Quando a operação começou, nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, desencadeou-se uma batalha campal com membros do Comando Vermelho a usarem armas de fogo de alto calibre e drones com bombas para atacar as autoridades. Usaram autocarros e carros roubados para montar barricadas e impedir o avanço das forças de segurança, bloqueando várias zonas do norte do Rio de Janeiro, incluindo na Avenida Brasil e na Cidade de Deus. A RioÔnibus, empresa responsável pelo serviço, diz que pelo menos 50 autocarros de transporte público foram roubados e informou que teve de alterar os itinerários de 120 carreiras devido aos tiroteios e ao bloqueio das vias. No total foram mobilizados cerca de 2.500 agentes com o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão. No rescaldo da operação, as autoridades contabilizam 60 mortos, entre eles dois polícias civis e dois polícias militares, três civis e mais de 50 operacionais do Comando Vermelho. “Essa é a realidade. Lamentamos profundamente as pessoas feridas, mas essa é uma ação necessária, planeada, com inteligência, e que vai continuar”, afirmou o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, citado pelo portal G1. Cerca de 280 mil pessoas vivem nos complexos do Alemão e da Penha, tendo sido encerradas dezenas de escolas, postos de saúde e estradas para dar lugar à operação. "Peço aos moradores da região que permaneçam em casa enquanto as forças de segurança atuam", apelou o governador Cláudio Castro. Em comunicado, o Governo do Rio de Janeiro garantiu que “todos os agentes das forças de segurança estão em estado de prontidão enquanto a ação integrada nos complexos do Alemão e da Penha é realizada”. "Essa operação de hoje [ontem, terça-feira] tem muito pouco a ver com a Segurança Pública. É uma operação de Estado de Defesa. É uma guerra que está passando os limites (…) que nada tem a ver com segurança urbana. Deveríamos ter um apoio maior e até das Forças Armadas", frisou o governador Cláudio Castro no rescaldo, em conferência de imprensa. Até ao momento, as autoridades apreenderam 71 fuzis, de uso exclusivo das Forças Armadas, duas pistolas e nove motas.

Governo diz não ter recebido pedido de ajuda

O governo federal brasileiro garantiu não ter recebido qualquer pedido de ajuda do governador do Rio de Janeiro para apoiar a megaoperação. “Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro (…) para esta operação, nem ontem, nem hoje, absolutamente nada", disse, em conferência de imprensa, o ministro brasileiro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. Esta reação do governo de Lula da Silva surge depois de Cláudio Castro (do partido de Jair Bolsonaro) ter criticado a falta de apoio do governo federal contra as organizações criminosas. "Infelizmente, desta vez, como ao longo deste mandato inteiro, não temos o auxílio de blindados nem de agentes das forças federais de segurança e da defesa", declarou o governador do Rio de Janeiro. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) declarou-se “horrorizado” com a megaoperação. “Estamos horrorizados com a operação policial em curso nas favelas do Rio de Janeiro, que, segundo relatos, já resultou na morte de mais de 60 pessoas, incluindo quatro agentes da polícia”, escreveu o ACNUDH, na sua conta oficial da plataforma X. De acordo com as Nações Unidas, “esta operação letal reforça a tendência de consequências extremamente mortais das ações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil”.
O Comando Vermelho foi criado em 1979 nas prisões do Rio de Janeiro e é hoje considerada uma das organizações criminosas mais perigosas do mundo. Dedica-se principalmente ao tráfico de drogas e de armas, e o seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do país, especialmente na região da Amazónia. A organização nasceu quando a ditadura militar concentrou nas mesmas prisões delinquentes comuns e membros de grupos de guerrilha com formação política e até militar.
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