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Festival da Canção: os temas mais ouvidos este ano

Este sábado, a RTP transmite a primeira semifinal do concurso. Fomos perceber quais são, este ano, as canções mais ouvidas entre as 20 candidatas, a que soam e quem são os autores.

Gonçalo Correia 22 de fevereiro de 2025 às 11:00
Bruno Colaço / Correio da Manhã

A edição deste ano do Festival da Canção começa oficialmente este sábado, 22, com a primeira semifinal do concurso musical - que elege o representante português no Festival Eurovisão da Canção - a ser transmitida em direto pela RTP1, a partir das 21h.

Na primeira semifinal, que será apresentada por Jorge Gabriel e José Carlos Malato, estarão a concurso as canções Ai Senhor!, de Xico Gaiato, Voltas, de Tiago Sampaio e interpretada por Rita Sampaio, Sobre Nós, de Beato e interpretada por Du Nothin, A Minha Casa, de Marco Rodrigues, Eu Sei que o Amor, de Margarida Campelo, Tristeza, de JOSH, Lisboa, de Capital da Bulgária, Ninguém, de Bluay, Calafrio, de Jéssica Pina, e Adamastor, de Peculiar.

Já na segunda semifinal, que será apresentada no sábado seguinte, 1 de março, por Tânia Ribas de Oliveira e Sónia Araújo, serão apresentados temas como Responso à Mulher, de A Cantadeira, á-tê-xis, de Eu.Clides, interpretada por TOTA, Apago tudo, de bombazine, Rapsódia da Paz, de emmy Curl, Quantos Queres, de Inês Marques Lucas, Medo, de Fernando Daniel, Quem Foi?, de Luca Argel, interpretada pelo autor e por Pri Azevedo, Deslocado, dos NAPA, Cotovia, de Diana Vilarinho e I Wanna Destroy You, de Henka.

Em cada semifinal, apuram-se seis canções de um total de dez concorrentes. Na final, agendada para 8 de março e que será apresentada por Filomena Cautela e Vasco Palmeirim, será eleita a canção vencedora entre 12 finalistas. 

Além dos concorrentes, o Festival da Canção contará com atuações de iolanda (vencedora do festival em 2024), Os Assessores, que convidam Ana Bacalhau, Sara Correia e Selma Uamusse, João Borsch com os convidados Maria João e Huca, Fogo Fogo com a Orquestra das Batukadeiras de Portugal e Expresso Transatlântico com Ana Lua Caiano e The Legendary Tigerman como convidados.

Para perceber quais são as canções mais ouvidas desta edição do festival, decidimos somar o número de plays de cada tema no Youtube e no Spotify - duas das plataformas mais utilizadas em streaming e audição digital de música no País. 

Estas são então as canções mais ouvidas, até ao momento, do Festival da Canção 2025:

1. NAPA - Deslocado

Na liderança destacada das canções mais ouvidas do festival este ano está Deslocado, dos NAPA, banda em tempos conhecida como Men on the Couch. O que é que estes rapazes cantam, afinal, numa canção que no Spotify supera já o meio milhão de plays? A saudade acumulada, o jardim que se vê do azul (do céu), o regresso a casa, a recusa em ser-se um deslocado definitivo ou, melhor dizendo, em ser-se lisboeta ("por mais que possa parecer / eu nunca vou pertencer / àquela cidade"), no meio de um "mar de gente", com um "sol diferente" e um "monte de betão".

Talvez seja melhor traduzir por palavras mais claras: Deslocado é uma declaração de amor à Madeira, de quem veio "de longe", do "meio do mar, no coração do oceano", a expressão cantada da vontade de regressar "à minha casa / ilha, paz, Madeira", uma canção indie-pop elegante, clássica, sonhadora, destes rapazes que já não merecem ser chamados só de "Capitão Fausto da Madeira". Eles são os NAPA e é bem provável que para estes miúdos, fãs de Arctic Monkeys, Red Hot Chilli Peppers, Beatles, Caetano Veloso e Tom Jobim (diz-nos a biografia da RTP), e que em 2019 editaram o primeiro disco como NAPA, Senso Comum, e em 2023 lançaram o disco Logo se Vê, tudo vá mudar depois do Festival da Canção. Daqui por uns meses, vem um disco novo.

2. Fernando Daniel - Medo

"Só consegui ir ao Algarve quando apareci no The Voice - e não foi de férias", dizia Fernando Daniel, há pouco mais de um ano, em entrevista à SÁBADO. Na altura, este bardo da pop romântica, natural de Estarreja, não estava prestes a arriscar-se no Festival da Canção (para uma estrela pop, as expectativas no concurso são sempre altas), estava sim à beira de se apresentar para milhares de fãs na Altice Arena (hoje, MEO Arena) e na Super Bock Arena, dois palcos de peso.

O que leva uma popstar a aceitar o desafio de participar no Festival da Canção, compor um tema novo e ir interpretá-lo ele mesmo ao concurso? Talvez a resposta também a tenha dado nessa entrevista: "Vou preparando terreno para apostar numa carreira internacional. É o meu maior sonho. Tentarei sempre. Se é difícil? É. A pop é o estilo mais mediático e com mais concorrência no mundo inteiro. Qualquer país tem pop. Não será fácil, mas já que tenho a oportunidade de estar vivo, vou usá-la para correr atrás do que quero", dizia.

A Eurovisão é um chamariz apelativo, certamente, e Fernando Daniel quer levar a Basileia, na Suíça, esta balada com contornos épicos, a la Ed Sheeran, em que canta "o medo de ficar sozinho" mas também a decisão de "ser fiel a ti / e encontrar a solução em mim", porque prefere "viver com o medo" a "estar a viver sem ti". Certamente, um fortíssimo candidato à final. No Youtube, o tema é um fenómeno (464 mil plays); no Spotify, nem tanto (88 mil).

3. JOSH - Tristeza

Jovem de 22 anos, nascido em Cascais, JOSH revelou-se ao País no programa The Voice - onde conseguiu ficar no top 10. A biografia da RTP fala de uma origem musical afetiva no novo R&B e na soul, numa "mistura de influências do folk e fado", mas Tristeza revela-se mais uma daquelas baladas com contornos épicos, espetacularmente festivaleiras. Com 208 mil plays no Youtube e 101 mil no Spotify, entra no pódio das mais ouvidas até ao momento - o que a coloca entre as favoritas à final.

4. Henka - I Wanna Destroy You

Uma surpresa ou a confirmação de que a música mais pesada, fora dos arquétipos melodiosos da pop de rádio, tem mais fãs do que se costuma supor? I Wanna Destroy You é a canção, de contornos industriais, com a qual Henka - uma "artista de som intenso e visual único", fã de "Charli XCX, Nine Inch Nails e Bring Me The Horizon" (RTP) - se apresenta aos portugueses no festival, no qual participa não por convite, mas após ter sido eleita em concurso de submissão (candidatura). O impacto no Spotify pode ter sido modesto (74 mil plays), mas no Spotify a canção já ultrapassou as duas centenas de milhar de audições.

5. Peculiar - Adamastor

A fechar o top 5 de canções mais ouvidas do festival está, no momento em que este texto é escrito, Adamastor, canção de Peculiar, mais um marujo a navegar os mares da fusão entre "a tradição" e "a modernidade", que tenta juntar à sua poção festivaleira inspirações de som muito lusitano e identificável com ritmos eletrónicos e industriais do presente.

Na biografia oficial, fala-se em noites passadas "com a avó a ouvir Carlos Paredes e Madredeus, enquanto comia bolachas Maria com chá" e "cantigas do Zeca Afonso que o avô e mãe lhe cantavam", mas também se evoca inspirações internacionais como "Rosalía, Ralphie Choo e Judeline". Aparentemente, a equação resulta. É ver os números.

6. Marco Rodrigues - A Minha Casa

Fadista de sucesso, capaz de pôr um pé em outros géneros musicais, Marco Rodrigues recorre ao piano e a uma balada Disneyniana, a que junta o seu jeito fadista de (bem) cantar, para concorrer ao Festival da Canção. Com pouco impacto no Spotify, plataforma em que o público é tendencialmente mais jovem (e onde tem grandes êxitos, como a sua intepretação de Rosinha dos Limões, o dueto com Marisa Liz Amor em Construção e, acima de todas as outras, O Tempo), o tema já tem quase 100 mil plays no Youtube.

7. Capital da Bulgária - Lisboa

Sofia Reis, mais conhecida no meio musical com o nome artístico com o qual concorre a este Festival da Canção, participa com esta Lisboa, tema sóbrio entre a folk e um rendilhado eletrónico que embala mais do que explode, antes de tudo se desembrulhar num andamento dançante. Um tema, porém, que não está livre de sombras - "Nesta cidade, fomos feitos / para enlouquecer (...) para viver / tenho de sair / de Lisboa" - e que pode bem crescer no festival, quando for ouvida como manifesto geracional:

"Quero poder
comprar uma casa
e viver contigo"

8. Bombazine - Apago Tudo

Precisaram de pouco mais de três anos para chegar ao Festival da Canção - e, se o número de audições for indício de alguma coisa, para se posicionarem bem para chegar à final do concurso da RTP. Banda portuguesa de indie-pop e indie-rock formada por cinco amigos, os bombazine lançaram o seu primeiro mini-álbum (EP) em 2023, no ano passado editaram o álbum completo de estreia, Samba Celta, e este ano aí estão eles, com esta canção de baile nitidamente devedora da herança dos Diabo na Cruz.

9. Diana Vilarinho - Cotovia

Jovem cantora de 27 anos mas já com quase meia década de edições discográficas, venceu cedo a Grande Noite do Fado (2008), amadureceu, lançou um álbum produzido pelo fadista Ricardo Ribeiro e, porventura surpreendentemente, participou no concurso de livre submissão de canções e foi escolhida para o festival sem necessitar de convite. É apontada como uma das vozes mais promissoras da música portuguesa e esta Cotovia revela-se uma canção poderosa de força feminista. Tem feito mais sucesso no Youtube, onde soma já mais de 70 mil plays.

10. Inês Marques Lucas - Quantos Queres

A fechar o top 10 de canções mais ouvidas desta edição, no momento em que este texto é escrito, está Quantos Queres, antiga participante do The Voice que em 2023 editou o seu álbum de estreia, Horas Mortas, e que participou no concurso de candidaturas da RTP. A canção foi escolhida e Inês Marques Lucas aí está, com este tema brincalhão e eletrónico, em alguns momentos a lembrar umas certas tropelias melódicas à moda de Billie Eilish. Nota importante: no TikTok, a canção também está a gerar algum burburinho.

11. Emmy Curl - Rapsódia da Paz

Se a experiência valer de alguma coisa nas semifinais do Festival da Canção, Emmy Curl parte em vantagem. Repetente no concurso, participou pela primeira vez em 2018, como intérprete e ainda com o nome de batismo Catarina Miranda, tendo chegado à final e ficado em segundo lugar com Para Sorrir Eu Não Preciso de Nada. Ei-la agora como Emmy Curl a concorrer com o tema Rapsódia da Paz, canção campestre, eletrónica e difícil de descrever. A fórmula, invulgar, está a funcionar junto do público: 67.000 plays no Youtube, 30 mil no Spotify. 

12. Du Nothin - Sobre Nós

Animada, injetada de pop dançante, Sobre Nós fechava o top 12 - exatamente o número de canções que chegarão à final do concurso da RTP - no momento em que este texto era escrito. Um tema composto por Beato, heterónimo de Bruno Vasconcelos, experiente instrumentista, produtor e compositor convidado para o festival que recrutou o jovem cantor Du Nothin (Duarte Appleton) para interpretar o tema. Uma voz nova para descobrir, a interpretar esta pop dançante, simples e bem-disposto, com cordas sinfónicas a ajudar.

13. Bluay - Ninguém

À beira do top 12, com praticamente os mesmos cliques de Sobre Nós, está Ninguém, de Bluay. Talvez se esperasse mais, do cantor lisboeta de R&B e soul emotiva que abrilhantou os refrães de Faz Bem (dueto de Bluay com Julinho KSD) e Louco (colaboração com Piruka). Não seria estranho, porém, se o teor emotivo, romântico e de coração aberto de Ninguém se tornasse subitamente um êxito. Afinal, os ingredientes para se tornar um hit da pop mais radiofónica estão todos lá. Depois não digam que ninguém avisou.

14. Xico Gaiato - Ai Senhor!

A música portuguesa precisa de mais descentralização? Chamemos Xico Gaiato. O músico e cantor nascido no Fundão, na Beira Interior, candidatou-se ao festival através do concurso de submissão de canções e foi escolhido. Ai Senhor! tem aquele aroma a canção tradicional-futurista que tão trabalhada tem sido nos últimos anos, com sabor a cantares regionais, Andanças e festa tribal de eletrónica, tudo junto num caldeirão.

Um nome a reter para o futuro, já que Xico Gaiato - que gosta de compor com instrumentos da sua região como o Bombo de Lavacolhos, o Adufe e o Pífaro Pastoril (informa a RTP) - está a frequentar o último ano de licenciatura no curso de Canto Lírico na Escola Superior de Música de Lisboa e a preparar um álbum de estreia.

15. A Cantadeira - Responso à Mulher

A 15ª canção mais ouvida era, no momento em que escrevíamos este texto, Responso à Mulher, tema da cantora, instrumentista e escritora de canções Joana Negrão, que em 2024 lançou o seu primeiro álbum editado com o nome artístico A Cantadeira e que se apresenta com este tema em que canta palavras como "clamor", "praga", "bruxa" e "santa". Falta perceber se o feitiço vai resultar.

16. Jéssica Pina - Calafrio

Trompetista e cantora, com pergaminhos no jazz e na pop, Jéssica Pina já viveu experiências musicais raras, como participar na digressão Madame X, de Madonna. É no futuro, porém, que terá os olhos colocados, depois de ter editado um álbum mais jazzístico em 2018 (Essência) e um EP (mini-álbum) de quatro canções, Vento Novo, em 2021.

O novo tema não parece ter suscitado grande curiosidade junto do público logo à primeira (57 mil plays no Youtube, 23 mil no Spotify), mas os primeiros finalistas só se apuram este sábado, na semifinal em que Jéssica Pina vai participar - e Calafrio tem calor sufiicente para convencer júri e telespectadores.

17. Tota - á-tê-xis

Depois de ter chegado à final do Festival da Canção em 2021, com Volte-Face, Eu.Clides convocou um colaborador próximo, Tota, para o ajudar a compor, primeiro, e interpretar, depois, a canção á-tê-xis. O registo tem alguns ingredientes do balanço das canções de Eu.Clides, mas não é imediatamente reconhecível como "tema de Festival da Canção". Apesar de tudo, no Youtube, a canção tem vindo a suscitar alguma curiosidade (50 mil plays).

18. Rita Sampaio - Voltas

A partir daqui as canções aproximam-se todas, em termos de números: Voltas está muito próxima de á-te-xis, como está muito próxima das duas menos ouvidas até agora nas plataformas digitais. O tema é da autoria de Tiago Sampaio, músico, compositor e produtor conhecido no meio indie por projetos como Grandfather's House e St. James Park. Cantado por Rita Sampaio (vocalista dos Grandfather's House), tem um balanço misterioso e envolvente que pode beneficiar da prestação ao vivo.

19. Margarida Campelo - Eu sei que o amor

Durante anos, a voz de Margarida Campelo ouviu-se em discos e concertos de outros (artistas como Bruno Pernadas, Cassete Pirata, Joana Espadinha, Minta & The Brook Trout e até Salvador Sobral, com quem tem um dueto gravado, aplauso dentro). Só em 2023 a instrumentista, compositora e cantora estreou-se em álbuns próprios, com Supermarket Joy. Nesse disco (muito elogiado pela crítica) já mostrava dotes para as baladas em Love Will Never Be Enough.

Agora, Campelo volta às canções de amor, ainda com dúvidas, mas com mais otimismo e menos desamor na lírica. Os números mostram tudo: não é uma canção que conquiste de imediato, mas talvez seja o que os americanos chamam de slow burner. Resta saber se terá tempo para ganhar espaço no coração e nos ouvidos do júri e dos espectadores do festival.

20. Luca Argel e Pri Azevedo - Quem Foi?

"Um hino à imigração e à humanidade" é como Luca Argel, músico e cantor luso-brasileiro radicado em Portugal, descreve Quem Foi?, tema que compôs para o Festival da Canção. Decidiu interpretá-la ele mesmo, mas convidando também a pianista e acordeonista Pri Azevedo. Uma canção muito Luca Argeliana, com uma letra interventiva e premente, certamente muito bem-vinda ao festival, mas também feita de contenção e de uma certa modorra melódica. Chegará para convencer?

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