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Governo mandou alterar contas da Parvalorem para reduzir défice

Maria Luís Albuquerque, que era secretária de Estado do Tesouro, terá pedido à empresa pública para mexer nas contas

O Governo terá mandado alterar as contas da Parvalorem para que os prejuízos fossem menores que do aquilo que eram na realidade, baixando em 150 milhões de euros, revela hoje a Antena 1.

Numa investigação, a rádio estatal avança que a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, enquanto secretária de Estado do Tesouro, pediu para a administração da Parvalorem, empresa pública que ficou a gerir os activos de má qualidade do ex-Banco Português de Negócios (BPN), que mexesse nas contas de forma a que estas revelassem um cenário de perdas mais optimista do que o real, reduzindo os prejuízos reconhecidos em 2012.

Revela a investigação da Antena 1 que, quando Maria Luís Albuquerque soube, em Fevereiro de 2013, que as contas da Parvalorem apresentavam perdas de 577 milhões de euros com créditos em riscos de incumprimento, o que iria engordar o défice orçamental, fez o pedido à administração da empresa pública.

Tal pedido é admitido à Antena 1 pela administradora da Parvalorem Paula Poças, recordando a pergunta da então secretária de Estado: "qual é melhor expectativa quanto à informação que tínhamos às garantias no momento. Nós considerámos que não fazia sentido estar a agravar no momento as imparidades".

No entanto, e de acordo com declarações à Antena 1 de uma fonte que refez o relatório da Parvalorem, a empresa pública fez uma operação contabilística para baixar os prejuízos em 150 milhões de euros, sendo o impacto adiado para exercícios futuros.

Para responder positivamente a Maria Luís Albuquerque, a administração da Parvalorem mudou as contas já auditadas, entregando-as três dias depois após o pedido, adianta a Antena 1.

"Foi uma martelada que demos nas contas, eu nem questionei, as ordens vinham de cima, para recalcular as imparidades de forma a baixar o valor, actuámos dentro da margem que tínhamos", revela à Antena 1 uma das fontes que refez o relatório.

Segundo um documento enviado à tutela, a Parvalorem anuncia: "após o trabalho cirúrgico conseguimos reduzir o valor das imparidades de 577 milhões de euros para 420 milhões de euros".

De acordo com a investigação, no mesmo dia, a empresa recebeu um agradecimento de Maria Luís Albuquerque, referindo que queria uma redução ainda superior, mas a admitir que talvez "não fosse possível melhor".

Na sua peça, a Antena 1 diz que pediu segunda-feira esclarecimentos à ministra das Finanças sobre esta questão, mas ainda não recebem resposta. Contudo, a assessoria de imprensa do Ministério das Finanças enviou um comunicado à rádio pública, onde se lê: "O registo contabilístico de imparidades é função de estimativas de perdas futuras em créditos existentes. As imparidades são avaliadas e validadas pelos auditores das empresas de acordo com os critérios definidos para o efeito e adequadamente reflectidas nas contas." No comunicado citado pela Antena 1, o Ministério adianta: "Refira-se que qualquer materialização ou não dessas perdas é sempre registada nas contas da Parvalorem no momento em que se verificam, com o correspondente impacto nas contas públicas, pelo que não há qualquer manipulação ou ocultação de contas."