Inflação salta para 5,3% em março, a mais alta em 28 anos
INE confirma agravamento do custo de vida em Portugal - na energia o disparo de quase 20% foi o maior desde fevereiro de 1991. Previsão de 2,9% do Governo para a inflação em 2022 posta em causa.
O índice de preços no consumidor em Portugal aumentou 5,3% em março, segundo a estimativa rápida do INE, o valor mais alto desde junho de 1994. A estimativa rápida confirma o agravamento da tendência de subida de preços em resultado da guerra na Ucrânia e do congestionamento das cadeias globais de abastecimento. Houve subidas em todas as categorias agregadas de preços, com destaque para duas com peso no orçamento das famílias: a energia, que regista o maior agravamento de preços desde fevereiro de 1991, e os alimentos.
A taxa de inflação mensal começou a subir de forma sustentada a partir de meados do ano passado, altura em que começou a ser visível a pressão sobre os custos resultante do congestionamento do comércio global e de uma primeira vaga de subida dos preços da energia. A taxa mensal passou de 0,5% em junho de 2021 para 5,3% em março deste ano – em fevereiro fora de 4,2%, o que ilustra a força da tendência de subida.
O choque na energia – um preço que contamina toda a cadeia de produção de bens e de serviços – é o maior em três décadas: o índice de preços relativo aos produtos energéticos disparou 19,78% em março (tinha subido 14,98% em fevereiro). O custo recorde do gás natural e dos combustíveis – que superaram os dois euros por litro após o início da guerra – explicam esta subida recorde. A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo e de gás natural.
Nos alimentos não transformados – uma rubrica com peso significativo no orçamento familiar – a subida em março foi de 5,85%, a maior desde o pico de abril de 2020, em pleno primeiro confinamento. Se excluirmos esse pico, valores desta magnitude não eram vistos desde 2007, ano de crise alimentar global. A Rússia e a Ucrânia valem 25% das exportações globais de trigo e a Rússia é o segundo maior produtor de fertilizantes. Alimentos e bebidas não alcoólicas pesam em média um quinto do orçamento das famílias portuguesas – mais ainda se considerarmos as pessoas com menores rendimentos.
Os valores da taxa mensal – que deverá continuar alta nos próximos meses – refletem o que vários empresários no terreno contaram à SÁBADO sobre a pressão brutal sentida nos preços de praticamente todas as matérias-primas, dos cereais aos materiais de construção, passando pela energia. No caso dos combustíveis, além do preço sobra o risco de racionamento dos abastecimentos nos próximos meses, sobretudo no gasóleo.
Estes aumentos da taxa mensal contrastam com a previsão de 2,9% para a taxa média anual assumida no Programa de Estabilidade entregue esta semana pelo governo (ainda na era de João Leão nas Finanças). O agravamento significativo dos preços é transversal a toda a Europa, com valores mais altos do que em Portugal – em Espanha, por exemplo, a inflação em Março esteve perto de 10%, a mais alta desde 1985.
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