A Edição Diária no seu e-mail
                    De Sábado a Sábado, receba no seu e-mail um resumo das notícias mais relevantes do dia.
                    Subscreva Já
                Lei da Nacionalidade. O que muda e por que está a provocar críticas?
O diploma aprovado no Parlamento, com o apoio da direita, introduz prazos mais longos de residência, novos critérios de integração e possibilidade de perda de nacionalidade. Críticas da esquerda e das associações de imigrantes alertam para “retrocesso civilizacional”.
Índice
                        - 1Prazos de residência
- 2Filhos de estrangeiros nascidos em Portugal
- 3Novos requisitos de integração
- 4Condenações criminais e capacidade económica
- 5Perda de nacionalidade
- 6Fraude e falsas declarações
- 7Descendentes de portugueses
- 8Fim do regime dos judeus sefarditas
- 9Reações divididas
                                    
A Assembleia da República aprovou, na terça-feira, 28 de outubro, a nova versão da Lei da Nacionalidade, alterando de forma profunda os critérios de aquisição e perda da cidadania portuguesa. O diploma, aprovado com 157 votos a favor e 64 contra – com o apoio dos partidos da direita e de Filipe Sousa, deputado único do Juntos Pelo Povo (JPP), e o voto contra de toda a esquerda – endurece os prazos de residência, impõe novas exigências de integração e introduz a possibilidade de perda de nacionalidade em determinados casos criminais. A proposta aguarda agora promulgação pelo Presidente da República, entrando em vigor no dia seguinte à sua publicação.
                
                
                    
            
                    
                        Dominik Bindl/Getty Images
                
            1Prazos de residência
Os prazos para requerer a nacionalidade portuguesa aumentam significativamente. Passam de cinco para dez anos para estrangeiros de países terceiros e para sete anos no caso de cidadãos da União Europeia ou de países de língua oficial portuguesa. Esta diferenciação, eliminada em 2006, regressa agora à lei, reintroduzindo um critério que já existira entre 1994 e 2006.2Filhos de estrangeiros nascidos em Portugal
Os filhos de cidadãos estrangeiros nascidos em território português passam a só ter direito à nacionalidade automática se os pais residirem legalmente em Portugal há pelo menos cinco anos; antes, bastava um ano, independentemente do estatuto legal. A proposta inicial previa três anos, mas o prazo foi alargado durante a discussão na especialidade.3Novos requisitos de integração
Além da prova de conhecimento da língua portuguesa, os candidatos terão de demonstrar conhecimento da cultura, da organização política e dos valores democráticos do País, bem como assinar uma declaração solene de adesão aos princípios da República. Entre os fundamentos para recusar o pedido incluem-se agora comportamentos “que de forma concludente e ostensiva revelem rejeição da comunidade nacional, das suas instituições ou símbolos”, refere a Lei.4Condenações criminais e capacidade económica
A nova redação elimina a possibilidade de naturalização a quem tenha sido condenado a pena de prisão efetiva – independentemente da duração – e exige que o requerente comprove “capacidade de subsistência económica” no momento do pedido, uma proposta incluída pela AD e reclamada pelo Chega como “vitória política”.5Perda de nacionalidade
A perda de nacionalidade não foi incluída diretamente no diploma, mas sim numa alteração paralela ao Código Penal, aprovada no mesmo dia. A medida permite a perda de nacionalidade a quem tenha sido condenado a pena de prisão igual ou superior a cinco anos por factos cometidos nos dez anos posteriores à naturalização, desde que tenha dupla nacionalidade (para evitar casos de apatridia). A decisão cabe a um juiz e será aplicada como pena acessória, não automática. Inclui também a possibilidade de retirar a nacionalidade a condenados por terrorismo, que apenas poderão requerê-la novamente dez anos após o cancelamento do registo criminal.6Fraude e falsas declarações
Foi ainda incluída uma disposição que impede de voltar a requerer nacionalidade quem a tenha obtido “de forma manifestamente fraudulenta”.7Descendentes de portugueses
A lei alarga o direito de nacionalidade aos bisnetos de cidadãos portugueses, desde que comprovem uma “ligação efetiva” a Portugal. Trata-se da recuperação de uma proposta antiga do PSD, com o objetivo de reforçar a ligação das novas gerações da diáspora.8Fim do regime dos judeus sefarditas
É revogado o regime excecional de atribuição de nacionalidade aos descendentes dos judeus sefarditas expulsos de Portugal no século XV. Um mecanismo criado em 2013, com efeitos práticos a partir de 2015, que o Governo justificou agora revogar com base em “abusos e distorções” do regime.9Reações divididas
O secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, acusou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de se “ter escondido de uma aliança com o Chega” na aprovação do diploma, considerando que a lei traduz “um endurecimento ideológico e desnecessário” das políticas de nacionalidade. Em sentido oposto, o candidato presidencial Luís Marques Mendes, apoiado pelo PSD, considerou a versão final “equilibrada” e “constitucionalmente segura”, lamentando apenas “que não tenha reunido um consenso mais alargado”. Para o ex-líder social-democrata, “o diálogo parlamentar melhorou substancialmente a proposta inicial”, eliminando aspetos que poderiam suscitar dúvidas de conformidade constitucional. "A versão inicial era muito polémica, muito controversa e levantava mesmo problemas de conformidade com a Constituição", disse Marques Mendes sobre o documento à margem de uma intervenção no NEXXT, em Leiria, onde falou sobre educação e economia. "A versão agora aprovada parece-me equilibrada, menos polémica e provavelmente sem problemas de natureza constitucional", disse. Para o candidato presidencial "não há razões para enviar esta lei ao Tribunal Constitucional". Timóteo Macedo, presidente da associação Solidariedade Imigrante, criticou duramente o diploma, classificando-o como um “retrocesso civilizacional” que “ataca os direitos humanos de quem chega”. Em declarações à Lusa, o dirigente afirmou que “Portugal perdeu uma grande oportunidade de continuar a ser uma referência de acolhimento e dignidade humana” e acusou o Governo de “dar campo ao populismo e às políticas mais retrógradas da Europa”. Macedo alertou ainda que enquanto existirem milhares de imigrantes em situação irregular e explorada, o País continuará a alimentar desigualdades em vez de as combater. "Enquanto tivermos milhares de ilegais, escondidos, a fazerem o trabalho que é necessário, os salários não vão subir. E quem acusa hoje os imigrantes de roubarem empregos, esses empregos vão continuar a ir para quem é mais explorado", avisou. Timóteo Macedo contesta ainda a diferença de prazo para quem é europeu ou lusófono (sete anos de residência documentada) e para os outros (dez anos), afirmando que se tratam pessoas "de modo diferente, criando uma discriminação inaceitável" e adiantou esperar que o Presidente da República mande verificar o diploma, por considerar que viola o "princípio da igualdade", previsto na Constituição Portuguesa.Artigos Relacionados
                    Descubra as 
Edições do Dia
        Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das  Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui  , 
para que não perca nada do   melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
        
    Boas leituras!
            Tópicos
                Política
                
                Prisão
                
                Crime lei e justiça
                
                Parlamento
                
                Portugal
                
                CHEGA
                
                Juntos pelo Povo
                
                Partido Social Democrata
                
                União Europeia
                
                José Luís Carneiro
                
                Luís Marques Mendes
                
                Filipe Sousa
                
                Luís Montenegro
                
                Tribunal Constitucional de Portugal
                
        
                
            Artigos recomendados
        As mais lidas
        Europa pode acabar com a mudança de hora. "Espero que na primavera já não mude"
25 de outubro de 2025 às 10:00Débora Calheiros Lourenço
                Operação Mais-Valia apanha chefe das Finanças
21 de outubro de 2025 às 23:00Carlos Rodrigues Lima
                Advogada Joana Ramirez internada em ala psiquiátrica após aparecer em julgamento com uma máscara de gás
26 de outubro de 2025 às 11:31Luana Augusto
                Objeto interestelar pode ser nave alienígena
21 de outubro de 2025 às 07:00Susana Lúcio
                GNR morre depois de embarcação ser abalroada por lancha presumivelmente ligada ao tráfico de droga
28 de outubro de 2025 às 07:16Lusa