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Hepatite A: Saiba como se proteger e minimizar o contágio

Lucília Galha 06 de fevereiro de 2025 às 08:00

A maior parte da população está suscetível ao vírus e vão continuar a existir surtos, mas a mensagem dos especialistas é de tranquilidade. Lavar bem as mãos é a recomendação principal.

Osurto de hepatite Adetetado em Setúbal já estará praticamente controlado. "Neste momento, a nossa curva epidémica está já a decrescer", disse na tarde de ontem, quarta-feira, em declarações aos jornalistas a médica de Saúde Pública, Valentyna Lutsiv, da Unidade Local de Saúde da Arrábida. Também não é caso para alarme, garante Bernardo Mateiro Gomes. "A mensagem principal que eu gostava de transmitir é de tranquilidade, não é uma coisa que seja de preocupação para a população geral", diz àSÁBADOo presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.

Reuters

O que se sabe é que o surto começou no Algarve no início de dezembro e que o maior número de casos ocorreu no início de janeiro. Já infetou pelo menos 23 pessoas, entre os 4 e os 20 anos, sendo que a média é os 12 anos. Há também um caso mais grave, internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, mas que está estável. As autoridades de saúde locais arrancaram com uma campanha de vacinação para conter a transmissão da doença e até ao momento cerca de uma centena de pessoas já foi vacinada.

Apesar de não existir razão para alarmismos, o especialista em Saúde Pública deixa o alerta. "Isto aconteceu agora, foi acontecendo ao longo dos últimos anos e vai acontecer outra vez", diz Bernardo Mateiro Gomes. Razão: como há vários anos deixou de haver circulação deste vírus em Portugal, grande parte da população está suscetível. Saiba o que fazer para se proteger e minimizar o risco de contágio.

O que é e como se transmite?

A hepatite A é uma infeção do fígado causada por um vírus. O principal modo de transmissão é por via fecal-oral, através da ingestão de alimentos ou água contaminada, por contacto próximo pessoal com pessoas infetadas e também pode ocorrer por via sexual. "É uma doença que existia em Portugal de forma disseminada e endémica até meados dos anos 1980. Nessa altura, quem se infetava principalmente eram as crianças, a brincarem umas com as outras", diz Bernardo Mateiro Gomes.

Como o vírus deixou de circular em Portugal, os casos que surgem são normalmente importados de outros países. "Nós somos vulneráveis à importação de casos de pessoas que viajam para fora e trazem o vírus, ou pessoas que chegam de fora e o trazem", explica. E se existirem condições propícias a que se propague pode haver transmissão (ver a quarta pergunta).  

Quais são os sintomas?

"A maior parte das situações são absolutamente indolentes, quase que não se percebe", garante o especialista em Saúde Pública. Se houver uma situação mais aguda pode surgir febre, mal-estar, diarreia, náuseas e alterações da cor da pele (pele e olhos amarelados). "Em algumas circunstâncias pode realmente complicar levando ao compromisso do funcionamento hepático", diz. Esses são os casos mais graves que podem exigir internamento.

Quem está mais vulnerável?

Nas crianças, a infeção normalmente não tem grandes consequências. Isto porque a frequência e gravidade dos sinais ou sintomas depende em regra da idade, explica a Direção-Geral de Saúde (DGS). A infeção só dá sintomas em 30% dos casos com menos de 6 anos e, em crianças mais velhas e adultos provoca uma hepatite aguda em mais de 70%, avança este organismo. "Pessoas adultas têm já uma boa probabilidade de serem coisas bastante graves", resume o especialista em Saúde Pública.

Contudo, neste caso, as pessoas de meia-idade e mais velhos têm alguma proteção. "O indicativo são os 45 anos porque até essa idade provavelmente já não se foi infetado na infância, já crescemos num ambiente em que a hepatite A não circulava", diz Bernardo Mateiro Gomes. Ou seja, os mais novos são os mais vulneráveis.  

Em que contextos há maior transmissão?

O ambiente mais propício para a transmissão são condições socioeconómicas baixas. "Muitas pessoas a viver no mesmo local com incapacidade de manutenção de higienização das superfícies e de higiene em geral. Nesse contexto, pode haver transmissão", diz o especialista.

Comportamentos de risco também propiciam. "Em circunstâncias em que haja múltiplas pessoas, múltiplos parceiros e relações desprotegidas também existe essa possibilidade de multiplicação ou transmissão em cadeia", acrescenta.  

Como se pode proteger?

Como o vírus tem uma incubação muito lenta – o período médio desde a infeção até à manifestação da doença é de 28 dias, mas varia entre 15 a 50 dias – nos próximos dias ainda poderão aparecer casos, avisa o especialista. Além disso, pessoas assintomáticas ou com poucos sintomas também podem transmitir o vírus.

A principal forma de proteção é mesmo lavar bem as mãos e redobrar os cuidados com a higiene dos espaços e das superfícies. Lavar as mãos antes e depois das refeições e reforçar a higiene pessoal, especialmente das regiões íntimas, antes e depois de usar casas de banho e antes e depois de relações sexuais, especifica a DGS.

Outra medida de prevenção é aquela que já está aqui a ser aplicada: a vacinação. Quer antes da exposição, se por exemplo vai viajar para um país de circulação do vírus (através da medicina do viajante), quer se tiver contacto com pessoas infetadas. "É o vacinar à volta dos casos, os ingleses usam o termo ring vaccination que até veio da veterinária quando se vacinavam os rebanhos por causa de doenças infecciosas", explica Bernardo Mateiro Gomes.

A vacina não faz parte do Plano Nacional de Vacinação mas pode ser comprada na farmácia. Contudo, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública aconselha a que se dê prioridade às pessoas que foram expostas. "É uma coisa que se consegue controlar se houver a devida ponderação e seguimento das recomendações", diz.  

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