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Amianto está em muitos mais locais que escolas. A sua remoção decorre "a passo de caracol"

Grupo de minerais usados na construção e relacionados com doenças como cancros, está presente em muitos mais espaços.

A presidente da associação SOS Amianto, Carmen Lima, alertou esta terça-feira para a continuação do perigo para a saúde pública que representa o amianto, presente em muitos mais locais e aplicações do que em escolas.

Amianto
Amianto Getty Images

Apesar de muitas vezes se associar às coberturas das escolas, o amianto, grupo de minerais usados na construção e relacionados com doenças como cancros, está presente em muitos mais espaços e a sua remoção decorre "a passo de caracol", afirmou Carmen Lima durante uma audição na comissão parlamentar de Ambiente.

"Foram identificadas 4.000 aplicações diferentes do amianto no mundo", desde autoclismos a tubos de canalização, pavimentos ou tetos falsos, em edifícios públicos ou não, disse a presidente da SOS Amianto aos deputados.

A associação pediu há mais de 10 anos a criação de uma estratégia portuguesa para o amianto, afirmou, acrescentando que também não há um modelo para o licenciamento de empresas que trabalham na remoção do amianto, que a fiscalização que se faz é "de secretária" e que as pessoas que trabalharam nas fábricas de amianto "não ficaram a ser seguidas" para detetar problemas de saúde.

Questionada pelos deputados sobre a nova diretiva sobre a matéria que Portugal tem de adotar até ao fim do ano e que obriga a uma inventariação do amianto, Carmen Lima disse que a lei portuguesa já obriga a uma inventariação de edifícios públicos e de privados como local de trabalho e acrescentou que é importante que essa inventariação seja feita, como é importante que seja dada formação.

"Em Portugal, com oito horas de formação, colocamos trabalhadores a remover amianto", disse, alertando que também não é dada informação à população quando há uma intervenção de remoção num determinado local.

Reafirmando que há falta de dados sobre a incorporação de amianto nos edifícios, Carmen Lima destacou também que o produto é proibido em 66 países e que na Europa entram produtos de outros países que contém "fibras minerais".

Carmen Lima, engenheira do Ambiente e especialista em amianto, disse que nesta matéria se falou muito da cobertura das escolas mas que se esqueceu de todo o resto, e reafirmou que as pessoas que no passado trabalharam nas fábricas de amianto estão hoje "entregues a si próprias".

Na página da SOS Amianto, Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto, diz-se que morrem por ano em Portugal 36 pessoas com mesotelioma, um cancro provocado pela exposição ao amianto, que os efeitos da exposição podem demorar 20 anos a manifestar-se e que só 3% das doenças relacionadas com amianto são notificadas.

Num documento apresentado na audição parlamentar a associação diz que o amianto é responsável por mais de 70.000 mortes anuais na Europa e está associado a cerca de 78% dos cancros profissionais identificados na União Europeia.

A SOS Amianto defende que é urgente uma estratégia nacional que defina uma entidade coordenadora, que se cumpra a obrigatoriedade de um inventário da situação, que se reforce a fiscalização, a proteção e a vigilância médica.

"A desregulação do setor e a ausência de liderança governativa colocam Portugal numa posição difícil face aos desafios propostos pela Diretiva Comunitária", alerta a associação.

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