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Fundadora da BioNTech: "Temos várias vacinas diferentes contra o cancro"

Lusa 19 de março de 2021 às 17:17

Ozlem Tureci afirmou em entrevista que a tecnologia de mRNA utilizada nas vacinas da covid-19 estava a ser investigada há duas décadas, para ajudar o sistema imunitário a combater tumores.

As vacinas contra a covid-19 são seguras e a tecnologia será brevemente aplicada na luta contra o cancro, disse hoje a cofundadora do laboratório que desenvolveu a primeira injeção amplamente utilizada no combate ao coronavírus.

Ozlem Tureci Reuters

Ozlem Tureci, que fundou a farmacêutica BioNTech na Alemanha com o seu marido, disse, em entrevista à agência Associated Press, que a tecnologia de mRNA (RNA mensageiro) utilizada nas vacinas estava a ser investigada há duas décadas, para ajudar o sistema imunitário a combater tumores.

Até que os dois cientistas ouviram falar de um vírus desconhecido a infetar pessoas na China e o casal decidiu, durante o pequeno-almoço, aplicar essa tecnologia no combate à nova ameaça.

Nasceu assim o "Project Lightspeed" (Projeto Velocidade da Luz) e 11 meses depois o Reino Unido tornava-se no primeiro país a aprovar a vacina de mRNA desenvolvida pela BioNTech, em pareceria com a gigante norte-americana Pfizer.

Uma semana após o Reino Unido, também os Estados Unidos aprovaram a vacina e dezenas de milhões de pessoas já foram inoculadas em todo o mundo, desde dezembro.

"Vale a pena tomar decisões arriscadas e confiar que se tens uma equipa extraordinária consegues resolver qualquer problema ou obstáculo que se atravesse no teu caminho em tempo real", afirmou Ozlem Tureci.

Mas a pequena empresa sediada em Mainz, que ainda não tinha qualquer produto no mercado, tinha desafios enormes pela frente, tais como testar cientificamente a vacina em larga escala e conseguir produzir um volume suficiente para ir de encontro à procura a nível mundial.

Além da Pfizer, a empresa contou com a ajuda da chinesa Fosun Pharma para "conseguir os meios, capacidade e alcance geográfico que não tinha", explicou Tureci.

Entre as principais lições que aprendeu com o seu marido e presidente executivo da BioNTech, Ugur Sahin, está a "importância da colaboração e cooperação internacional" na investigação científica.

Filha de imigrantes turcos na Alemanha, Tureci frisou que a empresa, que tem funcionários de 60 países, procurou sempre organismos de supervisão médica desde o início para assegurar que o novo tipo de vacina passaria no rigoroso escrutínio dos reguladores.

"O processo de aprovação de um medicamento ou vacina é onde muitas perguntas são feitas, muitos especialistas são envolvidos e acontece a revisão da restante comunidade a todos os dados e discurso científico", disse a fundadora da BioNTech.

E face à suspensão da vacina da concorrente anglo-sueca AstraZeneca em vários países da Europa, Tureci descartou a ideia de que foram saltadas etapas por todos os que estiveram envolvidos na corrida à criação da vacina.

"Existe um processo muito rígido e que não termina após a vacina ser aprovada. Continua, na verdade, a decorrer em todo o mundo, onde os reguladores usam sistemas de reporte para monitorizar e avaliar quaisquer observações feitas à nossa ou a outras vacinas", frisou.

Tureci assegurou que recebeu a sua própria vacina, assim como os colegas da BioNTech.

Por outro lado, a valorização da empresa durante a pandemia proporcionou-lhe fundos que pode agora usar para prosseguir o seu objetivo inicial de desenvolver uma nova ferramenta de luta contra o cancro.

As vacinas da BioNTech-Pfizer, tal como as da concorrente norte-americana Moderna, usam a tecnologia mRNA, em que um fragmento do código genético do vírus transporta instruções para o organismo humano conseguir desenvolver anticorpos específicos.

O mesmo princípio poderá ser utilizado para ajudar o sistema imunológico a combater os tumores.

"Temos várias vacinas diferentes contra o cancro com base na tecnologia mRNA", disse Tureci, que é também diretora médica da BioNTech.

No entanto, questionada sobre quando poderá esse tipo de tratamento estar disponível, Tureci frisou que "é muito difícil prever o desenvolvimento de uma inovação", mas mostrou-se esperançada em que "dentro de alguns anos possamos ter vacinas contra o cancro" para oferecer às pessoas.

Para já, Tureci e Sahin preocupam-se em assegurar que as vacinas encomendadas por Governos de todo o mundo são entregues e que as injeções respondem eficazmente a todas as novas mutações do vírus.

Na sexta-feira, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier condecorou o casal com uma das mais altas insígnias do país, a Ordem de Mérito, numa cerimónia presenciada pela ‘chanceler’ Angela Merkel.

"Partiram de uma droga para tratar o cancro numa única pessoa, e hoje temos uma vacina para toda a humanidade", elogiou Steinmeier.

Tureci admitiu que foi "uma verdadeira honra" receber a condecoração, mas insistiu que a vacina é o resultado do trabalho de muitas pessoas.

"É o resultado de muitos esforços: da nossa equipa na BioNTech, de todos os parceiros envolvidos, assim como Governos e entidades reguladoras que trabalharam todos juntos e com sentido de urgência. É um reconhecimento deste esforço e também uma celebração da ciência", frisou Tureci.

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