Sábado – Pense por si

Reality shows: a humilhação (e a estupidez) numa tv perto de si

Pedro Marta Santos
Pedro Marta Santos 09 de junho de 2019 às 09:39

Da mais cruel experiência sociológica - como viver numa cela e ser privado de dormir - à demanda machista pela mulher ideal para o filho. Os reality shows estão à rédea solta.

Osreality showssão como as drogas duras. A sensação inicial é de prazer, divertimento, aqui e ali de euforia, mas a ressaca e o desespero são inevitáveis. Estudos sérios sobre o tema daReality TV(é verdade, há estúdios sérios sobre o assunto, da Universidade do Arizona e da Ohio State University) indicam que o comportamento dos espectadores face a um programa do género é semelhante ao dos automobilistas que abrandam para observar um acidente na estrada, em boda macabra entre o alívio de a desgraça estar a acontecer a terceiros e o desejo compulsivo de os ver sofrer. Exagero? Pessimismo antropológico? Na lista dos reality shows com maior audiência da história da televisão, contam-se delícias sádicas como Solitary, produzido pela Fox entre 2006 e 2010, ou Shattered, exibido em 2004 no britânico Channel Four. Em Solitary, os candidatos eram enfiados em celas octogonais onde não existia registo do tempo e a iluminação e a temperatura eram controladas, enquanto se sujeitavam a testes psicológicos e físicos (como ter na boca água com malaguetas ao longo de uma eternidade) cada vez mais exigentes - um dos episódios chamava--se "Quando Todos Ficam Loucos". Shattered popularizou a tortura da privação de sono, forçando os competidores, fechados numa casa, a dormir apenas uma hora diária durante oito dias e obrigando-os a sevícias avulsas, enquanto lhes era retirado dinheiro cada vez que fechavam os olhos por mais de 10 segundos.

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