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Valter Hugo Mãe reúne memórias de "um tempo feliz" no seu novo livro, "Contra Mim"

29 de outubro de 2020 às 15:52

"Esta é em parte uma verdade, pelo menos a minha verdade, o que retive e que conto à minha maneira, o que guardei do que vivi e do que fui", garante.

O escritor Valter Hugo Mãe revisita a infância no seu novo livro, "Contra Mim", que reúne memórias de "um tempo feliz", até à adolescência, "um tempo de liberdade e imaginação", como afirmou à agência Lusa.

"Fui sempre uma criança imaginativa", disse Valter Hugo Mãe, sobre o novo livro, reconhecendo que continua hoje um "menino sonhador". Como mais novo dos quatro irmãos, a sua função "era ser criança": "Esse era o meu papel, ninguém dependia de mim para quaisquer tarefas", afirmou.

A obra "Contra Mim", recém-chegada às livrarias, é constituída por curtas narrativas, que se podem confundir com contos, como reconheceu o autor, alertando, todavia, que "não o é". "A lógica de leitura é a mesma de qualquer romance. Aliás, todas as vidas são a imitação de um romance".

"Esta é em parte uma verdade, pelo menos a minha verdade, o que retive e que conto à minha maneira, o que guardei do que vivi e do que fui", garantiu à Lusa.

Valter Hugo Mãe desfia estas histórias, como quem as conta à lareira numa aldeia do Norte do país, de onde é originária a sua família.

A primeira história é de uma memória familiar, antes de ter consciência de si: o namoro não consentido entre o seus pais, que acabou num casamento, e a partida do casal para Angola, onde Valter nasceu.

De Angola ficaram esparsas recordações, a alegria, as pessoas vestidas de cores garridas, as estatuetas de pau preto e os livros de 'cowboys' do pai, entre outros objetos que por lá ficaram, quando a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, surpreendeu a família numas férias em Portugal.

Caxinas, em Vila do Conde, acabaria por ser o seu destino, localidade onde cresceu e se radicou.

No conjunto das memórias da infância, da família, do crescimento, está também o afastamento de África dos portugueses, aqueles que pensavam que, nesse outro continente se comia terra e, por isso, as pessoas ficavam escuras, como uma vez lhe contaram, à porta de uma mercearia, quando tinha seis anos.

Hugo Mãe disse à Lusa que, "por mais que se afaste da sua obra, o escritor tem, por vezes, necessidade de que o livro passe pela sua vida e a traduza". Por isso "Contra Mim" reflete-o especialmente, embora qualquer uma das suas outras ficções seja também, de outra maneira, uma dimensão sua.

"Contra Mim" é igualmente resultado do período de confinamento, este ano, que levou o autor a refletir sobre si e sobre esse "tempo sem pecado".

"Surgiu essa necessidade, que me favorece", disse, "uma certa nostalgia", reconheceu à Lusa.

Sobre o título, afirmou: "É um enigma".

Valter Hugo Mãe publica regularmente, no Jornal de Letras, Artes e Ideias, as crónicas de uma "Autobiografia Imaginária", e, na Notícias Magazine, as da "Cidadania Impura".

É autor de sete romances, entre os quais "O remorso de Baltazar Serapião", que venceu o Prémio José Saramago/Círculo de Leitores, em 2007, e "A Máquina de Fazer Espanhóis", distinguido com o Grande Prémio Portugal Telecom de literatura, em 2012.

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