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Sara Carreira: o que se sabe depois do segundo dia de julgamento?

Débora Calheiros Lourenço 25 de outubro de 2023 às 20:28

O acidente que tirou a vida à filha de Tony Carreira aconteceu ao final da tarde de 5 de dezembro de 2020 na A1.

"Nada vai mudar as saudades que tenho da minha filha. Nada vai mudar a situação que há que é uma tragédia. Não venho para aqui com o intuito de me vingar de ninguém, absolutamente ninguém", referiu esta quarta-feira Tony Carreira aos jornalistas.

O cantor e a sua ex-mulher Fernanda Antunes estiveram presentes no Tribunal de Santarém nestes dois dias de julgamento às circunstâncias que provocaram a morte da filha mais nova, Sara Carreira. Tony considerou que do lado da "maioria dos arguidos não há uma percentagem mínima de humanidade" e acusou-os de "optarem por uma teoria com uma tática de advogados que é a amnésia".

O acidente em que morreu Sara Carreira ocorreu no final da tarde de 5 de dezembro de 2020 na A1 e está agora a decorrer o julgamento de quatro arguidos - Cristina Branco, Ivo Lucas, Paulo Neves e Tiago Pacheco -, envolvidos neste embate. Cristina Branco responde por um crime de homicídio por negligência, Ivo Lucas e Paulo Neves por um crime, cada um, de homicídio negligente na forma grosseira, e Tiago Pacheco está acusado de condução perigosa de veículo.

Nos dois dias de audiências deste julgamento já foram ouvidos os quatro arguidos, quatro testemunhas, dois militares da GNR, um ex-bombeiro e uma mulher que parou o carro para ajudar as vítimas na noite da tragédia.

O primeiro a ser chamado, ainda no dia de ontem, foi Ivo Lucas, o então namorado e condutor do carro onde seguia Sara Carreira no momento do acidente.

O ator referiu que o dia em questão foi um dia de chuva e apesar de não saber "precisar a velocidade" garante: "Nós não tínhamos pressa em chegar. Íamos a fazer a viagem tranquilos", garantindo que ambos se encontravam a utilizar o cinto de segurança.

Ivo Lucas manteve-se emocionado durante todo o seu depoimento e partilhou que foi a cantora que o avisou da existência de um obstáculo na estrada: "Eu disse-lhe: ‘Tenho muita sorte em ter-te na minha vida’. E ela diz-me: ‘E eu a ti’. Neste momento a Sara grita ‘cuidado!’ Deparo-me com um vulto, a única memória que tenho é estar no meio da autoestrada com o braço partido sem t-shirt e sem saber da Sara".

Paulo Neves admite que estava alcoolizado

Paulo Neves era o condutor do primeiro carro envolvido no acidente que vitimou Sara Carreira. O Ministério Público acredita que a sucessão de acidentes começou porque Paulo Neves seguia a uma velocidade abaixo da permitida numa autoestrada (50km/h).

No tribunal, este arguido negou que estivesse a circular a 30 quilómetros por hora mas reconheceu que se encontrava com álcool no sangue, quando a fadista Cristina Branco lhe bateu.

Já esta quarta-feira Fábio Montez, da direção de investigação criminal da GNR, foi chamado como perito para esclarecer as velocidades a que os carros seguiam. O militar foi chamado por Paulo Neves que defende que ia a uma velocidade superior à presente no relatório.

"Quando recebi o processo vi os autos e vi as medidas que se tinham tirado, a qualidade das imagens é muito fraca e a gravação também tem má qualidade. Uma vez que o que se percebe é a colisão em si e as luzes. Depois de analisar tudo verifiquei que todos os veículos apresentavam uma mancha e uma projeção lateral do que já estava na estrada", começou por explicar.

O militar garante que nos dois relatórios, os tratamentos das imagens foi feito de forma igual e que "incidiu só sobre o momento do acidente", reforçando ainda que esteve "cerca de três meses" a trabalhar neste processo. Questionado sobre o grau de fiabilidade dos resultados explicou que quando se "sabe a velocidade da centralina, a diferença de velocidade é de 1 km/h".

Cristina Branco garante ter ligado os quatro piscas

A fadista Cristina Branco terá sido a primeira a embater, neste caso no carro de Paulo Neves. Em declarações ao tribunal, afirmou ter a certeza que ligou os quatro piscas, saiu do carro com a filha e colocaram-se no separador central: "O carro capotou e o movimento é longo e acelerado porque estava a deslizar em cima de um carril".

O ex-companheiro de Cristina Branco, Nuno Rocha, não esteve no local do acidente mas foi a tribunal contar como a filha da fadista lhe ligou a pedir entrasse em contacto com o 112: "Primeiro as duas estavam em pânico, elas só me descreveram tudo mais tarde (…) Tentei dar-lhes indicações, mas elas estavam em pânico, não conseguiam perceber. Há uma imagem sempre muito repetida pela Cristina que era: ‘Nuno eu bati como se tivesse a bater contra uma parede’".

Cristina Branco não marcou presença em tribunal na parte da tarde desta quarta-feira após pedir à juíza para sair uma vez que ainda é muito traumático ouvir os relatos do acidente.

Tiago Pacheco não viu o acidente 

Tiago Pacheco e a namorada Carolina Amaral estavam a voltar de Mangualde para Lisboa quando tiveram o acidente. "Estava muito nevoeiro e a chover muito", "não havia quase visibilidade nenhuma" refere Carolina sobre o momento do acidente. O casal terá saído do carro e pouco tempo depois o seu carro incendiou.

Já no dia de ontem Tiago Pacheco tinha afirmado que está "habituado a conduzir" uma vez que é operador de câmara e naquele dia: "Lembro-me de ir sempre na faixa do meio para conseguir fugir para um dos lados".

Foi nesse momento que viu "umas luzes no lado direito", depois sentiu o carro a passar por cima de alguma coisa: "Destroços pequenos, grandes, do tamanho de uma cadeira e depois senti oairbaga disparar e depois virei para a direita e parei na berma muito lá à frente".

Várias testemunhas, que não estiveram envolvidas no acidente mas que prestaram auxílio, descreveram em tribunal que Ivo Lucas aparentava estar "nervoso" e "desorientado".

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