Quem é Candace Owens, a influencer que jura que Brigitte Macron nasceu um homem?
Já foi fã acérrima de Donald Trump, mas agora vê nele alguém em quem não pode confiar, defende que a revolução sexual prejudicou as mulheres e assegura que a primeira-dama francesa nasceu um homem.
Candance Owens é uma das coqueluche da direita ultra-conservadora norte-americana. A jovem que passou de ser crítica de Donald Trump, a apoiante ferversoa, voltando depois a atacar o atual presidente norte-americano. Agora está a ser processada por Emmanuel e Brigitte Macron por ter lançado um documentário em que assegura que a primeira-dama francesa tinha nascido um homem e era trans.
Recentemente Candance Owens começou um debate com 20 feministas lançando o repto: "Vivemos num sistema matriarcal e não patriarcal". Para a comentadora esta é uma afirmação bastante suave. Mas tem o condão de irritar ativistas que discordam dela. É esse um dos seus maiores trunfos. A conservadora de 35 anos é das mulheres mais odiadas pelos militantes democratas e uma das principais armas de ataque dos republicanos.
Em 2017, Candace Owens disse ao comentador libertário Dabe Rubin: "Tornei-me conservadora de uma noite para a outra... Percebi que os liberais eram de facto racistas. Os liberais é que eram os verdadeiros trolls". Nesse ano Owens já era uma micro-celebridade no YouTube político. A jovem afro-americana fazia vídeos sob o pseudónimo RedPillBlack (Negra Comprimido Vermelho). Um dos vídeos do seu canal tinha o título "Eu não quero saber de Charlottesville, do KKK ou da supremacia branca" e chamou a atenção de talking heads de direita radical como Alex Jones, que apresentava então o InfoWars.
Então saiu de trás da câmara e foi para os campus universitários juntamente com a jovem estrela conservadora Charlie Kirk. Tentavam convencer os universitários a abraçarem a doutrina de Donald Trump e a tornarem-se conservadores. Em 2020 foi contratada pelo Daily Wire para apresentar o seu próprio programa, Candance. Daí foi catapultada para a fama.
Owens representa um novo tipo de conservadores: jovens, parte de uma minoria, desbocados e com capacidade de usar as novas ferramentas de comunicação como as redes sociais e os vídeos na Internet.
No programa Candance, Owens atacou democratas, celebridades com excesso de peso, George Floyd e feministas. Atraiu também críticas por, por exemplo, ter minimizado a importância dos discursos inflamados de Kanye West contra os judeus. Candace comparou mesmo "os judeus de Hollywood" aos gangues Crips e Bloods, de Los Angeles.
Sobre o que é o programa de Candance? "Sobre o que me enfurece", disse a apresentadora a um jornalista da New Yorker. Essa lista inclui o movimento Black Lives Matter, o movimento "body-positivity", o movimento de defesa de pessoas trans, cirurgias plásticas em celebridades ou o quarterback Colin Kaepernick. Mas também se irrita com coisas como mulheres com usam leggin's sem ser para fazer exercício físico.
Outro alvo comum de Owens é o estado de Israel, tendo várias vezes criticado o genocídio em Gaza e a morte de cristãos na Palestina às mãos do exército israelita.
E o que defende Owens? Que apenas a maternidade pode satisfazer uma mulher (o movimento conhecido como trad-wife ou esposa-tradicional). Defende que o aborto é errado e que é uma ferramenta usada para "exterminar bebés negros". E acredita também que foi "um tremendo erro" ter votado em Donald Trump.
A polémica com Macron
O presidente francês, Emmanuel Macron, apresentou, esta quarta-feira, um processo por difamação contra a influencer após a norte-americana ter realizado e publicado uma série nas redes sociais que explora a possibilidade de a primeira-dama, Brigitte Macron, "ser, na verdade, um homem". Em causa está uma série de oito vídeos longos em que Owens afirma que a primeira-dama francesa é um homem m, que se chamava Jean-Michel Trogneux. A norte-americana alega que a atual primeira-dama seria familiar do presidente e que Emmanuel Macron seria mesmo um produto criado pela CIA, dando eco a uma teoria da conspiração defendida entre grupos na Internet desde 2021.
Em 2024 quando a influencer afirmou: "Aposto toda a minha reputação profissional no facto de que Brigitte Macron é um homem". Desde então estas acusações foram sendo reforçadas até ao lançamento de "Becoming Brigitte" (Tornando-se Brigitte, em português).
Os vídeos são "ficções estranhas, difamatórias e absurdas", acusou, ao Financial Times, o advogado de Emmanuel Macron, Thomas Clare. "O princípio aqui é a verdade. Eles [os Macron] acreditam que é importante defenderem-se. Owens teve múltiplas oportunidades para fazer a coisa certa e a resposta que [obtiveram] foi ridicularizá-los."
O advogado assegurou que Emmanuel e Brigitte Macron estão dispostos a viajar para os Estados Unidos para estarem presentes durante o julgamento. "A senhora Owens sistematicamente reafirmou essas mentiras em resposta aos pedidos de que se retratasse. Concluímos que a única alternativa possível era avançar com um processo", assinalou Thomas Clare.
O casal Macron fala em "bullying implacável a uma escala global". A influencer "dissecou a aparência, o casamento, a família e a sua história pessoal — distorcendo-a e criando uma narrativa grotesca criada para prejudicar" a imagem do Presidente e da sua mulher.
Em comunicado o presidente francês refere: "Como Ownes reafirmou sistematicamente essas falsidades em resposta aos repetidos pedidos de retratação feitos por cada um dos nossos advogados, concluímos que levar o caso a tribunal é a única via restante. A campanha de difamação foi claramente planeada para assediar e causar dor a nós e às nossas famílias, e para atrair atenção e notoriedade. Demos-lhe todas as oportunidades para recuar nessas alegações, mas ela se recusou. Esperamos sinceramente que esta ação judicial esclareça os factos e ponha fim a esta campanha de difamação de uma vez por todas".
Outras mulheres que assumiram um papel proeminente na política internacional, como Michelle Obama ou Kamala Harris, também enfrentaram comentários onde são acusadas de serem "secretamente transgénero" nas redes sociais. Em 2021 um relatório do Wilson Center alertou para a tendência "profundamente misógina": "Essas narrativas exploram o clichê da mulher falsa, sugerindo que indivíduos transgénero não são apenas inerentemente enganosos, mas que esse engano é responsável pelo poder e pela influência que essas mulheres detêm".
Brigitte e Emmanuel Macron estão casados desde 2007 depois se terem conhecido no colégio onde o atual presidente francês era aluno e a esposa professora. Na altura, Brigitte era casada e já tinha três filhos, a sua primeira filha nasceu no mesmo ano que Macron.
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