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Masoud Pezeshkian: o cirurgião cardíaco que será presidente do Irão

Luana Augusto 06 de julho de 2024 às 15:27

O moderado Pezeshkian sucede agora a Ebrahim Raisi, o ultraconservador iraniano que morreu numa queda de helicóptero em maio. É um defensor dos grupos étnicos minoritários do Irão, e pretende melhorar as ligações com o Ocidente.

O presidente eleito do Irão, o discreto e moderado Masoud Pezeshkian, venceu na sexta-feira, 5 de junho, a segunda volta das eleições presidenciais do país. Com 53,6% dos votos obtidos contra o ultraconservador Said Jalili, que teve 44,3%, carrega agora as esperanças de milhões de iranianos que procuram menos restrições às liberdades sociais e uma política externa mais pragmática.

Pezeshkian foi eleito depois de o presidente anterior ultraconservador, Ebrahim Raisi, ter morrido num acidente de helicóptero, em maio deste ano aos 63 anos.

Majid Asgaripour/WANA via REUTERS

Quem é Masoud Pezeshkian?

Masoud Pezeshkian, um cirurgião cardíaco de 69 anos que foi diretor da Universidade de Ciências Médicas de Tabriz, é um grande crítico da polícia da moralidade do Irão que pune as mulheres do país há décadas. Nascido a 29 de setembro de 1954, em Mahabad, no noroeste do Irão, defende que deve haver uma menor aplicação da lei do hijab (véu islâmico). Em intervenções políticas, também apelou à defesa de vários grupos étnicos minoritários do Irão.

Após a morte de Mahsa Amini - a jovem curda de 22 anos que morreu depois de ter sido detida por uso incorreto do hijab – em 2022, Pezeshkian escreveu que era "inaceitável na República Islâmica prender uma menina pelo seu hijab e depois entregar o cadáver à sua família". Dias mais tarde, à medida que os protestos a nível nacional aumentavam e a repressão sangrenta tomava conta do país, advertiu que aqueles que "insultam o Líder Supremo (…) não criarão nada, exceto raiva e ódio duradouros na sociedade".

As posições de Pezeshkian destacam, assim, as dualidades de ser um político reformista dentro da teocracia xiita do Irão – sempre pressionado pela mudança, mas sem nunca desafiar radicalmente o sistema supervisionado pelo Líder Supremo, Aiatolá Ali Khamenei. "Sou um principista (pessoa que defende os conceitos que sustentam a República Islâmica) e a partir destes princípios é que procuramos reformas", disse durante a campanha eleitoral.

O presidente eleito pretende construir melhores relações com o Ocidente, assim como reduzir as tensões entre ambos os países. Esta política, levou-o a pedir "negociações construtivas" com as potenciais ocidentais para debater a renovação do acordo nuclear de 2015 – que assegurou limites às atividades nucleares do Irão.

Pezeshkian não é novato na política. Enquanto deputado durante cinco legislaturas, gerou polémica no Parlamento ao defender a descriminalização das drogas. "Desde que o governo não se transforme no provedor das drogas, não conseguimos travar o vício", afirmou.

Entre 2001 e 2005, durante o segundo governo de Mohammad Khatami – considerado o primeiro presidente reformista da República Islâmica- , desempenhou também funções enquanto ministro da Saúde em 2013. Em 2013, tentou pela primeira vez candidatar-se à presidência, a que se seguiu uma segunda tentativa em 2021.

Em 2013, acabou por retirar a sua candidatura para apoiar um outro candidato. Já da segunda vez, foi desqualificado da disputa pelo Conselho dos Guardiões – um órgão formado por 12 clérigos e juristas - que não permitiu a entrada de candidatos reformistas.

Descendente de azeri e curdos, Pezeshkian ficou com a vida do avesso quando um acidente de carro, em 1994, matou a sua mulher, Fatemeh Majidi, e o seu filho mais novo. Nunca mais voltou a casar, tendo criado sozinho os seus outros três filhos.

Agora, diz querer recuperar a opinião pública: "Estamos a perder o apoio da sociedade por causa do nosso comportamento, dos preços elevados, do tratamento que damos às mulheres e porque censuramos a Internet", disse num debate televisivo na noite de segunda-feira. "As pessoas estão descontentes connosco por causa do nosso comportamento."

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