Gronelândia quer processar Dinamarca por colocação não consentida de DIU's
Milhares de mulheres sofreram intervenção quando eram crianças e algumas perderam a capacidade de engravidar.
Dezenas de mulheres da Gronelândia pretendem colocar a Dinamarca em tribunal devido à introdução não consentida nem informada de dispositivos intrauterinos (DIU) nos anos 60 e 70. Algumas tinham 12 anos quando sofreram a intervenção e sofreram problemas graves de saúde, perdendo a capacidade de ter filhos.
Estima-se que 4.500 crianças e jovens tenham sido afetadas. Um grupo exige uma indemnização do estado dinamarquês, no qual se integra a Gronelândia, por terem sofrido uma "violação" com grandes consequências nas suas vidas. Em 2022 Aki-Matilda Høegh-Dam, uma das duas deputadas da Gronelândia no parlamento dinamarquês, considerou que o sucedido se enquadra na definição de "genocídio".
Nos anos 60, a população da Gronelândia tinha uma grande taxa de crescimento do mundo, mas não é claro por que razão é que a Dinamarca achou isso ameaçador. A opção do DIU serviu para reduzir os nascimentos, mas as jovens não eram bem acompanhadas por um médico depois da intervenção e muitas só descobriram décadas mais tarde que tinham o dispositivo médico. Este causava dores graves, hemorragias internas e infeções abdominais e muitas acabaram por remover o útero. Quanto mais cedo lhes era colocado o DIU, mais problemas de saúde afetavam as pessoas, porque o útero ainda não se tinha formado completamente.
Naja Lyberth é psicóloga e foi das primeiras a denunciar a situação, há seis anos. A ela, num grupo de Facebook, juntaram-se dezenas de mulheres. No caso de Naja, foi-lhe introduzido o DIU na escola, quando era adolescente.
"Descobri que eu não tinha 14 anos, mas só 13, quando me colocaram o DIU", relatou ao site ArcticToday. "Quando entrei na menopausa, sofria de fortes dores menstruais e muitos sintomas recordavam-me das dores que experienciei quando me colocaram o DIU. Mais uma vez, senti que algo era demasiado grande para o meu corpo, tal como as ferramentas ginecológicas e o DIU na altura. O meu corpo, o meu útero, todo o meu abdómen reagiu."
Nos anos 60, os DIU não eram pequenos dispositivos em forma de T: eram muito maiores e em forma de S.
Naja Lyberth aponta que os advogados acreditam que "os nossos direitos humanos e a lei foram infringidos", no que foi uma "esterilização concertada". A psicóloga teve dificuldades em engravidar mas conseguiu, aos 35 anos. Muitas mulheres não o puderam fazer.
O governo dinamarquês e o Naalakkersuisut (administração da região autónoma) já abriu um inquérito sobre o sucedido, e os resultados são esperados em maio de 2025. Os primeiros dados só vieram a público em 1991, quando o setor da saúde passou a ser gerido pela administração autónoma. Até 1953, a Gronelândia foi uma colónia da Dinamarca e depois foi integrada no reino.
No início dos anos 70, a taxa de natalidade na Gronelândia caiu 50%.
"Podemos estabelecer agora as nossas fronteiras. Podemos recuperar os nossos recursos e lutar pela igualdade. Não éramos de todo iguais na Gronelândia quando nos fizeram aquilo. Nunca o teriam feito na Dinamarca às raparigas dinamarquesas", lamenta Naja Lyberth.
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