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Daniela Klette, a simpática dona da Malaika era uma criminosa procurada há 30 anos

Luana Augusto 02 de março de 2024 às 14:27

Foi membro da Facção alemã do Exército Vermelho e responsável por diversos ataques. Agora encontrada a viver num bairro de Berlim, sabe-se que durante 30 anos se dedicou a passear a sua cadela, praticou capoeira, e deu explicações de matemática e alemão.

Tinha por hábito passear a cadela, e sempre que o seu caminho se cruzava com o da vizinhança respondia com um sorriso. Para a vizinha Anna Spiering, a alemã era até bastante simpática, mas tudo mudou quando viu o rosto de Daniela Klette na televisão, no início desta semana.

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"Reconheci-a imediatamente", disse ao parar repentinamente a caminhada no bairro de Kreuzberg, em Berlim, com o seu cão Harry. É "estranho pensar agora que estava a trocar conversa fiada" com uma suposta terrorista.

Detida na noite da passada segunda-feira, 26 de fevereiro, sabe-se agora que a alemã, que era conhecida no bairro como a "dona da Malaika" (a sua cadela), conseguiu enganar toda a vizinhança. Daniela Klette constava já há vários anos na lista dos criminosos mais procurados da Alemanha.

Antigo membro da Facção alemã do Exército Vermelho (RAF) - grupo terrorista de extrema-esquerda que aterrorizou a Alemanha nas décadas de 1970 e 1980 e que terá sido responsável por 30 assassinatos e 200 ferimentos - Klette é suspeita de envolvimento em pelo menos 10 ataques armados e roubos. Um deles remonta a 1991, quando a embaixada dos Estados Unidos, em Bona, foi alvo de um ataque que envolveu armas de fogo. O outro caso remonta a 1993, quando uma prisão em Weiterstadt, foi bombardeada.

Desde então que Daniela Klette tem passado a maior parte do seu tempo num pequeno bairro de Sebastianstraß. Foi aqui que se dedicou a dar aulas de matemática e alemão, aos alunos locais. Além disso, a alemã ajudava também cidadãos turcos a escrever cartas às autoridades. No natal, fazia biscoitos para um dos vizinhos. Durante estas três décadas que se passaram esteve também profundamente envolvida num centro de cultura brasileiro, onde chegou até a praticar capoeira, artes marciais afro-brasileiras que combinam luta e dança.

Foi com este grupo que chegou a viajar para o Brasil, e para o qual terá utilizado um passaporte italiano falsificado. Acredita-se que a descoberta de fotografias com o seu grupo de capoeira, durante o carnaval, a sorrir, a atirar confettis e com uma bandana branca na cabeça, foi o que terá levado à sua detenção. No entanto, as autoridades não confirmaram este facto.

"Devido à nossa discrição sobre as nossas táticas de investigação, não podemos revelar como rastreamos as pessoas", disse o procurador Alexander Hege, aos meios de comunicação alemães.

Sabe-se apenas que na sua casa estiveram vários investigadores forenses. À saída do apartamento foram levadas várias caixas, sacos, uma bicicleta, uma arma antitanque, uma Kalashnikov, e uma pistola automática.

REUTERS/Liesa Johannssen


Quem assistiu a este episódio tentava digerir a notícia, sobre uma mulher que até consideravam ser amigável e gentil. "O que parecia estranho na época faz muito sentido, agora que sabemos quem ela realmente era, e que estava a tentar manter sua identidade em segredo", disse Anna Spiering, ao relembrar um episódio em que a Malaika mordeu o seu cão e Daniela recusou dar os seus contactos.

Já a polidora de diamantes aposentada, de 88 anos, Christa Missok, e que mora no sexto andar, disse que conheceu Daniela Klette há 12 anos, e que ambas se davam bem. "Como contei à polícia, ela era minha vizinha e dávamo-nos bem. Eu nunca poderia ter sonhado que ela era quem se tornou."

O metalúrgico aposentado, Lutz Nietet, foi o único que desconfiou que algo não batia certo na vida da vizinha. "Uma vez, quando os canos rebentaram, ela convidou-me para ir ao apartamento dela. Era bastante desarrumado, mas eu ofereci-me para lhe dar um casaco, porque sabia que não tinha muitos. Ela nunca aceitou a oferta", contou.

Sebastianstraße era até então conhecido pelo seu túnel de fuga de 30 metros de comprimento, que fora construído pelos alemães orientais que tentavam escapar do outro lado do muro de Berlim que atravessava o bairro. Além disso era também bastante famoso, pelo filmePossession, de 1981, que foi protagonizado por Isabelle Adjani e San Neill.

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