Centro ismaelita atacado em Lisboa. Que comunidade é esta?
Duas mulheres morreram e um homem ficou ferido esta terça-feira depois de um ataque com uma faca. O atacante também está ferido e entregue às autoridades. Vítimas eram trabalhadores do Centro Ismaili, que serve uma comunidade minoritária do islão xiita. No mundo são 15 milhões, em Portugal 10 mil.
O Centro Ismaili em Portugal foi esta terça-feira palco de um ataque, do qual resultaram duas vítimas mortais e um ferido. O atacante será um refugiado afegão que, segundo as informações divulgadas, foi encaminhado para o hospital depois de um confronto com as autoridades. As vítimas trabalhavam no centro dos ismaelitas, em Lisboa, que é também a sede mundial deste ramo da religião muçulmana. Mas afinal que comunidade é esta?
Falamos de um grupo minoritário de muçulmanos xiitas, ligados a uma corrente do islamismo, que vive espalhada pelo mundo, ao longo de mais de 25 países. Ao todo, serão 15 milhões, dos quais 8 a 10 mil vivem em Portugal. A maioria deles com origem em Moçambique com raízes na Índia.
Identificam-se como "uma comunidade ricamente diversificada dentro do ramo xiita do Islão, que pertencem a tradições etnogeográficas e linguísticas distintas", acreditam num único Deus e no profeta Maomé mas, ao contrário de outros muçulmanos xiitas, reconhecem um imã vivo escolhido através de uma linhagem hereditária oriunda do primeiro imã, Hazrat Ali, primo e genro do Profeta Muhammad.
Atualmente, o representante máximo da religião é o príncipe Karim Aga Khan (conhecido pelos ismaelitas como Mawlana Hazar Imam), que é reconhecido como o 49º imã hereditário e a quem é prestada a sua lealdade.
"O Imamato Ismaili é uma entidade supranacional, que representa a sucessão dos Imames desde a época do Profeta Muhammad. O papel do Ismaili Imam é espiritual e a sua autoridade é a da interpretação religiosa. Não têm papel político e, na era contemporânea, não governam nenhuma terra. Ao mesmo tempo, o Islão acredita fundamentalmente que os mundos espiritual e material estão inextricavelmente conectados. A fé não afasta os muçulmanos ou os seus imãs dos assuntos práticos e diários da vida familiar, dos negócios, dos assuntos comunitários. A fé, ao contrário, é uma força que deve aprofundar a nossa preocupação com nosso habitat mundano, de forma a abraçar os desafios e a melhorar a qualidade da vida humana", esclareceu Aga Khan IV num discurso ao parlamento do Canadá, em 2014, que está partilhado no site da comunidade.
No ano de 2010, o Governo português assinou um "acordo de fé" considerado "histórico" para o etsabelcimento do Imamato Ismaili em terras lusas e, em junho de 2015, Lisboa passava a acolher formalmente a sede da religião. O centro foi a sede até 2020, quando esta foi transferida para o Palacete Mendonça, na rua Marquês da Fronteira, em Lisboa.
No centro ismaelita funciona a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento que promove o diálogo interreligioso e intercultural. Também aqui é dado apoio a refugiados - sejam aulas de português ou apoio alimentar.
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