Sábado – Pense por si

A sangria nacional

05 de setembro de 2011 às 12:13

Os médicos de Luís XIV de França só tinham de dois remédios para aplicar às doenças da época: a purga e a sangria.

Os médicos de Luís XIV de França só tinham de dois remédios para aplicar às doenças da época: a purga e a sangria. Em termos económicos, a purga é a desvalorização que permite, depois, uma melhor circulação dos fluxos. A sangria correspondia ao bloqueio da liquidez e à diminuição do crédito do doente. O Governo português está a adaptar uma das técnicas dos médicos de Luís XIV: é pela sangria que quer salvar o doente. Nunca se sabe, porque a sangria pode levar a que o paciente nunca mais recupere as forças. Mas poucos duvidam que sem um aperto forte Portugal alguma vez se livrasse do pântano onde vai tentando nadar à custa do crédito. Até hoje a sangria tem sido feita à base de impostos. Mas a factura mais dolorosa virá a seguir: o emagrecimento brutal do Estado social. A generalidade dos portugueses, e especialmente a classe média, vai ser sangrada de duas maneiras: pagará mais impostos para ter menos serviços. E este sistema, que será um esgar maldoso do dos países do norte da Europa (onde pagar mais impostos é o contraponto de mais benefícios sociais), vai ser regra durante muito tempo. A história dirá se o prometido emagrecimento do Estado será feito através dos benefícios e da sua burocracia nascida pela sua partidarização, ou se esta sobreviverá à sangria. Ninguém tem dúvidas que o Estado social como o conhecemos foi um milagre da sociedade de consumo. Esse mundo terminou. Mas isso não implica que a estabilização da sociedade portuguesa seja apenas feita à custa de impostos e do fim de benefícios. A grande reforma do Estado passa pela sua despartidarização. Será que a sangria chegará aí?

Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login

Assinatura Digital SÁBADO GRÁTIS
durante 2 anos, para jovens dos 15 aos 18 anos.

Saber Mais
Bons costumes

Um Nobel de espinhos

Seria bom que Maria Corina – à frente de uma coligação heteróclita que tenta derrubar o regime instaurado por Nicolás Maduro, em 1999, e herdado por Nicolás Maduro em 2013 – tivesse melhor sorte do que outras premiadas com o Nobel da Paz.

Justa Causa

Gaza, o comboio e o vazio existencial

“S” sentiu que aquele era o instante de glória que esperava. Subiu a uma carruagem, ergueu os braços em triunfo e, no segundo seguinte, o choque elétrico atravessou-lhe o corpo. Os camaradas de protesto, os mesmos que minutos antes gritavam palavras de ordem sobre solidariedade e justiça, recuaram. Uns fugiram, outros filmaram.