Secções
Entrar

Todos os partidos concordam em fechar de vez a porta à discriminação na doação de sangue

06 de outubro de 2021 às 18:54

O Instituto Português do Sangue arquivou este mês três processos de inquérito a profissionais por alegadas práticas discriminatórias na doação de sangue de homens homossexuais.

Os partidos políticos com assento parlamentar concordaram hoje na necessidade de proibir a discriminação dos doadores de sangue em função da orientação sexual e defenderam que se feche de vez a porta à questão.

Na agenda da reunião plenária de hoje estiveram quatro projetos de lei para acabar com a discriminação dos doadores de sangue em função da orientação sexual e identidade de género, na sequência de denúncias sobre situações que persistem e, da esquerda à direita do hemiciclo, houve um consenso generalizado.

"Se ciência é clara, a igualdade não pode estar sujeita a novas ambiguidades, ela precisa de força de lei e é isso que o PS quer fazer com o projeto que hoje discutimos", sublinhou o deputado socialista, Miguel Matos.

Um dos projetos que esteve hoje em discussão partiu precisamente do PS, que quer alterar o Estatuto do Doador com uma iniciativa que "protege, com força de lei, a não-discriminação de homens que fazem sexo com homens na dádiva de sangue", pretendendo, ao mesmo tempo, promover a dádiva de sangue junto dos jovens.

Na apresentação da proposta, o deputado Miguel Matos recordou o "caminho de progresso lento" que foi percorrido na última década e sublinhou que ainda não está concluído, já que continuam a conhecer-se situações de discriminação.

"Está na hora de o parlamento, mais uma vez, dizer que a homofobia não tem lugar neste gesto nobre e solidário", apelou o deputado do PS, defendendo que "o preconceito não se pode mascarar de fundamento científicos, que já se mostrou não existirem".

A intenção dos socialistas foi também a intenção partilhada pelos outros proponentes. Da parte do BE, repetiu-se a necessidade de tomar decisões com base na informação científica e de fechar definitivamente a porta à discriminação.

"São muitos os pontos de encontro das quatro propostas", sublinhou a deputada Fabíola Cardoso, manifestando-se otimista com um entendimento entre os várias bancadas parlamentares para "acabar definitivamente com esta humilhante e abjeta discriminação".

Além de concordarem com o objetivo final das propostas, os deputados concordaram também na justificação e houve uma mensagem comum, partilhada por todos, de que não existem grupos de risco, mas antes comportamentos de risco.

"O processo de doação de sangue tem que cumprir parâmetros científicos e técnicos que garantam a sua segurança em todo o processo, mas não podem entrar nesta equação critérios de natureza subjetiva ou discriminatória", sublinhou a deputada do PAN, que apresentava igualmente um projeto de lei, bem como a deputada não-inscrita Cristina Rodrigues, que classificou de intolerável a discriminação da doação de sangue.

Ao longo do debate, quase todos os partidos adiantaram que acompanhariam as propostas, replicando muitos dos mesmo argumentos, como a deputada do PSD, Catarina Rocha Ferreira, que sublinhou que "deve ser a ciência a definir a base da nossa política".

"Não existem quaisquer factos que justifiquem qualquer diferenciação, ou seja, está cientificamente comprovado que a orientação sexual de um doador não coloca em causa a qualidade do sangue que é recolhido", frisou a deputada.

Já a deputada Paula Santos do PCP insistiu que "não faz sentido fazer a avaliação de risco em função da orientação sexual, mas em função dos comportamentos individuais de cada um", e Mariana Silva do PEV defendeu que "os dadores de sangue, sejam quem forem, têm de ser tratados como heróis.

O apoio às iniciativas apareceu também dos mais conservadores, com Telmo Correia do CDS-PP a considerar que a resposta é "direta, simples e óbvia" quando se questiona se alguém pode ser discriminado em função da sua orientação sexual, mas a criticar as intervenções de alguns deputados por recusar que exista uma "intenção discriminatória por parte dos profissionais de saúde".

Diogo Pacheco de Amorim, que ainda substitui o líder do Chega, André Ventura, na Assembleia da República, sublinhou também o papel da ciência, mas considerou que o país começa "a ter leis a mais", desvalorizando assim a necessidade de legislar sobre este tema.

Por outro lado, João Cotrim de Figueiredo, da IL, colocou-se ao lado dos proponentes, defendendo que "esta luta não acabou com a alteração da norma (da Direção-Geral da Saúde), e é preciso que a lei a salvaguarde também".  

Em março, a Direção-Geral da Saúde atualizou a norma que define os critérios de inclusão e exclusão de dadores de sangue, determinando que a triagem clínica "é feita de acordo com os princípios da não-discriminação".

O Instituto Português do Sangue arquivou este mês três processos de inquérito a profissionais por alegadas práticas discriminatórias na doação de sangue de homens homossexuais, entendendo não haver factos que justifiquem infração disciplinar.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela