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Líder sérvio bósnio Karadzic condenado a 40 anos de prisão

24 de março de 2016 às 15:11

Era acusado de genocídio e crimes contra a humanidade. Guerra na Bósnia matou 100 mil pessoas

Radovan Karadzic foi condenado a 40 anos de prisão. O Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia considerou o antigo líder dos sérvios bósnios culpado do genocídio de Srebrenica e de outras nove acusações de crimes de guerra.

É a figura política de maior importância a ser condenada por este tribunal. Só foi inocentado de uma das onze acusações que sobre ele recaíam: de genocídio em cidades da Bósnia. 


No final de um longo processo histórico, o fundador da Republika Srpska (RS, a entidade política que hoje partilha a Bósnia a par da Federação croato-muçulmana) foi designadamente acusado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ, uma instituição judicialad hoc da ONU) de envolvimento directo no massacre de Srebrenica e no cerco de Sarajevo, consideradas as piores atrocidades cometidas na Europa após a Segunda Guerra mundial.

Aos 70 anos, Karadzic foi indiciado por 11 actas de acusação por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos durante a guerra na Bósnia (Abril de 1992 - Novembro de 1995) que provocou mais de 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados.

De acordo com a acusação, pretendia dividir a Bósnia e "expulsar em definitivo os muçulmanos e croatas dos territórios reivindicados pelos sérvios da Bósnia".

Para o procurador Serge Brammertz, o julgamento de Karadzic é "um dos mais importantes da história do TPIJ" não apenas pelo número de vítimas mas porque revela "a responsabilidade de homens políticos no sofrimento do seu povo", disse em declarações à agência noticiosa France-Presse.

Radovan Karadzic era designadamente acusado de genocídio pelo massacre de cerca de 8 mil homens e adolescentes muçulmanos em Srebrenica em Julho de 1995, e que segundo a acusação se inscrevia no plano de "limpeza étnica" planificado por Karadzic, por Ratko Mladic (o chefe militar dos sérvios bósnios e também em julgamento no TPIJ) e por Milosevic após o desmembramento da Jugoslávia.

É ainda acusado de genocídio em outros municípios da Bósnia, mas também deve responder por perseguições, mortes, violações, tratamentos inumanos ou transferências forçadas de populações.

A acusação também lhe atribuiu a responsabilidade pelo cerco de Sarajevo, que se prolongou por 44 meses e provocou 10 mil mortos, para além dos campos de detenção com "condições de vida inumanas".

Em entrevista concedida na quarta-feira ao BIRN, uma rede digital de jornalistas da região balcânica, o ex-líder sérvio bósnio disse que espera ser "absolvido" e assegurou que manteve um "combate permanente pela paz", considerando que a "ingerência de potências estrangeiras na crise" impediu um acordo político antes do início da guerra, em Abril de 1992.

Antes, em Janeiro e Março de 1992, Karadzic participou em Lisboa, juntamente com os então líderes muçulmano e croata bósnios, Alija Izetbegovic e Mate Boban, na miniconferência de paz mediada pelo embaixador português João Cutileiro, que resultou na assinatura do Acordo de Lisboa, que acabou por fracassar.

Após ter-se considerado "não culpado" perante a instância judicial em Março de 2009, o seu processo com mais de 47.500 páginas de transcrições e 115 mil páginas de elementos de prova terminou em Outubro de 2014, na sequência de 497 dias de audiências e 586 testemunhas.

Karadzic manteve sempre a sua posição incorrigível no decurso do julgamento e no final de 2012 declarava aos juízes do TPIJ: "Fiz tudo o que era humanamente possível para evitar a guerra e reduzir o sofrimento humano".

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