Secções
Entrar

Escritor cabo-verdiano Germano Almeida não gosta da expressão "lusofonia"

27 de outubro de 2021 às 16:23

Prémio Camões em 2018 considerou que a língua portuguesa não representa "uma cultura lusófona".

O escritor cabo-verdiano Germano Almeida, prémio Camões em 2018, disse hoje, no festival Escritaria, em Penafiel, não gostar da expressão lusofonia, considerando que a língua portuguesa não representa "uma cultura lusófona".

"Eu não gosto muito da expressão lusofonia. Somos escritores de diversos países que usam a língua portuguesa como língua de contacto, como língua de expressão, mas não é uma cultura lusófona", afirmou na conferência de imprensa do evento que hoje se realizou no museu municipal daquela cidade do distrito do Porto.

O escritor, que está a ser homenageado pelo festival Escritaria até domingo, acrescentou: "Nós temos muitos pontos comuns, obviamente, sobretudo Cabo Verde, que é um país feito pelos portugueses. Mas as ilhas - não só a sua orografia, mas sobretudo a ausência de meios de vida, a falta de chuva, sobretudo - fizeram de nós pessoas diferentes".

Segundo o autor, "é isso que a gente tenta traduzir na literatura e na música".

"Isto [língua comum] pode ser um elemento importante para os países de expressão portuguesa, mas não nos faz lusófonos; 'lusógrafos' sim", observou aos jornalistas.

Sublinhando que teve sempre com Portugal, onde estudou e fez serviço militar, "uma relação ótima", ressalvou que os portugueses não fizeram dos cabo-verdianos portugueses.

"Portugal foi sempre uma presença estranha. Nunca me senti português, sempre me afirmei cabo-verdiano. Mas, se um dia Cabo Verde desaparecesse, o país que eu adotaria seria Portugal, mais nenhum outro", acentuou.

O ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, vai estar em Penafiel, no Festival Literário Escritaria.

O governante cabo-verdiano participará na conferência "O papel da Lusofonia | À conversa com Germano Almeida e Abraão Vicente", além de outras iniciativas incluídas na programação oficial do festival, até 31 de outubro, disse hoje o presidente da câmara de Penafiel, Antonino Sousa.

O festival literário Escritaria de Penafiel inclui dezenas de atividades dedicadas ao livro, ao teatro, a exposições, música e artes de rua.

"Germano Almeida, um dos mais proeminentes escritores em língua portuguesa, terá silhueta e frase em Penafiel para memória futura, a par com os anteriores homenageados", assinala a organização.

No sábado, será lançado o novo romance de Germano Almeida, "A Confissão e a Culpa", o último volume da sua "Trilogia do Mindelo".

Lídia Jorge, Pepetela, Manuel Alegre, José Saramago, Alice Vieira, Mário de Carvalho, Mário Cláudio, Agustina Bessa-Luís são alguns outros escritores homenageados em edições anteriores do festival.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela