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Benfica denuncia "grave conduta" do presidente da federação de judo

20 de setembro de 2019 às 20:52

Em causa estarão "várias intervenções públicas e privadas e de decisões injustificáveis".

O Benfica anunciou hoje que vai fazer uma exposição às principais autoridades desportivas do país contra as "atitudes" e alegada "grave conduta" do presidente da Federação Portuguesa de Judo.

A ação do clube lisboeta acontece "na sequência de várias intervenções públicas e privadas e de decisões injustificáveis de Jorge Fernandes", que os 'encarnados' classificam de "inadequadas, irresponsáveis e não condizentes de todo com aquilo que deveria ser o desempenho da respetiva função num organismo de utilidade pública".

Para denunciar o que considera ser uma "grave conduta", o Benfica "vai enviar uma exposição formal à Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, ao IPDJ [Instituto Português do Desporto e Juventude] e ao Comité Olímpico de Portugal (COP)".

Entre outros temas, o Benfica fala da não inscrição de Rochele Nunes no Grande Prémio de Tashkent, no qual poderia amealhar pontos para o 'ranking' olímpico, e da dispensa do treinador Go Tsunoda no decorrer do último Mundial, em vésperas da participação da sua atleta Telma Monteiro.

"É possível justificar intervenções junto de treinadores e atletas, com voz alta e grave, em que se exclama este teor: 'a federação está acima de todos, incluindo o COP e os clubes?' É assim que se gere a elite do judo nacional?", questionam os 'encarnados'.

As 'águias' referem ainda a imposição da imagem de um patrocinador da federação e a proibição da ostentação do emblema dos clubes no espaço à disposição dos atletas.

"Por que se arroga tantas vezes de ser 'o presidente eleito'? Por ter sido escolhido em eleições, pode impor-se tanto ao bom senso como a outros responsáveis federativos, técnicos ou regulamentos da FPJ'", acrescenta o Benfica.

Os lisboetas esperam que o dirigente exerça o poder com "sentido de responsabilidade, capacidade de escuta, respeito pelo papel dos clubes e uma estratégia que dê condições fundamentais aos atletas", ao invés do que entendem ser "um ambiente de permanente conflito junto dos judocas de maior potencial".

"Com a contagem decrescente a acelerar para Tóquio 2020, decidiu este dirigente, numa atitude lamentável, esquecer a ação de gerir e passar à de gerar... uma série de conflitos. Serão muitos os factos dados a conhecer às entidades competentes", diz o clube, que promete levar o caso "até às últimas consequências".

O Benfica revela que está a avaliar "a possibilidade de recorrer aos tribunais para que sejam repostos os prejuízos materiais e de imagem do clube e seus atletas, assim como a legitimidade desta federação em ostentar o estatuto de utilidade pública".

Leia o comunicado do Benfica na íntegra:

"Na sequência de várias intervenções públicas e privadas e de decisões injustificáveis de Jorge Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), que classificamos de inadequadas, irresponsáveis e não condizentes de todo com aquilo que deveria ser o desempenho da respetiva função num organismo de utilidade pública e na defesa de uma das modalidades que mais tem engrandecido o país, o Sport Lisboa e Benfica informa que vai enviar uma exposição formal à Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, ao IPDJ e ao Comité Olímpico de Portugal (COP) sobre esta grave conduta.

Para se estar no desporto não basta repetir incessantemente, com tempos verbais na primeira pessoa do singular, que se detém e exerce o poder. Pelo contrário, o sentido de responsabilidade, a capacidade de escuta, o respeito pelo papel dos clubes e uma estratégia que dê condições fundamentais aos atletas deve ser a prioridade. Em contraponto com um ambiente de permanente conflito junto dos judocas de maior potencial.

Com a contagem decrescente a acelerar para Tóquio 2020, decidiu este dirigente, numa atitude lamentável, esquecer a ação de gerir e passar à de gerar... uma série de conflitos. Serão muitos os factos dados a conhecer às entidades competentes, mas algumas questões tornamos públicas: 

- estando a participação prevista e a verba orçamentada na Bolsa do COP, por que razão não foi realizada nem viabilizada – a expensas próprias – a inscrição da judoca Rochele Nunes no Grand Prix de Tashkent? Perdeu-se a possibilidade de a atleta somar, este fim de semana, no Uzbequistão, 700 pontos para o ranking olímpico. Qual foi o critério para não se cumprir uma prova que está no plano de atividades do COP?

- por que foi dispensado o treinador Go Tsunoda no decorrer do último Mundial, em vésperas da participação de Telma Monteiro, em prejuízo da atleta detentora da única medalha olímpica nos Jogos do Rio'2016?

- por que se arroga tantas vezes de ser "o presidente eleito"? Por ter sido escolhido em eleições, pode impor-se tanto ao bom senso como a outros responsáveis federativos, técnicos ou regulamentos da FPJ?

- por que está a ser imperativa a imagem de um patrocinador da FPJ num espaço do judogui que é para estar à disposição dos atletas?

- por que é proibida a ostentação do emblema dos clubes no espaço que é da responsabilidade e interesse "comercial" dos atletas?

- é possível justificar intervenções junto de treinadores e atletas, com voz alta e grave, em que se exclama este teor: "a federação está acima de todos, incluindo o COP e os clubes"? É assim que se gere a elite do judo nacional?

Ao Estado e ao Comité Olímpico competirá também analisar se este é o estilo de dirigente que, em pleno século XXI, deve decidir quais as expectativas e calendários de alguns dos melhores praticantes de judo atualmente em Portugal.

O Benfica levará este assunto até às últimas consequências, estando a ser avaliada a possibilidade de recorrer aos tribunais para que sejam repostos os prejuízos materiais e de imagem do Clube e seus atletas, assim como a legitimidade desta federação em ostentar o estatuto de utilidade pública.

Reiteramos que como entidade que se distingue pelo seu elevado investimento na formação de jovens e na alta competição em diversas modalidades, o Sport Lisboa e Benfica continuará de forma intransigente a defender as boas práticas e o diálogo saudável no relacionamento entre federações, clubes e atletas, para que nunca por nunca se esgotem oportunidades nem se desperdice potencial.

O desporto português, felizmente pejado de bons exemplos de resiliência com resultados positivos, assim o aconselha."

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