
O percurso sombra do preferido do PS
António Vitorino esteve ligado a mais de uma dúzia de empresas, abriu portas entre o poder político e o económico e já foi visado em várias polémicas.
António Vitorino esteve ligado a mais de uma dúzia de empresas, abriu portas entre o poder político e o económico e já foi visado em várias polémicas.
A autarquia recusou mostrar à SÁBADO as faturas dos almoços dos membros do executivo, para que a revista pudesse escrutinar quem estava presente e o que se gastou. Perdeu a primeira ação em tribunal, recorreu e voltou a perder. Os documentos mostram como durante 10 anos o vice-presidente, hoje ministro das Infraestruturas e Habitação, faturou à autarquia dezenas de refeições com personalidades ligadas ao PSD numa altura em que foi dirigente e candidato à liderança do partido.
Sem ofender a memória de pessoa falecida, Pinto Monteiro ia demolindo a credibilidade do MP, não fossem algumas bolsas de resistência. Nunca a separação de poderes viveu com tantos achaques como nesses anos.
Lucília Gago foi escolhida pelo PS, através de um conjunto de contactos feitos, no essencial, pela então ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e pelo próprio António Costa. Muita gente rejubilou quando o nome de Lucília Gago emergiu.
A prisão de Sócrates, a condenação de Vara, Isaltino Morais, Duarte Lima e Oliveira Costa, as investigações a Ricardo Salgado e à sua matilha, tudo isso criou um quadro de potencial mudança. Alguns acreditaram, mas a ilusão permanece: a tenaz continua.
Cavaco tranquiliza-nos com a segurança de que, não estando ele ao leme da Nação, a tratar de resolver as coisas por nós, poderão sempre estar delfins do seu conhecimento. Assim saibam beber os ensinamentos. Entreguemo-nos, portanto, ao sonho, porque jamais dormiremos tão descansados!
A complacência de António Costa com a corrupção tornou-se imagem de marca da sua maioria absoluta. É assim porque o primeiro-ministro quer que assim seja.
O tráfico de influências, como a corrupção e todos os crimes a ela associados, como o branqueamento, são uma espécie de crime para a vida. Ligam funcionário público ou político e corruptor ativo num pacto de silêncio.
A Operação Tutti Frutti é agora o foco dos defensores bacocos dos direitos e das liberdades. Quando o que os devia realmente preocupar é a enorme teia de podridão política e empresarial que está no processo (ou nos processos).
A guerra de Cavaco é ajudar-se a si próprio, apresentando a sua “década dourada” como um período imaculado de todos os pecados que atribuiu a António Costa: falta de autoridade política; populismo; hipocrisia; abusos de poder; mentiras e violação da ética política.
Pedro Santana Lopes diz que "qualquer comparação é ridícula", mas lançou o debate sobre se os "tantos casos, tantos" de António Costa deviam ter desfecho igual ao que levou à queda do seu Governo. A ideia torna importante puxar a fita atrás até 2004, mesmo que por agora Marcelo considere que o filme é bem diferente.
Este ciclo do PS de António Costa não é comparável ao de Sócrates, que instituiu uma forma delinquente de gestão do Estado e do Governo ao mais alto nível; que vendeu Portugal e empresas como a PT a pataco; nem sequer com o governo de Durão Barroso.
Os novos homens da mala dão dinheiro para depois ganhar a sério, com licenças de construção, concessões de serviços, jeitinhos em concursos. São eles os artífices da moderna corrupção, mas também são segredos inconfessáveis por quem, do lado dos partidos, recebe a mala.
Na mansidão das leis, no vácuo ético e na banalização dos conflitos de interesses, a regulação ética na política portuguesa está desenhada para a rapina.
Isabel II salvou a família real do colapso devido aos sucessivos escândalos mas, quanto ao mais, não mexeu uma palha contra o agravamento da estratificação social e económica, a favor da igualdade.
Uma maioria absoluta a coincidir com uma chuva de fundos europeus. Instituições frágeis e muita sede de “fazer obra”. Podemos estar de volta à parte sombria do cavaquismo.