Os sete arguidos são acusados dos crimes de infracção de regras de construção e ofensas à integridade física por negligência e as duas sociedades pelos crimes de infracção de regras de construção
O Ministério Público decidiu levar a julgamento sete pessoas e duas empresas no caso do surto da legionella no concelho de Vila Franca de Xira em 2014, anunciou a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) esta quarta-feira.
Segundo a PGDL, os sete arguidos são acusados dos crimes de infracção de regras de construção (conservação) e ofensas à integridade física por negligência e as duas sociedades pelos crimes de infracção de regras de construção.
As sociedades em causa são uma fábrica de adubos em Alverca do Ribatejo e a empresa responsável pelo tratamento da água existente nos circuitos de arrefecimento utilizados pela primeira, que incluem torres de arrefecimento.
Em Julho de 2016, o Ministério Público (MP) já tinha informado que sete pessoas e duas empresas, entre elas a Adubos de Portugal (ADP), tinham sido constituídas arguidas no âmbito deste inquérito.
A PGDL adianta que foi arquivado parcialmente o inquérito quanto à eventual verificação de um crime de poluição, por não se mostrarem preenchidos alguns dos respectivos elementos típicos.
A investigação, que o MP considera de "excepcional complexidade técnica e científica", teve por objecto o designado surto de legionella, ocorrido entre os meses de Outubro e Dezembro de 2014, na região de Vila Franca de Xira e concelhos limítrofes, respectiva origem, desenvolvimento e consequências, das quais se destacam um número significativo de pessoas infectadas pela chamada doença dos legionários.
De acordo com os indícios recolhidos, ficou "suficientemente provado" a relação entre a estirpe ST1905 da bactéria legionella pneumophila sg1, detectada nas amostras ambientais (água do 8º circuito de arrefecimento da fábrica de adubos), e a detectada nas amostras clínicas recolhidas em 73 pessoas.
A aspiração daquela bactéria, aerossolizada pelas torres de arrefecimento do referido circuito, provocou a morte a oito daquelas pessoas e lesões físicas graves ou simples nas demais.
Segundo a PGDL, o desenvolvimento e propagação da bactéria em causa ocorreu devido às "omissões conjugadas dos diversos arguidos constituídos, no cumprimento, que se lhes impunha, das regras técnicas e melhores técnicas disponíveis, divulgadas e comummente aceites pelas comunidades científica e empresarial".
"Daquelas omissões, destacaram-se as que impunham a limpeza física e desinfecção das estruturas e componentes dos circuitos de arrefecimento, incluindo a utilização de produtos biodispersantes, controlo microbiológico eficiente, mediante a realização de análises periódicas, incluindo à bactéria 'legionella' e tratamento da água daqueles circuitos", refere o MP.
De acordo com a PGDL, os factos ocorreram antes e após a paragem anual de dez dias do oitavo circuito de arrefecimento da fábrica de adubos, que decorreu no período compreendido entre 10 e 20 de Outubro de 2014.
O MP apurou também terem existido "condições propícias, por um lado, à multiplicação da bactéria e, por outro, à sua propagação através de aerossolização, nomeadamente, por causa das omissões referidas e associadas às condições atmosféricas existentes" na altura.
Em Novembro de 2014, o concelho de Vila Franca de Xira foi afectado por um surto de legionella que afectou sobretudo as freguesias de Vialonga, Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, causando 12 mortes e infectando 375 pessoas.
De todos os casos notificados à Direcção-Geral da Saúde, o MP só conseguiu estabelecer o nexo de causalidade em 73 situações, uma vez que nas restantes foi "inviável a recolha de amostras clínicas" ou "não foi identificada estirpe ou a estirpe identificada era distinta da detectada nas amostras ambientais recolhidas".
Assim, foi parcialmente arquivado o inquérito quanto a possíveis responsabilidades criminais por falta de provas indiciárias.
A investigação foi dirigida pelo Ministério Público do núcleo de Vila Franca de Xira do Departamento de Investigação e Acção Penal da comarca de Lisboa Norte, em colaboração com a Polícia Judiciária, além da contribuição de peritos nomeados e do apoio científico e técnico de outras entidades.
Legionella: Sete pessoas e duas empresas arguidos em Vila Franca
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
A escola é um espaço seguro, natural e cientificamente fundamentado para um diálogo sobre a sexualidade, a par de outros temas. E isto é especialmente essencial para milhares de jovens, para quem a escola é o sítio onde encontram a única oportunidade para abordarem múltiplos temas de forma construtiva.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.