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Jorge Castela: "Diverte-me ver alguns do Chega a converter-se a Trump"

Jorge Castela: 'Diverte-me ver alguns do Chega a converter-se a Trump'
Alexandre R. Malhado 20 de fevereiro de 2025 às 07:00

No dia em que se assinala um mês desde a tomada de posse de Trump, o advogado e autor Jorge Castela, fundador do Chega e primeiro ideólogo do partido, lança novo livro sobre o chefe de Estado norte-americano.

Assinala-se esta quinta-feira um mês desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tomou posse. Também como forma de assinalar a data, o advogado e autor Jorge Castela, fundador do Chega e primeiro ideólogo do partido, vai apresentar Trifecta - Como Trump venceu em 2016 e 2020 e com um landslide em 2024, a sua mais recente obra sobre o chefe de Estado norte-americano, pelas 18:30 na Livraria Almedina do Atrium Saldanha, com apresentação do historiador Jaime Nogueira Pinto. Trumpista convicto, é o segundo livro que publica sobre o presidente norte-americano — e o sucessor de uma obra sobre o regime de Vladimir Putin, em que assume em muitos aspetos a posição propagandista do Kremlin sobre a invasão russa da Ucrânia. 

Sobre a figura de Donald Trump, Castela revela agora à SÁBADO como André Ventura e outros dirigentes fundadores do Chega, oriundos do PSD, não simpatizavam com o atual chefe de Estado norte-americano, hoje uma das principais referências da cúpula do partido.

Quando André Ventura fundou o Chega consigo, o que é que ele achava de Donald Trump?

Primeiro, uma declaração de interesses: há 20 anos que sou (e continuo a ser) amigo do André Ventura. Nestes tempos, considero-o o melhor, mais sagaz, intuitivo e brilhante político português. Apesar de termos sempre tido posicionamentos diferentes - o André nunca deixou de ser um social-democrata europeísta, algo que nunca fui -, tem o meu respeito. Uma das divergências foi, aliás, relativa ao papel e importância que, já então, tínhamos em relação a Donald Trump. Ele apelidava-me, com o seu fleumático sentido de humor, de ser o seu Steve Bannon, mas o André não partilhava, então, de todo, as minhas análises, sobre a importância para a afirmação de um nacionalismo, livre e democrático, que Donald Trump protagonizava. Entretanto, como todos nós, evoluiu… e hoje já tem o "arrojo" de ser um seu "admirador"! Mais vale tarde, que nunca… [risos]

Então vê com estranheza dirigentes do Chega entusiasmados com a eleição de Donald Trump? Ou com a ida de André Ventura (em que ficou à porta) ao Capitólio?

[Risos] Estranheza? Não! Apenas me divirto a ver como alguns se converteram, taxados nas suas contradições e falta de espinha dorsal, que vai da região inferior do osso occipital do crânio (que não usam) até à ponta do cóccix (que usam). Desconheço se ficou à porta do Capitólio… mas com o frio de rachar que os termómetros registavam nesse dia em Washington, não deve ter sido muito agradável. Eu também estava para ir, mas como tinha julgamentos agendados, não me foi, de todo, possível aceitar o amável convite.

Donald Trump venceu novamente. Existem diferenças entre Donald Trump eleito em 2016 e em 2024?

Venceu e com um absoluto landslide [vitória esmagadora, em inglês]! Sob todos os ângulos de análise, uma trifecta [gíria associada à aposta em corridas de cavalos, quando se prevê o primeiro, o segundo e o terceiro lugares, na ordem exata]. Essa, quiçá, a principal diferença relativamente à sua eleição em 2016, pois, agora, a vitória foi plena: Colégio Eleitoral, no Senado, na Câmara dos Representantes, no colégio de Governadores e, em particular, mas de forma também clara, também no chamado "voto popular" – como já não acontecia, no GOP, desde os tempos de Ronald Reagan.

Mas não considera que com Trump existe uma Putinização da Casa Branca? O mundo ocidental parece estar cada vez mais em risco — e para os europeus, com isolacionismo institucional e aumento de tarifas, isso é uma má notícia.

Este chamado "mundo ocidental" está, de facto, em risco. Como o procurei objetivar neste meu livro Trifecta - Como Trump venceu em 2016 e 2020 e com um landslide em 2024 (e no anterior, Rússia versus Ucrânia | Nacionalismo versus Globalismo | Factos versus Propaganda), o mundo mudou e nada vai ser igual ao que o antecedeu. E mudou, exactamente, porque Donald Trump apresenta uma mundivisão que entra em ruptura direta com este Ocidente, que se encontra em clara decomposição, de políticas e de valores. O nacionalismo está de volta e todos os sinais

estão à vista, de países que se tentam libertar do jugo do "Politburo de Bruxelas". Estamos perante o "Fim de um

‘Mundo Unipolar", numa referência a Alexandr Dugin [ideólogo de Putin].

Foi por isso que decidiu escrever este livro sobre Donald Trump este mês?

Exactamente porque entendi que chegou o momento de se lançar uma pedrada no charco do atual status quo. Em boa verdade, todas essas projecções acabaram por ser integralmente confirmadas à medida que os resultados iam sendo conhecidos. Além disso, este livro é uma reação à gritante hipocrisia que foi grassando nos mainstream media contra todos os que tiveram coragem e continuam a ousar pensar fora da caixa. De certa maneira, este livro pode ser visto como uma sequela de um outro que publiquei em maio de 2024, Rússia versus Ucrânia.

No título do seu livro fala em como Donald Trump teve, e passo a citar, "três vitórias eleitorais consecutivas: 2016 – 2020 – 2024". Mas Donald Trump perdeu em 2020. É adepto da teoria da conspiração da fraude eleitoral em 2020?

Não, não é uma "teoria"… as fraudes eleitorais ocorreram, de facto, na eleições de 2020. Foram 12 a 14 milhões de "votos" contabilizados a favor de Joe Biden, por eleitores não identificados (vivos ou mortos). [A informação é falsa: além de as autoridades eleitorais recusarem qualquer fraude, os cientistas sociais que já estudaram o tema não encontraram qualquer indício de fraude sistémica.]  

Fugindo ao tema Trump, termino com o fenómeno da direita radical populista em Portugal. Volvidos seis anos, o partido que ajudou elegeu 50 deputados - alguns deles arguidos e acusados, suspeitos de furtos de malas, prostituição de menores, crimes informáticos, insolvências, difamação, entre outros. Em retrospetiva, que diagnóstico faz ao projeto do qual foi fundador?

O mérito de tão significativo grupo parlamentar é do André Ventura. Como já em 2018 dizia, "o Chega é o André, e o André é o Chega" – para o bem e para o mal! Depois de me ter afastado desse "ninho de vespas" alertei o André para os riscos em que incorria. Hoje, apesar de não conhecer nenhum desses deputados, receio que apenas uma meia-dúzia terá calibre intelectual e um registo criminal sem mácula. Esse projeto já não existe. Retrospectivamente, se tal lamento (e lamento pelo André, que sei ser uma pessoa de bem e a quem desejo as melhores venturas), regozijo-me por os meus filhos e a minha mulher se continuarem a orgulhar em usar o meu apelido!

De facto, ajudei-o a fundar o Chega em outubro de 2018 e alinhavei as bases dos primeiros documentos, como a declaração de princípios e o programa político, mas acabei por sair em 2019, no mesmo ano da fundação. Uma decisão que se veio a comprovar acertada, pois, já então, me apercebi que o, então, ainda "movimento" estava a ser infiltrado por oportunistas, alguns, mesmo, criminosos de delito comum, sem quaisquer princípios que não fossem arranjar um "emprego", por não o terem encontrado nos "partidos" a que pertenciam, nem qualquer empresa os admitiria nos seus quadros. 

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