Jerónimo Martins: "A Ordem não tem influência junto do poder político"

Jerónimo Martins, de 65 anos, é advogado há mais de três décadas. E, pela segunda vez, candidata-se contra Elina Fraga ao cargo de bastonário da Ordem dos Advogados (OA). Há três anos foi derrotado e o resultado do mandato da actual bastonária foi "uma oportunidade perdida", diz e transformou a OA num orgão "sem influência". Quer reverter o mapa judiciário "com urgência" e conquistar direitos para os jovens advogados. Questiona-se, por exemplo, por que uma mãe não tem direito a baixa de maternidade ou um pai não possa dar apoio aos filhos quando estão doentes. 

Como define o mandato de Elina Fraga?
Não podia ter sido pior e representou, como temos dito, uma oportunidade perdida, em todos os aspectos. O retrocesso social e profissional de que os Advogados foram vítimas será a marca de água do mandato que agora finda. A doutora Elina Fraga deixa uma herança demasiado pesada e que a Advocacia não merecia.
A Ordem dos Advogados tem mais ou menos influência hoje?
A Ordem dos Advogado não tem qualquer influência junto do poder político. Aliás, se há coisa em que a doutora Elina Fraga conseguiu superar o doutor Marinho e Pinto foi nisso: a pouca influência que a Ordem tinha, desapareceu. Tudo porque a agenda da senhora bastonária assenta em compromissos de curto prazo e exigências populistas e panfletárias. A minha prioridade imediata é inverter esta lamentável situação.

Os seus adversários têm questionado as contas da Ordem. Varela Gomes propõe uma auditoria. Guilherme Figueiredo refere que, caso seja eleito, fará uma gestão transparente. Qual é a sua opinião sobre a gestão actual das finanças da OA?
Posso dar-lhe uma visão geral e, também, concretizar. As contas da Ordem não são transparentes e nós pretendemos alterar essa situação. A nossa preocupação é tanta que escolhemos como candidato ao conselho fiscal um advogado que tem 16 anos de experiência a fiscalizar contas de uma multinacional, o doutor Eduardo Santos Pereira, e que é um exemplo de rigor, independência e espírito crítico.

Considera positiva a reversão do mapa judiciário?
O mapa judiciário tem de ser revisto. Melhor, a política subjacente à criação deste mapa judiciário deve ser revertida com urgência. A Justiça só o é se for entendível, é certo, mas próxima. É isso que defendemos desde o início e é por isso que fomos, durante esta campanha, a São Vicente, na Madeira, e a Nordeste, nos Açores.

Nesta campanha tem-se discutido a precariedade dos advogados, nomeadamente dos mais novos, que representarão talvez pouco mais de metade do total de profissionais desta classe no País. Que problemas identifica e o que propõe fazer?
Identificámos, desde há algum tempo, quatro problemas base que afectam os jovens advogados: afirmação profissional, disponibilidade para formação contínua, instalação e apoio da Ordem dos Advogados. Não admitimos, por exemplo, que uma jovem mãe não tenha apoio a maternidade, não tenha direito a baixa. Não aceitamos que um jovem pai não possa acompanhar os filhos na doença. Não quero que os advogados, no seu todo, não tenham direito a cuidados de saúde num regime de igualdade com os demais prestadores da justiça! Sou o único candidato a bastonário com este programa, mas sei que estou no caminho certo.
Esta é a sua segunda candidatura a bastonário da Ordem dos Advogados. Que resultado antecipa?
Não antecipo cenários, embora tudo indique, face aos dados que dispomos, que disputarei a segunda volta contra a doutora Elina Fraga. Aí talvez a senhora bastonária aceite debater os programas… o que, como sabem, não aconteceu, para vergonha da nossa profissão.

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