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Ventura inventou a meia derrota na noite da “ressurreição” do bipartidarismo

Alexandre R. Malhado 13 de outubro de 2025 às 03:15

Líder do Chega tinha apontado a "dezenas" de autarquias, mas só conseguiu três e ficou atrás de PCP e CDS. Nunca se viu tão pouca festa em noites eleitorais do Chega.

Nem parecia o mesmo partido. Desde as presidenciais de 2021, a sala de conferência Nova Iorque do Hotel Marriott, em Lisboa, tem servido de quartel-general do Chega em noites eleitorais. Em todas elas, bandeiras esvoaçam e berros e cânticos, ora de glória (e culto de personalidade de André Ventura), ora de humilhação aos derrotados. E o tom tem vindo a ser em crescendo: 7,28% em 2022, 18,07% em 2024, 22,76% em 2025. Na última eleição, que colocou o partido de direita radical como segunda força parlamentar, acima do PS, o que se ouviu foi: “‘Ventura chegou, o sistema abalou… Ó Pedro vai para casa chorar, o Ventura chegou para ficar’.” Hoje, o Chega ficou atrás da CDU, que se mantém a terceira força autárquica, e CDS-PP, que ganhou seis câmaras – e não se ouviram cânticos, nem quase se agitaram bandeiras.
André Ventura reconhece resultado aquém nas autárquicas, mas mira presidenciais JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
"O bipartidarismo ressuscitou (mas por muito pouco tempo)", afirmou André Ventura, o presidente do Chega, no seu discurso autárquico, uma noite que ele apelida como “boa”. E foi assim que começou o discurso , enumerando os aspetos positivos deste resultado: "O Chega mais que quadruplica o resultado das eleições autárquicas”; “O Chega venceu também hoje as suas primeiras câmaras municipais na história do partido”; “O Chega será força fundamental para desbloquear gestão autárquica". Contudo, quando parecia que estava a proclamar vitória, Ventura troca de semblante o rosto vira soturno, o que era vitória soa a derrota. “Não sou o PCP que ganha sempre”, avisou. O líder do Chega tinha apontado inicialmente para a conquista de 30 autarquias, “metade dos concelhos ganhos nas eleições legislativas”, mas ao longo da corrida foi corrigindo para “dezenas”. Acabou por eleger três presidentes de câmara: São Vicente (Madeira), Entroncamento (Santarém) e Albufeira (Faro). "Hoje tivemos uma boa noite política, mas queríamos mais"; "O Chega não atingiu por isso todos os seus objetivos"; “Esta não era a vitória, nem a amplitude da vitória que queríamos.” A “meia derrota”, expressão que Ventura acabaria por usar mais tarde ao visitar o Entroncamento, uma das três autarquias vencidas pelo Chega este domingo, vive destes dois factos: por um lado, o Chega, que nunca tinha vencido qualquer autarquia, conquistou pela primeira vez três municípios; por outro, esperava uma transposição maior do resultado das legislativas e mais autarquias. E algumas câmaras estiveram perto de virar para o Chega: a conquista de Sesimbra esteve por 147 votos e o Montijo por 631, por exemplo. O País ainda está pintado a laranja e vermelho, o bipartidarismo deu sinais de vida no poder local. Ventura empurra as responsabilidades deste "resultado aquém", como o próprio descreveu, para "as armadilhas do sistema" e, já de olho na próxima, pede vingança nas presidenciais, onde pede "o enterro final do bipartidarismo".
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