Rangel descompôs e chamou “terroristas anti-Hamas” a deputados do PSD
O ministro dos Negócios Estrangeiros teve uma conversa semi pública com vários parlamentares, e deixou estupefacto quem estava a sua volta. “Foi uma descompostura”, descreve quem assistiu.
Na sala ao lado de onde acontecia a tomada de posse nos novos seis secretários de Estado do Executivo, dia 13, no Palácio da Ajuda, acumulavam-se convidados, familiares e acompanhantes dos novos governantes, assim como deputados e muita gente do PSD. E um episódio deixou alguns desconcertados. Quem assistiu descreve-o como uma "descompostura praticamente em público" do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, a um grupo de quatro deputados do PSD. Quem assistiu frisa àSÁBADOque "Rangel não estava propriamente a falar baixo, muita gente ali se apercebeu do que se tratava" - consistiu numa "reprimenda" do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel a deputados do PSD que estavam juntos e todos com ligações à área da política externa: Bruno Ventura, Carlos Reis, Liliana Reis e Regina Bastos. O tom de "ataque" manteve-se ao longo de toda a interação, refere a mesma testemunha.
Rangel abordou inicialmente os deputados dirigindo-se-lhes como "terroristas anti-Hamas", repetiu depois o termo "terroristas" e manteve sempre um tom crítico. Os quatro parlamentares estiveram recentemente, com outros, numa visita oficial a Israel, com contactos com o governo e militares. De acordo com uma segunda testemunha do ocorrido, que também pediu à SÁBADO para não sei identificada, o ministro acusou os deputados de terem ido "passar informações" sobre Portugal a Israel. O ocorrido causou estupefação. Entre os deputados visados, houve silêncio, e apenas Bruno Ventura, de acordo com quem assistiu, respondeu ao ministro, no final da interação, com: "Ainda há separação de poderes e somos deputados eleitos."
A "cena" (expressão de quem a viu) foi de tal forma evidente que já depois de o ministro se afastar um grupo que estava meramente a assistir se dirigiu a um dos deputados para questionar porque é que o ministro lhes tinha estado "a dar uma descompostura"?
O caso parece evidenciar algum desalinhamento do ministro face a deputados do seu partido que considerará, aparentemente, mais pró-Israel do ele próprio ou a posição do executivo.
O deputado Carlos Reis, sobre o episódio, assegura que se tratou de "uma conversa normal, e normal que haja conversas entre o MNE com deputados que tem ligações com ele, até porque estão na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros", mas não detalha o conteúdo da conversa.
Também Bruno Ventura, outro dos presentes, diz: "O Ministro dos Negócios Estrangeiros não dá descomposturas a deputados, no nosso regime constitucional. A mim não me dá. Mas é normal e razoável que converse comigo e com os meus colegas." Já sobre o conteúdo, não quis adiantar detalhes: "Sobre isso nada vou dizer, tratou-se de uma conversa privada entre o ministro e deputados."
Também o MNE defende a normalidade do encontro com os deputados. Em resposta à SÁBADO, o ministério liderado por Paulo Rangel escreve: "Tendo o Ministro dos Negócios Estrangeiros acabado de regressar do périplo pelo Médio Oriente e estando presentes na tomada de posse deputados que tratam precisamente dessa matéria/pasta, é normal a troca de impressões sobre esse e outros temas. Foi isso que sucedeu."
Esta não é a primeira vez que Rangel é surpreendido em momentos em que exprime desagrado de forma enfática. Já em outubro último, a CNN noticiou que o ministro insultou dois militares na base aérea de Figo Maduro, levantou a voz para o Chefe do Estado Maior da Força Aérea e recusou cumprimentar o coronel Abel Oliveira, comandante da base, que, se vê nas imagens a ser deixado de mão estendida.
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