Secções
Entrar

João Ferreira critica Marcelo: "Tomou sempre o partido dos mais fortes"

28 de novembro de 2020 às 12:22

Sem nunca mencionar o nome do Presidente da República, o candidato presidencial do PCP afirmou que Marcelo ignorou os "valores de abril" e defende que Portugal pode ser "mais desenvolvido, mais justo e soberano".

João Ferreira, candidato presidencial apoiado pelo PCP, apontou este sábado dez falhas ao atual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, e alertou que as eleições presidenciais de 24 de janeiro de 2021 vão influenciar a vida dos portugueses, "para o bem ou para o mal".  

Num discurso ouvido em silêncio no segundo dia do XII congresso do PCP, em Loures, Lisboa, o eurodeputado comunista falou apenas do "mal" de Marcelo durante os últimos cinco anos, sem nunca mencionar o seu nome.

Há "valores de Abril" na Constituição que o atual Presidente ignorou e teve, acusou, "uma ação que contribuiu, direta ou indiretamente, para degradar as condições de vida dos trabalhadores.

Esta foi a primeira falha, seguindo-se o que fez para "conter e nunca para promover a evolução dos salários, num país em que muitos empobrecem a trabalhar", para "por em causa o Serviço Nacional de Saúde, caucionando o desvio de recursos públicos para alimentar o negócio da doença".

"Nada disto pode ser letra morta nas páginas da Constituição, como alguns gostam. Tudo isto tem de ser realidade concreta na vida do país", disse.

Nas ações do Presidente da República esteve, segundo João Ferreira, um "confronto" entre "interesse público" e pequenos empresários, e os "interesses dos grupos económicos e financeiros", criticando que Marcelo "tomou sempre o partido" dos mais fortes.

O candidato comunista à presidência criticou ainda o chefe de Estado pela pouca preocupação pelo "interior abandonado" e na valorização da cultura. Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa, "num momento crítico", ajudou a "fragilizar direitos, liberdades e garantias, intrínsecos ao regime democrático, algo que a emergência sanitária não justifica".

João Ferreira fez ainda um ataque aos partidos de direita, com uma referência implícita à extrema-direita e ao Chega, que não nomeou. "Os problemas estruturais que Portugal arrasta não serão resolvidos com a política de direita que os criou, nem obviamente com as variantes demagógicas, populistas e assumidamente antidemocráticas dessa política.

Pelo contrário, os problemas "resolvem-se com a ação determinada" do povo, acrescentou.

"Um povo que aclamou o Mestre de Avis, resgatou do domínio espanhol a independência nacional, derrubou uma monarquia decrépita e instaurou a República, combateu o fascismo e forjou esse tempo luminoso de Abril, saberá encontrar e percorrer os caminhos do desenvolvimento e do progresso, que concretizem as suas mais fundas aspirações", disse.

Aplaudido de pé no início e no final, João Ferreira disse ser necessário "abrir um horizonte de esperança na vida deste país" nestas eleições.

"Seja pelo conteúdo concreto dos poderes do Presidente da República, seja pela dinâmica que estas eleições comportam e induzem, elas não deixarão de influenciar significativamente, para o bem ou para o mal, o curso da vida nacional", alertou o candidato presidencial do PCP.

Terminando o seu curto discurso, João Ferreira disse que Portugal pode ser "mais desenvolvido, mais justo e soberano".

O XXI congresso do PCP entrou este sábado no seu segundo dia de trabalhos, no qual os delegados vão eleger o novo comité central e depois é escolhido o secretário-geral, devendo continuar Jerónimo de Sousa.

Durante o dia do congresso, no pavilhão Paz e Amizade, em Loures, Lisboa, está previsto para a tarde que os delegados, reduzidos a metade do habitual – 600 – devido à crise pandémica de covid-19, procedam à eleição o novo comité central, na base da proposta feita pelo Comité Central cessante. Depois de eleito, o novo comité central reúne-se para eleger os seus organismos executivos e escolher o secretário-geral, que deverá continuar a ser Jerónimo de Sousa, no cargo há 16 anos, desde 2004.

O comité central é o organismo que dirige a atividade do partido no intervalo dos congressos, "assumindo a responsabilidade de traçar, de acordo com a orientação e resoluções dos congressos, a orientação superior do trabalho político, ideológico e de organização do partido", estipulam os estatutos do PCP.

Antes do congresso, Jerónimo nunca foi taxativo sobre o assunto, mas admitiu implicitamente continuar à frente do partido após o congresso. A lista do comité central do PCP vai respeitar a "regra de ouro" fixada por Álvaro Cunhal de ter uma maioria de membros de origem operária, no caso 44,96%.

De acordo com a proposta de composição do órgão máximo de direção dos comunistas, a lista "inclui 129 camaradas", uma redução relativamente ao anterior, há 33 saídas e 19 são novos dirigentes.

De saída deste órgão estão o ex-secretário-geral Carlos Carvalhas, o antigo líder da CGTP Arménio Carlos e o ex-deputado Agostinho Lopes. A lista ainda é passível de alterações, antes da sessão fechada, agendada para hoje.

O congresso termina no domingo, com o discurso de encerramento do secretário-geral.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela