Famílias transformam lojas devolutas em habitação num bairro de Lisboa
Várias famílias têm ocupado ilegalmente e transformado em habitação lojas devolutas num bairro municipal na Ameixoeira, em Lisboa, onde vivem com poucas condições, baixos rendimentos e filhos pequenos.
Várias famílias têm ocupado ilegalmente e transformado em habitação lojas devolutas num bairro municipal na Ameixoeira, em Lisboa, onde vivem com poucas condições, baixos rendimentos e filhos pequenos.
"Tive de arrombar uma loja para viver com os meus filhos, não vou viver na rua com eles", conta Samuel Gouveia, de 31 anos, em declarações à Lusa.
Após viver num quarto com a mulher e os dois filhos numa casa com 11 pessoas, decidiu ocupar ilegalmente um estabelecimento devoluto, sito no rés-do-chão, "ocupado por drogados" e onde prevaleciam "ratos e seringas".
O homem afirma que já gastou "dois mil ou três mil euros" na reabilitação do espaço que encontrou destruído. Construiu uma casa de banho, colocou teto falso, está a compor a cozinha aos poucos e colocou Internet e televisão para entreter os filhos.
Questionado sobre se a autarquia tem conhecimento da sua ocupação, diz achar que sim.
"A polícia municipal passa aqui e não tem dito nada. Olham cá para dentro e está tudo limpinho", refere.
No entanto, ressalva que a casa não é sua e podem retirá-lo a qualquer momento, pelo que tem receio de investir muito mais dinheiro.
"Se houver possibilidade [de legalizar o espaço que ocupa] eu pago a renda sem problema", vinca.
A poucos metros, a Lusa encontra mais uma loja devoluta ocupada por um outro casal jovem, de 25 e 27 anos, com um filho de um ano. Luís Ramos vive naquele espaço há cinco anos e está desempregado há cerca de um, tendo trabalhado anteriormente como cantoneiro.
"Isto aqui antes era um local onde o pessoal vinha para aí fumar 'ganzas'", conta, apontando para o espaço que foi reabilitando aos poucos "com umas economiazinhas" que tinha.
O homem destaca que foi "a primeira pessoa" a ocupar uma das várias lojas devolutas situadas naquele bairro e, à semelhança de Samuel, acredita que a "Polícia Municipal e a Gebalis têm conhecimento" da sua ocupação ilegal.
Também Jorge e Sónia ocupam um antigo estabelecimento, entretanto deixado ao abandono, naquele bairro municipal localizado na zona da Ameixoeira.
O casal, ele com 23 anos e ela com 18, tem um filho de três, encontrando-se neste momento à espera de um segundo filho. Juntos, recebem o rendimento mínimo social de reinserção, no valor de 379 euros e, à semelhança de outros casos, estão inscritos nos programas de rendas sociais da autarquia lisboeta.
Os dois garantem estar inscritos no centro de emprego, mas admitem ser difícil "arranjar emprego com o 6.º ano" de escolaridade.
António Sousa e Maria Cunha, com cerca de 70 anos e problemas de saúde, vivem numa situação diferente. Recebem um rendimento de "300 e tal euros" e pagam uma renda de "200 e tal euros" pela casa onde vivem.
António confidenciou que pediu um crédito para comprar um carro e que "o dinheiro vai todo para" a empresa que o concedeu, sobrevivendo "com ajudas".
Questionado sobre como é que paga a renda da casa, responde apenas: "aos poucos".
À semelhança de outros moradores que se queixaram de problemas de saúde causados pela falta de salubridade e predominância de pragas, António relata que entram ratos na sua casa.
"É por aqui que entram os ratos", diz, apontando para a janela.
Já Miguel Maia, de 25 anos, e Sulamita Ramos, de 22, optaram por não ocupar ilegalmente um espaço e têm passado os últimos meses a viver numa carrinha em frente à casa dos pais dele, que serve simultaneamente para pernoitar e para guardar as mercadorias do negócio de venda ambulante que levam a cabo nas feiras de Benfica e de Queluz.
Já os filhos, de sete e dois anos, dormem na casa dos pais do jovem, pois não têm condições para ficarem junto dos progenitores na viatura que lhes dá abrigo e sustenta.
O casal explica que já viveu junto dos familiares, mas devido a conflitos familiares teve de sair.
Novélio Fonseca, responsável pelos moradores da zona 3, na rua Fernanda Alves, critica ainda que há semanas em que não é feita a recolha do lixo.
Os moradores não sabem precisar quantas casas estão desocupadas no bairro, mas garantem que "são muitas" e defendem que a câmara devia atribuí-las.
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