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Da denúncia de assédio sexual ao processo disciplinar do Vaticano: quem é D. Carlos Azevedo?

Sofia Parissi 03 de junho de 2025 às 15:51

Em Roma desde 2011, Carlos Azevedo exerce as funções de delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas. Em 2013, foi suspeito de assédio sexual a membros da Igreja, mas na altura o Vaticano negou ter sido instaurado um processo disciplinar.

Nascido em Milheirós de Poiares, no município de Santa Maria da Feira, o bispo português Carlos Azevedo, de 71 anos, está desde 2011 em Roma e exerce as funções de delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas, num organismo que representa a Santa Sé e que integra a Cúria Romana [órgão administrativo da Santa Sé]. Até 2022, desempenhava funções de delegado do Conselho Pontifício para a Cultura. 

Bispo Carlos Azevedo Eduardo Martins / Sábado

Foi ordenado padre em julho de 1977 por D. António Ferreira Gomes; doutorou-se em 1986 na Faculdade de História Eclesiástica da Universidade Gregoriana, em Roma e, entre 1992 e 2001, foi presidente da direção do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica. É autor de vários trabalhos publicados em livro e organizou exposições de arte religiosa.

De acordo com site oficial do bispo português, entre 2005 e 2011, exerceu as funções de bispo-auxiliar de Lisboa, foi secretário da Conferência Episcopal Portuguesa e presidiu a Comissão Episcopal de Pastoral Social (2008-2011).

Ontem, foi notícia depois de ser alvo num processo disciplinar instaurado pelo Vaticano, por motivos que são desconhecidos, confirmou a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) à RTP. "A CEP teve conhecimento da existência de um processo disciplinar relativo ao bispo em questão, cuja competência jurídica é exclusiva da Santa Sé, tendo em conta que o bispo em causa integra um organismo da Cúria Romana", informou a CEP em declarações à RTP.

O processo foi instaurado a 20 de abril e terá sido por essa razão que o bispo não participou nas cerimónias fúnebres do Papa Francisco, no Vaticano.

Mas esta não é a primeira que o nome de Carlos Azevedo está envolto em polémicas, sendo que em 2013 foi pública a denúncia por assédio sexual a membros da Igreja. Na altura, a investigação divulgada pela revista Visão tinha por base uma queixa apresentada pelo sacerdote José Nuno Ferreira da Silva a Rino Passigato, à época representante diplomático da Santa Sé em Portugal.

Após as notícias, D. Carlos Azevedo disse não ter sido contactado pela Nunciatura Apostólica e garantiu que não tinha conhecimento de "qualquer repreensão pessoal ou processo institucional que tenha a ver com a matéria". "A Nunciatura nunca me contactou sobre esse processo, nunca me chamou a depor sobre qualquer processo, nunca nenhuma pessoa me chamou, me convocou, me repreendeu por qualquer atitude nesse sentido", afirmou em 2013, em declarações à SIC. O sacerdote José Nuno Ferreira da Silva, que foi capelão no Hospital de São João e atualmente exerce funções como capelão no Santuário de Fátima, estaria entre as alegadas vítimas e os factos apresentados remontam à década de 1980

"Vemos que o nome do bispo D. Carlos Azevedo, atualmente em Roma, está envolvido em acusações de comportamentos impróprios, não conformes com a dignidade e a responsabilidade do estado sacerdotal. Da sua veracidade não podemos nem devemos julgar apressadamente", dizia o comunicado assinado pelo padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa sobre o assunto.

Sobre as acusações, Frederico Lombard, na altura porta-voz do Vaticano, afirmou: "É uma pessoa que estimamos muito, que cumpre muito bem as suas funções no Conselho Pontifício da Cultura. Não me parece que haja um processo em curso contra ele e, portanto, consideramo-lo com pleno respeito e plena dignidade (…) Neste período, há muitos ataques e intervenções que pretendem criar confusões e turbulências na Igreja".

D. Carlos Azevedo foi chamado para delegado no Conselho Pontifício da Cultura em 2011, um ano após a denúncia. Em 2013, o bispo português era tido como possível candidato à sucessão de D. José Policarpo como Cardeal Patriarca de Lisboa, mas acabou por ser D. Manuel Clemente o escolhido para o cargo, quando já era pública a existência da denúncia.

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