Secções
Entrar

Associações educativas vão propor medidas ao Governo e discutir temas "tabu"

26 de outubro de 2019 às 22:24

Alguns destes temas são a "mudança do modelo de acesso ao Ensino Superior" e "um regime especial de aposentação" para professores.

As associações educativas apresentaram este sábado um conjunto de medidas para propor ao novo Governo e abrir a discussão sobre temas "tabu", como a "mudança do modelo de acesso ao Ensino Superior" e "um regime especial de aposentação" para professores.

Os responsáveis revelaram à Lusa algumas das sugestões que querem debater, à margem da sétima Convenção Nacional entre Federação Nacional de Educação (FNE), Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e Federação Nacional de Associações de Estudantes do Básico e Secundário (FNAEBS), que decorreu hoje em Santa Maria da Feira.

O presidente da ANDAEP, Filinto Lima, afirmou que os diretores têm um "processo limitadíssimo em relação à contratação de professores" e quer levar o assunto "para a agenda política", porque o atual método em vigor é "uma lista cega" que gradua professores com uma "nota fria e crua" com que saíram da faculdade e que "não define um bom professor".

"Devia haver outros critérios, como uma entrevista para que o diretor possa contratar professores. Os sindicatos são contra esta ideia, a contratação de professores é um tema tabu, os sindicatos não querem debater, os ministros têm receio, mas estamos numa altura em que o assunto tem de deixar de ser tabu", defendeu.

Outro tema que quer trazer para a luz do dia é o modelo de acesso ao ensino superior, mostrando incompreensão com o atual sistema em vigor que "vive à custa dos resultados dos exames -- que são os donos disto tudo" e que têm "uma ponderação muito elevada", exemplificando que um 18,2 como nota não define um futuro médico, porque este, além de boas notas, tem de "ter uma parte humana essencial à profissão".

"Focar só num número é redutor, o modelo de acesso ao ensino superior é um debate que temos de fazer. Desafio os reitores a fazê-lo ao nosso lado, que não estão nada interessados nesse debate -- eu percebo porquê --, mas não pode ser um assunto tabu. Temos de discutir. Se achamos todos que o caminho é este, temos de falar", frisou.

Filinto Lima saudou a abertura de bolsas de contratação para substituir funcionários ausentes, mas revelou que a ANDAEP quer a revisão da portaria 272 de 2017, que calcula os rácios, ou seja, o número de funcionários que cada escola deve ter, mostrando estupefação como esta não tem em conta a volumetria das escolas, que "hoje são enormes e não é por isso que há mais funcionários".

"Vamos pedir a revisão da portaria. É um pedido muito direto ao Ministro das Finanças, que hoje tomou posse. Tem de tratar da educação de forma diferente da legislatura anterior. Tem que investir mais em recursos humanos e físicos para que a escola pública assuma o seu papel de charneira, mas que pode ser potenciado tendo em conta o aumento de qualidade para o qual trabalhamos", apontou.

João Dias da Silva, secretário-geral da FNE, quer que haja respeito pelas "longas carreiras dos professores que não vêm reconhecido o direito a um regime especial de aposentação, que tenha em conta o desgaste físico e psicológico" que a profissão implica e vai pedir uma reunião ao Ministério da Educação na segunda-feira.

"Vamos levar um documento que é o roteiro para a legislatura. É um conjunto de propostas concretas sobre vários problemas que afetam a educação e devem ser resolvidos, vamos propor ao Governo o início de processos negociais em que as nossas propostas sejam ouvidas. Vamos procurar pontos de convergência porque o apelo que fazemos nesta altura é à disponibilidade do Ministério da Educação para o diálogo e concertação", indicou.

Por seu lado, Jorge Ascenção, presidente da Confap, mostrou preocupação não só com a falta de auxiliares de educação, mas com a formação durante a sua carreira, no sentido de "competências e habilitações para trabalhar com as crianças".

"Por exemplo, gestão de conflitos ou questões de personalidade, isolamento, 'bullying', como se trabalham com estas crianças. Esse caminho ainda tem de ser feito. O Governo tem a responsabilidade de pensar na continuidade e sustentabilidade do sistema educativo", apontou.

Referiu ainda que se trata de uma classe, quer docentes e auxiliares, com "responsabilidades muito importantes no desenvolvimento, educação e transmissão de valores de crianças e jovens que serão a sustentabilidade da nossa sociedade", admitindo que também a Confap vai pedir uma reunião com o ministério da Educação, na segunda-feira.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela