Sábado – Pense por si

José Pacheco Pereira
José Pacheco Pereira Professor
02 de dezembro de 2016 às 08:00

O anunciador da morte

Agora que Fidel morreu depois de Marcelo ter movido meio mundo para o visitar quando já estava quase moribundo, temo pela vida da Rainha de Inglaterra

Há uma fabulosa história de Eça de Queirós, que é um exemplo de uma forma muito peculiar de jornalismo ficcional, que conta como a "Morte", na figura de um anarquista italiano, convive com o primeiro-ministro espanhol Cánovas del Castillo, numas termas onde descansava, antes de o assassinar a tiro quando lia um jornal. Eça, que ficou muito impressionado com o assassinato e dele fez nota na sua correspondência, retrata esse convívio pacífico que antecede a morte. Agora que Fidel morreu depois de Marcelo ter movido meio mundo para o visitar quando já estava quase moribundo, temo pela vida da Rainha de Inglaterra, ou de qualquer outro político, intelectual, escritor, artista, seja lá o que for desde que seja conhecido e mais ou menos, como agora se diz, icónico, com quem o nosso Presidente queira ter uma photo oportunity. Mandela seria um caso, mas já morreu, mas mentalmente sou capaz de fazer uma lista, aliás escassa, de personagens do mesmo tipo por todo o mundo. Não é que o nosso amável Presidente, como o anarquista italiano, lhe vá dar uns tiros, mas há qualquer coisa de sinistro nestas visitas que a vetusta idade ou a doença grave tornam anunciadoras da morte. Imagino o comentário interior dos visitados "agora que vou morrer todos me querem ver…". 

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