Se algo faz mal aos mais pobres, devemos limitar ou abolir o acesso deles à fonte dos seus infortúnios. Porque os pobres, sugere o novo puritanismo, são como crianças que não entendem os males do mundo. Precisam de uma mão tutelar, e obviamente estatal, para poderem viver e crescer nos seus habitats incorrompidos
TODOS OS DIAS, um novo assalto à liberdade individual é apresentado como "benevolente" e "necessário". Não falo apenas das medidas do confinamento, que excedem o racional e o tolerável. Muito menos da tentativa neojacobina de abolir a liberdade de pensamento e de expressão em temas tão vastos como a história colonial, as questões de género e os dramas do racismo.
O demónio também está nos detalhes – e a polémica sobre as raspadinhas só aparentemente é uma questão menor. Segundo parece, os portugueses jogam como ninguém na Europa; o Governo pretende introduzir uma nova raspadinha na praça; donde, o Governo contribui para o vício e para a ruína dos mais pobres.
Aparentemente, a solução é simples: se algo faz mal aos mais pobres, devemos limitar ou abolir o acesso deles à fonte dos seus infortúnios. Porque os pobres, sugere o novo puritanismo, são como crianças que não entendem os males do mundo. Precisam de uma mão tutelar, e obviamente estatal, para poderem viver e crescer nos seus habitats incorrompidos.