Sábado – Pense por si

Maria Henrique Espada
Maria Henrique Espada
07 de outubro de 2025 às 23:00

Tanta gente a flotilhar por aí

A flotilha é símbolo e modus operandi de uma forma de fazer política que tem outros adeptos: viu-se nos que sobrepuseram a gritaria ao debate democrático.

A saga de um mês da flotilha Summud, alegadamente humanitária, cumpriu plenamente a sua missão. Do ponto de vista humanitário, era uma flotilha fake: a proclamação expressa, levar ajuda e “quebrar o cerco” de Israel, estava longe da intenção que outras palavras e gestos denunciam ser falsa. A quantidade de ajuda era pífia ao ponto de não temer o auto-ridículo (houve mesmo uns pequenos garrafões com umas caixinhas de ‘ajuda’ a serem largados ao mar) e última coisa que se pretendia era chegar a Gaza. Quanto a quebrar o cerco, aquilo para que a flotilha se preparava – ser intercetada por Israel para se poder queixar de ser intercetada por Israel – foi um sucesso. Tomem-se as atitudes dos próprios como demonstrativas: filmes declarativos a avisar “se estão a ver este vídeo é porque o meu barco foi intercetado ou atacado”, as reuniões e vídeos em espera serena e sorridente pela interceção iminente, os telemóveis à agua, tudo transmitido em direto e com coreografia preparada. E “se estão a ver este vídeo é porque fui levada contra a minha vontade para uma detenção por essas forças israelitas”, disse Mariana. Pedindo perdão pela imputação de intenções, mas não: meteu-se no barco para ser intercetada (numa demonstração involuntária mas total de confiança em Israel). É isso que justifica o mês no mar, longe desta pobre, para ela, política nacional.

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